Discute-se o uso da fórmula mire (e) veja em Grande sertão: veredas, em particular, sua ressonância temática e seus usos pragmáticos, e conclui-se que ela é central para a forma como o narrador Riobaldo comunica sua experiência passada. Em um segundo momento, sua dinâmica é comparada àquela da linguagem formular da poesia oral homérica.
Neste artigo propomos leituras do Grande Sertão: veredas, de João Guimarães Rosa, e dos poemas homéricos, mais especificamente a Ilíada, com performances dialetais diferentes. Nosso intuito será comprovar (a partir de rotacismos, apócopes, aféreses, síncopes etc.) a amplificação de sentido que advém dessas alterações fonéticas no contexto das obras em foco como um todo. Visamos ao estudo dos metaplasmos como mecanismo que flexibiliza o texto poético e que lhe faculta a dinamicidade, a espacialidade cultural e a fugacidade do oral. Com o recurso de potencializar metaplasmos, o texto ganha novos sentidos no tempo e no espaço. Recuperam-se as estratégias de oralidade do português brasileiro e, através delas, projetam-se aquelas da chamada ‘língua morta’ de Homero.
Odisseu, Dom Quixote e Riobaldo, pela sua natureza de personalidade, são existencialmente condicionados por um texto. Vivem no discurso, sendo o seu universo caracterizado por um determinado enunciado.
This paper presents as interpretation of the short-story “Famigerado” by João Guimarães Rosa (Primeiras estórias) and the Polyphemus’ episode in Homer’s Odyssey based on many common elements: the smart use of language; an adjective related to fame that occupies a central place in the story (“famigerado”; “polyphêmos”); a hospitality scene structuring the story; and the dialectic movement between violence and cunning.
No presente trabalho, discutiremos como se dá o heroísmo trágico, especificamente na obra A Ilíada, de Homero, em diálogo com o conto “A hora e a vez de Augusto Matraga”, de Guimarães Rosa. O objetivo deste estudo é pensar o herói trágico na literatura, analisando questões ontológicas do humano, como a angústia e seu temor diante do fenômeno da finitude, onde ocorre a ausculta do sagrado nas vozes dos deuses, no tempo e no mundo. O trágico será um ponto essencial a ser apresentado aqui, pois o herói é aquele que, mesmo diante do terror, onde normalmente o coração é possuído pela angústia e desespero humano, permanece diante da finitude. Deste modo, percebemos Aquiles como um herói grego clássico que se caracteriza como trágico pois enfrenta a si mesmo diante do abismo da morte, e Augusto Matraga como um herói cristão trágico, pois é aquele que caminha na trilha da conversão e nesta vereda não teme perder a própria vida. Nesta senda contemplamos um eclodir de conflitos, valores e acontecimentos poéticos. Este trabalho dialoga com autores que discutem em uma perspectiva ontológica o herói, o trágico, a finitude, como Campbell (1949), Heidegger (2010), Kierkegaard (1979), Staiger (1977), Szondi (2004) e outros.
Propõe-se, aqui, um estudo comparativo entre o romance rosiano Grande Sertão: Veredas e o poema épico homérico Ilíada. Diálogos fecundos acontecem entre obras literárias de outras culturas e épocas. Para que o fenômeno aconteça é necessário que o leitor participe de todo o processo comparativo e que aja como um leitor apto a aceitar o paralelismo proposto entre duas obras literárias. Tal paralelismo só se dá quando a enciclopédia do leitor tem instrumental para realizar a ação de leitura, o que Eco chama de competência enciclopédica. Quando uma análise comparativa acontece, leva-se em conta uma série de indagações. Na verdade, o fenômeno amplia os horizontes de leitura e demanda um estudo pormenorizado. Valer-se da literatura para refletir sobre literatura é por demais proveitoso. Perfilar Rosa e Homero enriquece o estudo de literatura sem fronteiras culturais e lingüísticas. Daí poder dizer que o Sertão e a Hélade estão próximos e que Grande Sertão: Veredas e Ilíada interrelacionam-se. O encontro das narrativas propiciou o surgimento de veredas esperadas e não esperadas, como a comparação entre o diabo e o deus grego Hades. Foram percebidos encontros estilísticos entre Rosa e Homero. Algumas veredas percorridas, outras desbravadas. No geral, a percepção de que muitas outras veredas se abriram, esperando para serem percorridas em outra oportunidade. Cada vereda surge de modo variado. Encontramo-nos, então, em uma profusão de caminhos, uns citados por Riobaldo, outros pelo aedo da Ilíada e outras tantas pelo próprio leitor.
Este estudo tem como objetivo apontar similitudes entre alguns elementos encontrados no Canto IX da Odisseia de Homero e em “Meu tio o Iauaretê”, novela de João Guimarães Rosa, publicada em 1969, na
coletânea Estas estórias. Dentre os textos teóricos utilizados, destaca-se o artigo de Ana Luiza Martins Costa, no qual é feita uma minuciosa análise do “Caderno de leitura de Homero”, caderneta que contém observações de Guimarães Rosa sobre a narrativa épica, além de o registro de passagens da
Ilíada e da Odisseia. Rosa não teria apenas lido as duas epopeias, porém as estudara com afinco. Ao longo da narrativa da novela, é possível supor que o escritor faz uma releitura de Homero, tanto em relação à “hospitalidade” do anfitrião e à bebida oferecida pelo “visitante”, como, também, à sua
selvageria e ao temor difundido por seu aspecto grotesco. Ao pensamento “bom bonito”, repetido pelo índio-onça, conjectura-se relacionar o kalòs k’agathós grego. A pureza da cachaça apreciada por Antonho