Neste artigo, elaboramos um estudo comparativo entre os contos homônimos “O espelho” de Machado de Assis e de Guimarães Rosa, trazendo para a discussão, a partir da análise, algumas considerações sobre as intrincadas visões de mundo desses autores, postas em confronto a convite do próprio Guimarães Rosa. Tal convite é percebido não só pela escolha do título de sua estória e por alusões imagéticas e textuais à obra precedente, como também devido ao emprego de técnicas narrativas orientadas para a construção de um personagem-narrador interessado em propor um ponto de vista alternativo sobre dois eixos temáticos do conto machadiano: a fragmentação do eu e sua relação com o outro.
O artigo aborda a temática do humor e da alegria em “Tutameia: terceiras estórias” em estreita conexão com o arranjo formal da obra. Matizados pelas sombras da angústia, da dormência e do trágico, ali, ambos os conceitos, alegria e humor, tendem a ser distanciados da compreensão do senso comum, despontando de uma hermenêutica inteiramente atravessada pela consciência do absurdo. Essa visão de mundo intransparente, ambígua, ao mesmo tempo melancólica e venturosa, não está na base apenas da criação da afetividade dos personagens e da atmosfera narrativa, mas, igualmente, da organização formal de toda a obra, fazendo-se notar em sua estrutura lacunosa e em seu ritmo subjetivo, estranho e desconjuntado.
Este estudo parte de uma leitura do conceito de anedota de Guimarães Rosa, bem como de seu emprego poético e hermenêutico. A análise indica que o discurso rosiano não compartilha da compostura usual das teorias científicas e filosóficas do cômico. O compromisso do autor com suas ideias é antes estético e translógico que lógico: jogada crucial cuja mira é o salto do cômico ao suprassenso.
Este trabalho tem por objetivo investigar o sentido do humor de “Aletria e hermenêutica”, primeiro prefácio de Tutaméia: terceiras estórias de Guimarães Rosa, por meio de uma abordagem imanente e intratextual. Apresenta-se, por conseguinte, uma interpretação do conceito-chave de “anedota de abstração”, de modo a refletir-se sobre algumas anedotas e, principalmente, sobre o arranjo retórico do prefácio, ao mesmo tempo chistoso e sublime.
Este artigo tem como objeto a alegria em Tutameia: terceiras estórias. É a
simpatia de João Guimarães Rosa por ela que também está em causa nas reflexões
tão fundamentais sobre o humor do primeiro prefácio, “Aletria e hermenêutica”. O
humor pode ser pensado como meio de influir a alegria tutameica e, simultaneamente,
como uma das formas em que ela se manifesta. Sob o viés do autor mineiro, a alegria
é fruto de certa hermenêutica, de um exercício de interpretação da realidade,
compreendida, por sua vez, como visceralmente contraditória. Em eterna invenção no
interior do sujeito, a alegria é empreendimento, risco, proeza. Angústia-que-ri, dá
sinal de si sempre a partir de uma profunda consciência do absurdo.
Esta tese visa a esmiudar, a partir de uma abordagem marcadamente intratextual, a questão do humor e da alegria em Tutaméia: terceiras estórias de Guimarães Rosa. No primeiro capítulo, apresentam-se considerações mais teóricas e gerais sobre o tema, que aparece, em Rosa, matizado pelas sombras da angústia, da dormência, do trágico: ambos, alegria e humor, espontam de uma hermenêutica inteiramente varada pela consciência do absurdo. No segundo capítulo, discute-se a relação entranhada da própria forma lacunar da obra com esse espírito intransparente, ao mesmo tempo melancólico e venturoso, que a constitui. No último capítulo, interpreta-se o prefácio "Aletria e hermenêutica", esquadrinhando os artifícios de composição de parte de suas anedotas, e trazendo à luz a fabulação paradoxal, chistosa e sublime do texto.
O objetivo deste trabalho é analisar a relação entre o caráter ambíguo da violência no Grande sertão: Veredas e a forma narrativa do livro. Na obra-prima rosiana, às vezes, a violência, exibida em sua fisionomia codificada e rotineira, quando não estetizada, mas, de algum modo, ainda assimilável, situa-se nas fronteiras da representabilidade. Em outros momentos, contudo, isso não acontece: a linguagem esbarra em seus próprios limites e titubeia ante uma ferocidade a tal ponto desnorteante que se apequenam melancolicamente para o narrador as possibilidades de comunicá-la. Esse desamparo lingüístico pode assumir literariamente as feições de um trauma. É dessa noção, portanto, conforme pensada a partir do século XX pela Psicanálise e pela Historiografia de que lançamos mão para analisar algumas das imagens e (des)construções formais atadas à truculência e guerra no sertão roseano. Em outras palavras, somos aqui conduzidosrumo aos limites do conceito de representação, ao tocarmos a facies