Este artigo propõe uma leitura de Tutameia, de Guimarães Rosa (1967). A hipótese inicial é que a composição deste livro seja orientada pela astúcia poética. Nesse sentido, propõe um diálogo entre os mitos gregos da astúcia – Métis, Atena, Hefesto, Hermes e Ulisses – e o pensamento de Heidegger. Trata-se de uma obra pouco estudada pela crítica, que a considera demasiadamente hermética. Neste livro, o autor se vale de todos os recursos disponíveis, da retórica à tipografia, para capturar o leitor e convocá-lo ao trabalho de lê-lo, letra por letra. Tutameia coloca questões fundamentais para Rosa, cuja obra transita na ambiguidade das regiões fronteiriças. Este estudo pretende vislumbrar o sentido da astúcia na travessia humana: uma sabedoria que supera a megera cartesiana, que reaproxima a gente de uma essência esquecida. Astúcia poética é saber que tudo é e não é. O exercício hermenêutico de leitura do livro leva a uma nova leitura do mundo, sem verdades acabadas nem soluções definitivas: a busca não tem fim, pois sempre coloca uma nova questão. A astúcia deste livro está em justamente desvelar velando, iluminar sombreando, explicar confundindo. A cada
nova investida, novos pontos são levantados, tornando mais complexa a visão que ele articula.
Este estudo parte de uma leitura do conceito de anedota de Guimarães Rosa, bem como de seu emprego poético e hermenêutico. A análise indica que o discurso rosiano não compartilha da compostura usual das teorias científicas e filosóficas do cômico. O compromisso do autor com suas ideias é antes estético e translógico que lógico: jogada crucial cuja mira é o salto do cômico ao suprassenso.
Este artigo tem como objeto a alegria em Tutameia: terceiras estórias. É a
simpatia de João Guimarães Rosa por ela que também está em causa nas reflexões
tão fundamentais sobre o humor do primeiro prefácio, “Aletria e hermenêutica”. O
humor pode ser pensado como meio de influir a alegria tutameica e, simultaneamente,
como uma das formas em que ela se manifesta. Sob o viés do autor mineiro, a alegria
é fruto de certa hermenêutica, de um exercício de interpretação da realidade,
compreendida, por sua vez, como visceralmente contraditória. Em eterna invenção no
interior do sujeito, a alegria é empreendimento, risco, proeza. Angústia-que-ri, dá
sinal de si sempre a partir de uma profunda consciência do absurdo.
Este trabalho tem por objetivo investigar o sentido do humor de “Aletria e hermenêutica”, primeiro prefácio de Tutaméia: terceiras estórias de Guimarães Rosa, por meio de uma abordagem imanente e intratextual. Apresenta-se, por conseguinte, uma interpretação do conceito-chave de “anedota de abstração”, de modo a refletir-se sobre algumas anedotas e, principalmente, sobre o arranjo retórico do prefácio, ao mesmo tempo chistoso e sublime.
Esta tese visa a esmiudar, a partir de uma abordagem marcadamente intratextual, a questão do humor e da alegria em Tutaméia: terceiras estórias de Guimarães Rosa. No primeiro capítulo, apresentam-se considerações mais teóricas e gerais sobre o tema, que aparece, em Rosa, matizado pelas sombras da angústia, da dormência, do trágico: ambos, alegria e humor, espontam de uma hermenêutica inteiramente varada pela consciência do absurdo. No segundo capítulo, discute-se a relação entranhada da própria forma lacunar da obra com esse espírito intransparente, ao mesmo tempo melancólico e venturoso, que a constitui. No último capítulo, interpreta-se o prefácio "Aletria e hermenêutica", esquadrinhando os artifícios de composição de parte de suas anedotas, e trazendo à luz a fabulação paradoxal, chistosa e sublime do texto.