Ao ler a correspondência de João Guimarães Rosa com seu tradutor francês, Jean-Jacques Villard, surpreendi-me ao descobrir que um de seus contos mais conhecidos, A terceira margem do rio, havia sido publicado na revista Planète, editada pelos pais do realismo fantástico Louis Pauwels e Jacques Bergier. A revista, criada na esteira da comoção provocada por O despertar dos mágicos, colocava-se, antes de tudo, contra o positivismo científico dominante na época e levava em conta os fenômenos paranormais, a alquimia, as capacidades inexploradas do cérebro humano. «Rien de ce qui est étrange ne nous est étranger» era o lema da revista. Nesta comunicação, gostaríamos de, por um lado, contar a estória da publicação e da tradução desse conto e, por outro, pensar esse fenômeno como integrado ao modo como as obras de Guimarães Rosa foram recebidas na França dos anos 1960.
Os anos que se seguiram à Segunda guerra mundial são marcados, nos Estados Unidos e na Europa, por um grande interesse pela América Latina, que se traduzia pela busca de conhecimento de sua cultura, principalmente no que se referia à música e à literatura. O caso da Knopf Incorporation é significativo desse movimento no universo norte-americano. Na pessoa de seus diretores, Alfred e Blanche Knopf, a editora sempre buscou novos talentos na Ásia e na Europa. Mas foi apenas com o advento da Segunda guerra mundial e com a “Política da boa vizinhança” instaurada pelo governo Roosevelt, que eles se voltam para a América Latina e passam a publicar, entre outros, Jorge Amado, Gilberto Freyre e Guimarães Rosa. No universo francês, a Gallimard cria em 1951, sob a direção de Roger Caillois, a emblemática coleção “La Croix du Sud”. Especializada na literatura latino-americana, inaugura-se com Ficções de Jorge Luis Borges e publica entre outros, nos anos subsequentes, Julio Cortázar, Alejo Carpenti
No final do século XVIII, com a consciência do relativismo cultural, a teoria da tradução começa a tomar rumos diferentes dos da tradição francesa que pensava a tradução como belle infidèle. Caminhando ao lado de uma filosofia da linguagem que vê o mundo como um texto a ser decifrado, uma nova concepção de tradução desenvolve-se. Assim, além de traduzir de uma língua para outra, o próprio mundo deveria ser traduzido e a tradução passa a ter o sentido de conhecimento. Márcio Seligmann-Silva sugere que ao invés de pensarmos no tradutor como “traidor”, devemos tomá-lo por “introdutor”, um leitor privilegiado que quer transmitir a sua Erfahrung (experiência) com o texto. Neste artigo, pretende-se discorrer sobre a concepção de tradução como transmissão de experiência. Para tanto, tecemos aproximações entre a tarefa do tradutor e a do narrador, no sentido de que Walter Benjamin desenvolve em suas teses. Em um primeiro momento, tomamos como suporte a leitura da novela "Cara de Bronze", de João Guimarães Rosa, uma vez que identificamos na trajetória do personagem Grivo um emblema do narrador e do tradutor benjaminiano. Em seguida, ampliamos a discussão em torno da tradução e convocamos para dialogar com a filosofia de Benjamin, autores como Haroldo de Campos e Vilém Flusser.
Esta comunicação tem como objetivo pensar a experiência tradutória de Ángel Crespo, tradutor de Grande sertão: veredas para o espanhol, em sua relação com a ética da tradução proposta por Antoine Berman. Ao lado disso, busca-se também dimensionar o alcance político de Gran sertón: veredas e da atuação de Crespo como diretor da Revista de Cultura Brasileña, utilizando-se das reflexões de Barthes e Didi-Huberman, acerca do potencial político da linguagem e da experiência. Para isso, tomam-se textos escritos pelo próprio tradutor e leituras críticas sobre sua tradução, são eles: a “Nota do Tradutor” (1975), que compõe o volume de Gran sertón: veredas, e o artigo “Proshomenaje introductório” (1967), ambos escritos por Crespo. E, quanto às leituras críticas, utilizam-se os artigos: “Recepción en España de Gran sertón: veredas” (2007), de Antonio Maura e “A recepção de Guimarães Rosa na Espanha: a Revista de Cultura Brasileña” (2009), de Pilar Gomes Bedate. Observa-se que Crespo decidiu-se por uma ética positiva apesar do cenário conturbado enfrentado pela Espanha durante a segunda metade do século XX.
Se considerarmos, como Walter Benjamin, que para o tradutor a primazia é dada ao original, podemos afirmar que todo original é atemporal, seja ele datado do século XVI ou XXI, e a razão é que a “tradutibilidade” do texto enquanto original é sempre um "après-coup". Ou, como diria Borges: “A verdade é que cada escritor cria os seus precursores. A sua obra modifica a nossa concepção do passado, como há de modificar o futuro.” Agamben, por sua vez, dirá que o contemporâneo é inatual, anacrônico. Não só porque o tradutor se transforma, nunca é o mesmo ontem hoje e amanhã, mas porque o texto só poderá ser considerado contemporâneo após a passagem do tempo enquanto precursor, enquanto extemporâneo. Nesse sentido, se considerarmos, por exemplo, Meu Tio o Iauaretê de João Guimarães Rosa como um texto precursor, inédito e original, seria interessante examinarmos as propostas francesas de tradução que ele induziu para apreciar em que medida o texto é um original e em que medida suas traduções man
Esta comunicação visa determinar em que medida a tradução americana de Grande sertão: veredas (1956) se corresponde com o projeto de João Guimarães Rosa, o que a recepção crítica discutia, e, ainda comenta sobre a obra americana. Observar-se-á na execução dessa comunicação que a importância da recepção estética de determinada obra, nota-se que o leitor é aquele que se guia por um comportamento estético, por exemplo, estuda-se em Grande sertão: veredas (1956) que foi conhecida como The devil to pay in the backlands (1963) probabilidades da tradução americana não incorporar o projeto poético rosiano, de maneira que se propõe investigar tais fatores da tradução, bem como a
contribuir para o escopo de trabalhos com viés estético recepcionais ao encontrarmos as leituras críticas da época quanto à versão americana. Guimarães Rosa mencionava que a tradução para o inglês americano de Grande sertão: veredas não deveria ser um "lugarcomum", e que os tradutores teriam uma tarefa de recriar a lin