Apesar de ser o último texto de ficção mais longo que Guimarães Rosa publicou em vida, o conto “Os Chapéus Transeuntes” não recebeu praticamente atenção da crítica especializada. Pretendemos, neste artigo, aventar uma interpretação da estória que compreenda sua escritura como resultado da “fricção entre biografia e ficção” (MARINHO, 2011, p. 247), demonstrando, a partir de pequenos biografemas (SOUZA, 2002), sua importância para o estudo da obra do autor mineiro.
O presente trabalho reflete sobre a questão da literariedade a partir da mística do pacto com o diabo existente na obra de João Guimarães Rosa, tendo em mente que toda grande obra de arte, quando se permite que ela se manifeste naquilo que ela é – sua poiésis –, inaugura mundo e instaura a verdade. Para tanto, discorremos sobre algumas questões primordiais ao exercício de escuta crítica: a relação intérprete–texto literário; o questionar pela linguagem narrativa; e a relação homem–real, pensadas no vigor da dialética.
Na ficção de Guimarães Rosa, a pedra surge de forma repetida e multiplicada, como imagem do relevo, como metonímia e metáfora. Neste estudo, a pedra é equiparada a um jogo, em que autor e leitor fazem um pacto. A pedra de Araçuaí, que circula no romance Grande Sertão: veredas, é um símbolo de trocas linguísticas, invenções de palavras e experiências lúdicas.