Este artigo propõe abordar a presença de uma tradição da descontinuidade dentro do romance
Lavoura arcaica (1975), de Raduan Nassar, e do conto ―A terceira margem do rio‖ (1962), de João
Guimarães Rosa. A hipótese é de que ambas as obras mimetizam o choque entre a vontade do pai e o
desejo do filho. Dessa forma, tanto Lavoura arcaica como ―A terceira margem do rio‖ podem ser
tomados como textos que tematizam uma ruptura com a tradição familiar, interrompendo com isso o
fluxo vital de uma continuação, posto que os filhos, ao se escusarem à vontade do pai, também não
deixam descendentes, tornando-se estéreis. Como consequência tem-se o desaparecimento dos traços da
paternidade que testemunhariam uma existência, uma vez que os filhos seriam aqueles que protegeriam os pais da morte. Assim, a partir do instante em que se quebra esse fluxo contínuo instala-se uma nova tradição, calcada na descontinuidade.
Este trabalho faz parte das investigações acerca das relações entre literatura brasileira e história, objeto de dois projetos de pesquisa em curso na Universidade do Estado do Rio de Janeiro. O artigo pretende estabelecer um percurso de leitura que envolve quatro autores brasileiros de épocas distintas, Machado de Assis, Guimarães Rosa, Raduan Nassar e Bernardo Carvalho. A ficção desses autores provoca a emergência de um pensamento crítico-literário renovado. Defendemos a
ideia de que há um “mundo crítico do texto” que dialoga e desconstrói o “texto crítico do mundo” afetado pelo contexto com/contra o qual se relaciona. Deste modo, interrogamos na literatura de que forma se estabelecem o pensamento histórico, social, político e filosófico, dentre outros entre-lugares discursivos.
Este trabalho visa analisar os livros Grande Sertão: Veredas, de João Guimarães Rosa, e Lavoura Arcaica, de Raduan Nassar, autores conscientes da abertura interpretativa de sua criação ficcional. A presença permanente de novas interpretações em suas obras se traduz na recriação de realidades, como se entrássemos em um labirinto em constante expansão. A mímesis ocorrida é o processo de construção do labirinto, e as direções que esse labirinto vai tomar são imprevisíveis. Para que esse evento possa ser analisado nas obras de Nassar e Rosa, é indispensável que se identifique o efeito estético da recepção proposto por Hans Robert Jauss: uma compreensão da obra ligada ao horizonte estético do leitor, que também pode ser expandido através da interação entre obra e receptor. Assim, o labirinto passa a ser construído também pelo leitor da obra, sendo a interpretação um constante devir através dessa interação
Instituto de Letras. Programa de Pós-Graduação em Letras.
Este trabalho procura acompanhar a trajetória de personagens infantis de Guimarães Rosa e de Raduan Nassar, a fim de compreender os textos literários à luz de sua época – o Brasil da segunda metade do século XX. O objetivo é analisar se, nesses autores de obras consideradas tão universais, existe a particularidade brasileira em primeiro lugar nas narrativas. Para tanto, procedeu-se aos estudos dos ritos de passagem pelos quais passam essas crianças, observando também os movimentos do narrador de aproximação ou de afastamento desses personagens. Aponta-se, por fim, as marcas do país – a condição social, a situação política do período e também os próprios costumes – como elementos importantes na constituição dessas obras.
Centro de Letras e Ciências Humanas. Programa de Pós-Graduação em Letras.
O presente estudo aborda a ficcionalidade da narrativa em primeira pessoa. O ponto de partida para a reflexão empreendida aqui é a teoria elaborada por Hamburger, para quem a primeira pessoa seria fingimento, e não ficção. Refletindo sobre tal teoria, adota-se aqui o conceito de ficção elaborado por Iser, mas com atenção também para outros teóricos. A ficção é vista como uma espécie de jogo, em que cada obra cria suas regras de acordo com a intencionalidade do autor e as possibilidades de recepção, pelo leitor. A narrativa em primeira pessoa, pelas especificidades técnicas que desenvolveu, sobretudo a partir do início do século XX, aparece como uma intensificação daqueles elementos que desvelam a natureza fictícia da obra. Aborda-se, assim, o foco narrativo e o tempo como sendo, dentre esses elementos, aqueles que exibem com maior intensidade essa natureza. Após uma visão sobre as teorias acerca da ficção, aborda-se a transformação operada nesse foco em direção a formas que se evidenciam como ficcionais. A análise de três obras representativas da moderna literatura brasileira especifica modos diversos de o ficcional revelar-se.
Atenção! Este site não hospeda os textos integrais dos registros bibliográficos aqui referenciados. Para alguns deles, no entanto, acrescentamos a opção "Visualizar/Download", que remete aos sites oficiais em que eles estão disponibilizados.