A partir da imagem da travessia de um carro de bois, imagem aparentemente simples, mas que perscruta os mistérios e desejos de outros mundos, o presente artigo realiza uma análise do conto Conversa de Bois de João Guimarães Rosa, explicitando a representação poética da separação entre a natureza e o homem subjacente ao episódio da travessia.
O presente artigo trata da questão da personificação dos animais em alguns contos de Clarice Lispector e Guimarães Rosa, analisando a importância e a finalidade desse recurso nas obras, bem como a forma como é explorado. O estudo busca também comparar os textos selecionados, apontar ou identificar as características das fábulas, tendo como base o conceito desse tipo de texto, e verificar se a forma como os autores utilizam essa estratégia influencia o fator de verossimilhança das obras. Além disso, serão abordadas a simbologia de alguns elementos encontrados nas narrativas, sua relação com o enredo e a oposição zoomorfismo X antropomorfismo como fator importante para evidenciar as características psicológicas dos personagens.
Este trabalho analisa contos de Guimarães Rosa de Sagarana (1972) e Primeiras estórias (1972) em que aparecem personagens infantis, para compreender em que medida o espaço da natureza contribui para o aprendizado no percurso de formação da criança-aprendiz. No percurso das personagens infantis, a força da natureza exerce papel fundamental: para Tiãozinho, no conto “Conversa de bois”, ela está representada na participação ativa dos bois que intercedem, magicamente, em favor do menino; em “As margens da alegria” e “Os Cimos”, as descobertas do Menino acontecem, sobretudo, pela observação da natureza que se alterna de acordo com a sensibilidade da personagem em face dos acontecimentos; nanarrativa de Brejeirinha de “Partida do audaz navegante”, a paisagem passa a integrar a história inventada pela contadora-criança. As análises são realizadas a partir de pressupostos teóricos da narrativa, da filosofia e da tradição crítica sobre Guimarães Rosa.
O presente ensaio empenha-se em descrever os procedimentos narrativos adotados por Guimarães Rosa em “Conversa de Bois”, conto de Sagarana. Trata-se de um texto que, ao explorar intensamente os recursos da prosopopeia, emprega uma técnica de exposição que sobrepõe distintos estratos narrativos, enunciados paralelamente. No desfecho do conto, contudo, observa-se a reversão simultânea de ambos os processos, de tal forma que a convergência entre os planos discursivos resulta não apenas na dissolução das personificações, mas também na dispersão da individuação do protagonista, lançado em um devir animal. Pretendemos, portanto, efetuar alguns apontamentos sobre as especificidades que envolvem o manejo da convenção letrada na escrita de Rosa.
O objetivo deste trabalho, num primeiro momento, foi extrair das 65 cartas que João Guimarães Rosa remeteu à sua tradutora para o inglês, Harriet de Onís, durante a tradução de Sagarana, as linhas gerais que configuram sua poética. Um breve panorama da gênese e da recepção deste livro, seguidos pelos comentários às mencionadas cartas, abriu nossa pesquisa. Depois disso realizamos uma análise do conto Conversa de bois, oitava narrativa de Sagarana, enriquecida pelas declarações do escritor na referida correspondência em torno do seu processo de criação. Para complementar a análise e esclarecer certas questões relativas à técnica compositiva do autor não tratadas especificamente em sua poética, recorremos a alguns conceitos-chave de pensadores de diferentes tradições que, embora desenvolvidos em épocas distintas, encontram seu lugar nesse estudo do universo heteróclito criado por JGR. Uma atenção especial foi dada ao Formalismo Russo (Roman Jakobson (1896-1982), Viktor Chklóvski (1896- 1984), Iuri Tyniánov (1894-1943) e Ossip Brik (1888-1945)) cujos preceitos muitos deles em consonância com a poética rosiana foram uma referência válida para a metodologia de nossa análise.
O presente trabalho é resultado de uma pesquisa sobre a questão animal a partir da leitura de duas narrativas de Guimarães Rosa, "O burrinho pedrês" e "Conversa de bois", publicadas em 1946, em Sagarana. A pesquisa tem como fio condutor o estudo sobre os critérios que preconizaram a cisão entre o homem e o animal. Para tanto, recorre às discussões sobre zoopoética e biopolítica propostas por Maria Esther Maciel, que identifica na racionalidade e na visão antropocêntrica uma espécie de hierarquia que permite a prática da dominação animal. Entrecruzando referências bibliográficas sobre o animal e os textos críticos sobre Guimarães Rosa, sugere-se repensar as personagens animais nessas duas narrativas de Rosa, distanciando-se de leituras alegóricas ou simbólicas
Centro de Humanidades, Departamento de Literatura, Programa de Pós-Graduação em Letras
João Guimarães Rosa definia-se como um homem do sertão e mostrava-se fortemente ligado à terra. Ao longo de sua monumental obra encontramos densos registros sobre essa ligação. Em 1965, revela em entrevista a Gunter W. Lorenz seu peculiar interesse por animais, diplomacia, religiões e idiomas. A biografia do escritor não se dissocia da obra. Dessa forma, evidencia-se em O burrinho pedrês e Conversa de bois - o tratamento conspícuo dispensado aos bichos. Assim sendo, procederemos a um exame das referidas novelas de Sagarana tendo como escopo a estreita relação do homem com a natureza e, mais detidamente, com os animais. Para tanto, utilizaremos textos teóricos que versem acerca da inserção humana em ambiente natural - entre eles os de Leonardo Boff e Nancy Mangabeira Unger - e literários - mitos gregos e latinos e lendas indígenas. Veremos ainda que as novelas selecionadas para análise apresentam crianças e animais. Esses seres interligam-se e vivenciam a atuação de forças sobre-humanas em suas vidas. Ao longo do trabalho relacionaremos ao tema de nossa pesquisa os desdobramentos da autodefinição de Rosa supramencionada em sua existência (infância em Cordisburgo, vida doméstica no Rio de Janeiro, viagens ao exterior e ao interior de Minas Gerais, passeios) e obra (novelas de Sagarana, sobretudo).
Neste trabalho, parte-se do pressuposto de que as personagens infantis, em diferentes narrativas, realizam a trajetória de formação que caracteriza sua inserção no mundo adulto. Essa caminhada para o conhecimento e a maturidade permite aproximar o conjunto de narrativas rosianas, cujo tema é o universo infantil, às narrativas denominadas de romance de formação. O objetivo é mostrar que a trajetória de aprendizado não se faz sem conflitos; o imaginário infantil entra em confronto direto com o mundo adulto. De um lado, o espaço exterior da natureza torna-se modelar, ensina lições, contribuindo para o processo de amadurecimento da personagem; de outro, o espaço interior - ora vislumbrado pela voz do narrador, ora pela voz da personagem - reflete os medos e incertezas dessa passagem. Em sua trajetória de aprendizagem, as personagens descobrem as dores da perda desde pequenos acontecimentos até a morte de entes queridos. Os ensinamentos também chegam pela natureza, que está em contato direto com as personagens, tornando-se espaço de refúgio para a dor de conhecer a existência. Para examinar tais conflitos do imaginário e a formação das personagens infantis em Rosa, foram selecionados os contos Conversa de bois, de Sagarana, Os cimos, As margens da alegria, Partida do audaz navegante, Pirlimpsiquice, Nenhum, nenhuma, de Primeiras Estórias e Campo geral, de Manuelzão e Miguilim. Observa-se, no tratamento dispensado ao mundo infantil, de Sagarana aos contos de Primeiras Estórias - obra que se constrói em narrativas curtas, propiciando certo hermetismo em muitas delas - a formação da criança, apresentada no plano da história e do discurso.
Esta pesquisa, de caráter analítico e bibliográfico, tem como foco a temática da infância e objetiva apontar algumas possibilidades de leitura do conto Conversa de bois, que integra o livro Sagarana, e da novela Campo geral/Miguilim, que integra a obra Corpo de baile, de João Guimarães Rosa, bem como da transposição fílmica de Campo Geral para o filme Mutum (2007), de Sandra Kogut. Portanto, a presente dissertação atém-se à práxis da leitura literária, articulada às teorias sobre a recepção de textos literários de Hans Robert Jauss, Wolfgang Iser, Vincent Jouve, Umberto Eco e Mikhail Bakhtin, à leitura analíticainterpretativa dos referidos textos rosianos. E, ainda, a pesquisa visa o estudo do conceito sociológico de infância, advindo da tradição europeia, respaldada nos autores Elizabeth Badinter e Philippe Ariès, e no contexto cultural brasileiro em Gilberto Freyre, e ainda, analisa-se o rito precoce de passagem de menino a homem de Tiãozinho e Miguilim personagens de Guimarães Rosa , tendo por base os pressupostos teóricos de Mircea Eliade. Finalmente, respaldando-se nas teorias de leitura/recepção do primeiro capítulo, nas concepções sociológicas sobre o tema infância do segundo capítulo, bem como na técnica narrativa do cinema de David Wark Griffith, analisa-se como os temas abordados por Guimarães Rosa em Campo Geral, são retomados pela perspectiva da linguagem cinematográfica por Sandra Kogut, no filme Mutum, ou seja, no último capítulo deste estudo, analisa-se como é captada a configuração da infância no referido filme. Em síntese, objetivase analisar a temática infância no conto Conversa de bois e na novela Campo Geral/Miguilim a partir da perspectiva da teoria da recepção, da perspectiva sociológica do conceito de infância, bem como a forma como esta temática é retomada pela cineasta Sandra Kogut no filme Mutum.
Pretendo apresentar a pesquisa que estou desenvolvendo sobre a questão animal em duas narrativas de Guimarães Rosa: “O burrinho pedrês” e “Conversa de bois”, publicadas em Sagarana. Em ambas, prevalece o ponto de vista dos animais sobre o mundo e sobre si mesmos. Nesse sentido, por meio da composição da interioridade de personagens animais e também da valorização de diferentes vozes discursivas, as duas narrativas despertam uma reflexão sobre a problematização das categorias de “humanidade” e “animalidade”, estabelecidas pela ciência e pela filosofia ocidentais. Portanto, a partir do estudo sobre a construção da escrita de Guimarães Rosa, proponho uma investigação sobre a questão animal emerge nas histórias selecionadas para o corpus dessa pesquisa. Para tanto, busco um diálogo com os textos de Maria Esther Maciel, bem como de Derrida, Montaigne e Jakob Von Uexkull, reconhecendo suas diferenças teóricas e considerando as contribuições que possam sustentar outras formas de pensar o animal, sobretudo na cultura do sertão roseano. Dessa forma, procuro evidenciar que a literatura em Sagarana “abala” a noção de “humanidade” como algo que se afasta da condição animal.
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