Em Tutaméia, Guimarães Rosa cria um prefácio em que predominam piadas que têm como assunto a figura do bêbado. Mas, muito além de uma simples antologia de anedotas, o que o autor propõe em Nós, os temulentos, é uma tentativa de compreensão do drama da existência humana, aproximando-se do leitor e convidando-o a adentrarem, juntos, nessa questão transcendente. A máscara do temulento não se restringe a Chico, personagem do prefácio, mas se estende a outros personagens da obra, que compartilham de uma observação marginal, de uma dupla visão da realidade.
Este artigo reflete sobre o encontro entre o conto A menina de lá de João Guimarães Rosa e o aluno, leitor no contexto escolar brasileiro. Repensando a prática da leitura baseando-se na Conotação como instrumento para a interpretação de textos literários e dissipando o mito da dificuldade ou incompreensão desse tipo de escrita, propõe-se um mapeamento dos termos essenciais para a compreensão do todo textual visando questionar se a conotação favorece a compreensão do conto e se fomenta o entendimento de outros textos desenvolvendo a crítica e a reflexão.
Tutaméia Terceiras Estórias é a obra de Guimarães Rosa que mais dá mostras da preocupação do escritor com a materialidade do livro e com os processos de apreensão da leitura. O recurso mais explorado para isso foi o uso excessivo do paratexto, que inscreve um espaço intermediário entre o livro e o leitor, sugerindo a ele que reflita sobre o tempo da produção literária. Seguindo essas pistas sobre a prática da escrita, propomos neste estudo a reflexão sobre os procedimentos de composição do manuscrito literário e seu espelhamento em problemas narrativos propostos ao leitor nos textos Desenredo e Sobre a escova e a dúvida.
Esta pesquisa tem o objetivo de investigar a leitura como tarefa interpretativa e ato performático, à luz das teorias de leitura e leitor de Iser e dos estudos de Zumthor sobre leitor, corpo e voz. A reflexão sobre a categoria narrativa leitor terá por corpus de análise o conto Meu tio o Iauaretê, de Guimarães Rosa. Narrativa que leva a palavra ao limite da não-palavra, por meio de grunhidos, onomatopéias e outros conjuntos sonoros, que são presenças vocais embora não lingüísticas. Tal desarticulação cria uma linguagem-onça, fazendo da narrativa um espaço de metamorfose seja do narrador e do interlocutor, no plano da história, seja do autor e do leitor implícito, no plano do discurso. Abrem-se para o leitor empírico, então, três possibilidades de papéis na sua interação com o texto: a do interlocutor ou ficção do leitor, inscrito na própria história; a do leitor implícito na sua ação de preenchimento dos vazios do texto e a do leitor-performer em ato de imersão multisensorial no corpo a corpo com essa escritura vocalizada