É bastante usual, em Literatura, uma obra literária retomar algo de outras que a precederam.
Estabelecer um diálogo entre vários textos foi praticamente o que constituiu a condição de existência do texto literário. Não foram poucos os teóricos que se dedicaram a tecer comentários sobre aspectos intertextuais entre os mais diversos autores. No contexto pós-moderno, o ato intertextual parece ter sido levado às últimas consequências, pois se nota que as relações entre determinados textos atingiram um alto grau de evidenciação. Neste trabalho, analisamos as reescrituras do conto roseano Sarapalha, através dos textos de Amador Ribeiro Neto (Caso na Roça), Bernardo Ajzenberg (O Vapor da Pedra) e Geraldo Maciel (Os Primos), reunidos no livro Quartas Histórias, organizado por Rinaldo de Fernandes. Mantendo a estrutura de contos, os autores citados apresentam suas recriações do texto do escritor mineiro, sempre de forma redimensionalizada, ora se aproximando mais do original, ora modificando-o radicalmente, constituindo um ato intertextual paródico.
Neste artigo, estudaremos as relações intertextuais que ocorrem no conto ?Desenredo?, de João Guimarães Rosa e Finnegans Wake, de James Joyce, O vermelho e o negro, de Stendhal, Iracema, de José de Alencar, textos bíblicos e a mitologia.
O ato de ilustrar é, também, o ato de interpretar e reescrever e, por isso, é uma forma de tornar o discurso polifônico e híbrido, dada à abertura de significação que as imagens possibilitam. E quando essas imagens se originam da leitura e do estudo do romance Grande Sertão: veredas, de Guimarães Rosa, a intertextualidade se faz presente e as travessias entre os significados se multiplicam. Tecer uma dessas travessias é, pois, a proposta deste trabalho que tem como foco ilustrações do livro Imagens do Grande Sertão, do artista plástico mineiro Arlindo Daibert (1998). Cinco das 72 imagens da obra são aqui discutidas, considerando o conceito de intertextualidade segundo perspectiva de Bonnici (2009) e, ainda, tendo por base autores como Souza (1999; 2002), que elabora considerações sobre a crítica literária hoje; Guimarães (1998), que trata da obra de Daibert (1998); e Pereira (2009), no que se refere à ilustração. Nesse diálogo entre artes plásticas e literatura, busca-se, portanto, perceber algumas das travessias interpretativas pelas quais o sertão flui.
"A hora e vez de Augusto Matraga", de Guimarães Rosa, foi desde o primeiro momento uma das mais aplaudidas narrativas de Sagarana (1946). Rinaldo de Fernandes, no conto "Sariema", que consta do livro O perfume de Roberta (Rio de Janeiro: Garamond, 2005), faz uma reescritura da novela famosa do autor mineiro, reformulando, com significativas mudanças, o sentido da escritura primeira.
Mais do que meros contadores de histórias ou estórias, os grandes escritores são capazes de criar universos ficcionais particulares, nos quais as mínimas partes se inter-relacionam dentro de um todo poético articulado. Nesse sentido, todos os elementos constituintes de um enredo combinam-se organicamente de tal modo que, por meio de cada um é possível ver representado o discurso maior pretendido pelo autor, embora somente na complementaridade de um com o outro se possa realmente materializar a totalidade do tecido. Em outras palavras, quando um escritor elabora seu texto, ele está ao mesmo tempo criando um universo particular – porque tudo naquela tessitura se combina de forma muito específica – e geral – na medida em que existe um princípio regente o qual se manifestará em qualquer outro texto produzido por ele. Fosse diferente, bastaria ao escritor (e ao leitor) apenas um único objeto artístico, já que qualquer outro diria exatamente aquilo que um primeiro já teria revelado. Por extensão, do mesmo modo que um conto pode interagir com toda a ficção narrativa que compõe a obra de um artista, dentro dele todas as suas partes estão conectadas numa espécie de jogo metonímico. Partindo, então, da premissa de que todo texto literário é merecedor de uma leitura singularizante, ainda que ele, obviamente, se insira no todo de um projeto estético, optamos por trabalhar em contos homônimos – “O espelho” – de Machado de Assis e de Guimarães Rosa – seus aspectos imagético-simbólicos, dando um destaque especial, sobretudo, para o objeto-tema escolhido por seus autores.
O trabalho investiga o tema da criação artística em contos brasileiros do século XX por meio da retomada da figura mítica da fiandeira e também indaga de que maneira tal diálogo intertextual com o mito pode ampliar as possibilidades de leitura dos textos em análise. Para tratar tal questão, o recorte apoia-se em narrativas em que a imagem mítica da tecelã é reelaborada como criadora de textos, de receitas culinárias, de tecidos artísticos urdidos em teares modernos, ainda que em constante diálogo com o mito. A pesquisa busca revelar, em um primeiro momento, uma reatualização do mito das tecedeiras em narrativas específicas da literatura brasileira, a saber: A Moça Tecelã (2009), de Marina Colasanti, Desenredo e A vela ao diabo (2001), de Guimarães Rosa, Colheita (1997), de Nélida Pinõn, Penélope (1998) e Ponto de Crochê (2009), de Dalton Trevisan. Por meio da análise comparativa, pretendemos mapear os ecos míticos e intertextuais que dispõem esses textos numa expressiva teia (temático-formal), pois todas as narrativas selecionadas discutem o ato criativo e as referências à tecelagem, embora respondam de maneiras diferentes a essas questões.
Esta dissertação se propõe a analisar alguns aspectos atinentes à relação intertextual que se dá
entre os romances Grande sertão: veredas (1956), de João Guimarães Rosa, e Nhô
Guimarães (2006), de Aleilton Fonseca, sobretudo no que tange aos elementos de composição
utilizados nas suas narrativas, tendo como elo o contexto sertanejo. A análise partiu de uma
noção de intertextualidade, atribuída por Júlia Kristeva (1974) a partir do conceito de
dialogismo bakhtiniano. Assim, buscou-se analisar, primeiramente, os sentidos atribuídos à
palavra sertão no decorrer do tempo e com a invenção de suas imagens a partir de obras como
a do autor mineiro – que, por sua vez, também constrói um diálogo intertextual com Os
sertões (1902), de Euclides da Cunha – além do romance contemporâneo do escritor baiano,
Aleilton Fonseca, que não somente retoma o sertão ficcional como contexto para seu
romance, mas que também cria intertextualmente o próprio Guimarães Rosa como
personagem de sua ficção. Logo, em seguida, alguns aspectos de composição narrativa dos
dois romances foram tomados para a sua descrição e discussão, como a “voz” sertaneja, a
criação de um relato memorialístico, a inventividade da palavra literária, além do aspecto
“autorreflexivo” e pós-moderno do romance de Aleilton Fonseca. Como traço de destaque nos
dois romances, pode-se dizer que se trata de narrativas de misturas de técnicas e de gêneros
próprios da tradição e da modernidade, situação que demonstra a hibridez e a ambivalência de
seus discursos, além de confirmar o aspecto de “mobilidade”, “ambiguidade” e “pluralidade”
que boa parte da crítica rosiana atribui a sua obra. Já o romance Nhô Guimarães, além de
recriação “estilística” de alguns aspectos de composição da narrativa de Guimarães Rosa,
também apresenta traços que situam essa produção dentro do que alguns teóricos e críticos
estão denominando de narrativa “pós-moderna”, devido ao seu aspecto “autorreflexivo” e de
“metaficção historiográfica”, dados não somente pela incorporação de elementos biográficos
do autor mineiro no enredo de seu romance, mas também pela própria recriação estilística de
elementos e cenas do Grande sertão: veredas.
Em várias de suas entrevistas ao longo do tempo, Mia Couto tem admitido ser o projeto artístico de Rosa seu expoente estético e poético. Nesse momento, surge a nossa indagação de até que ponto vai o limite da influência. Dessa maneira, nossa proposta de trabalho é estabelecer uma análise comparativista entre o conto A terceira margem do rio,do escritor brasileiro Guimarães Rosa, e Nas águas do tempo, do escritor moçambicano Mia Couto. Em ambos os contos as personagens não são nominadas, sendo o conto de Rosa composto pelo pai, mãe, irmã, irmão e o narrador-personagem; já o de Couto é composto pelo avô, neto e a mãe. Os contextos de produção literária de Guimarães Rosa e Mia Couto são muito diferentes, sendo que Couto toma “emprestado” a possibilidade de (re)criação da língua pela veia poética em prosa, já que, após a independência a República Moçambicana adota a Língua Portuguesa como idioma oficial. Assim, os neologismos e inserções de palavras em banto são tentativas de apropriar-se