Faculdade de Letras, Departamento de Letras Vernáculas
Esta Dissertação desenvolve um estudo sobre a correlação do mítico, do simbólico e do imaginário na constituição da narrativa de Primeiras estórias, de João Guimarães Rosa, tomando por base os contos Pirlimpsiquice, O Espelho, Darandina, A Terceira Margem do Rio, As Margens da Alegria e Os Cimos. Estabelece-se nela a arte como manifestação do real. Defende-se a idéia de que Primeiras estórias possui um princípio interpretativo inerente a estrutura da obra. As reflexões giram em torno das conceituações sobre a consagração do tempo e do espaço, iniciação, imanência, transcendência e transdescendência, Homo Viator (Religiosus/Trans/humano), personagente, psiquiartista, elementos apresentados de modo original na obra de Guimarães Rosa. A palavra chave deste trabalho é travessia, sinônimo de metamorfose, de conversão, mostrando que, por isso, a narrativa está em metamorfose constante, convertendo em símbolo todos os seus elementos. Mostra, ainda, que a força mágica do narrar é o agente ficcional de coesão no qual o mítico e o simbólico se integram na invenção rosiana da realidade. A verdade poética de Primeiras estórias é uma manifestação mítica, simbólica e imaginária. O real é a interação dialética desses três pontos que convergem e convertem o narrar rosiano em narrativa mitopoética: ela não imita a realidade, mas manifesta-a. A mímesis não é imitação, mas concriatividade do mítico, do simbólico e do imginário na constituição do real.
O objetivo deste trabalho foi mostrar a partir da metáfora do espelho caracterísicas pertinentes ao duplo em duas personagens literárias As personagens centrais que permitiram o exame das formas de manifestação do duplo perencem aos contos chamados O espelho um de Machado de Assis, autor do século XIX e outro de Guimarães Rosa, do século XX Para o estudo da questão do duplo apoiamos-nos nas idéias de vários teóricos A análise dos dois contos em relação á duplicidade baseou-se sobretudo nos princípios de polifonia e dialogia de Bakhtin Do ponto de vista da duplicidade na narrativa, a teoria de Piglia ofereceu especialmente elementos para o estudo do conto de Machado de Assis enquanto o de Guimarães Rosa foi analisado sob o olhar ensaístico tendo por base a teoria de Adorno a fim de relacionar o caráter prismático do ensaio com a questão do duplo. Esta pesquisa procurou desenvolver uma proposa de leitura nova para um tema ainda pouco esudado, portanto aberto a outras reflexões e aprofundamentos.
Em nossa Dissertação de Mestrado, estudaremos, sobretudo, Meu tio o iauaretê, de Estas estórias, e, ainda, O espelho, de Primeiras estórias, de João Guimarães Rosa. Estes são os objetivos gerais do presente trabalho. Em relação ao primeiro relato (uma narrativa mais longa), temos como propósito específico efetuar a sua análise por meio da teoria do gênero fantástico desenvolvida por Tzvetan Todorov, a qual leva em conta os gêneros estranho e maravilhoso. Em relação ao segundo (uma narrativa bem menos extensa), o nosso intento específico é a sua abordagem a partir do maravilhoso. Também lançaremos mão de conceitos da psicologia analítica de Carl Gustav Jung, na leitura de ambos os textos: noções como inconsciente coletivo, arquétipo, anima, animus, alma do mato (para Meu tio o iauaretê), si-mesmo ou self, persona e sombra (para O espelho). Não pretendemos, todavia, transformar os personagens das duas obras em casos clínicos, mas mostrar como aspectos da teorização junguiana, tal como ocorre com a de Freud, servem para iluminar a produção literária de um modo geral. Dois detalhes que funcionam como fatores de ligação das duas narrativas de Rosa são as presenças da figura da onça e do espelho nas páginas de ambas.
Programa de Pós-graduação em Performance Cultural (FCS)
A presente dissertação procura estudar a relação entre os conceitos de narrativa e perfomance a partir do fenômeno da contação de histórias aplicada em três contos de Guimarães Rosa: ‘As Margens da Alegria’, ‘O Espelho’ e ‘A Terceira Margem do Rio’, da obra ‘Primeiras Estórias’ (1988). Metodologicamente a pesquisa constituiu um corpus referenciado na performance narrativa do próprio autor em conjunto com outras duas performers e com registro audiovisual, de modo a refletir na análise e na materialização do ato-narrativo.
Neste trabalho é propostauma leitura dos contos Nenhum, nenhuma e O espelho, presentes no livro Primeiras Estórias,de Guimarães Rosa. As duas estóriassão analisadasinserindo-as no contexto da modernidade, tendo como tema principal a crise do sujeito. É abordada como se dá,nas duas narrativas,a noção de que o sujeito é, na verdade, fragmentado,e também a busca e a impossibilidade de atribuir sentido ao eu. No conto Nenhum, nenhuma, considerandoa importância do passado para a constituição do sujeito, a impossibilidade de reconstituí-lo por meio da memória acaba resultando em uma crise de identidade, marcada no conto pela oscilação constante do foco narrativo e pela interrogação acerca do eu que se apresenta na narrativa. Já no conto O espelho, a crise de identidade se inicia quando o narrador-personagem, diante de um espelho, vê, no lugar de seu reflexo, a imagem de uma espécie de monstro, que ele percebe se tratar dele mesmo. Reconhecendo, então, a existência de um eu que se esconde por detrás das aparências, o narrador se propõe a realizar um experimento, buscando, assim, alcançar essa parte oculta de si.
Programa de Pós - Graduação em Estudos de Linguagem
A presente dissertação desenvolve uma reflexão sobre o funcionamento da linguagem em um conjunto de contos produzidos por Guimarães Rosa, na perspectiva de uma potencial subversão do real. Para essa abordagem, consideramos que o modo de expressão dos contos em análise transgride e questiona a lógica do real, na medida em que instauram novas leis para o encaminhamento das ações nas narrativas em destaque. Os contos selecionados para análise são “O burrinho Pedrês”, de Sagarana (1946), “O espelho”, de Primeiras Estórias (1962), e “Meu tio o Iauaretê”, de Estas Estórias (1969). Como aparato teórico para potencializar a reflexão, discutiremos a teoria clássica sobre o fantástico, proposta principalmente por Tzvetan Todorov (1970) e as considerações de David Roas em seu estudo A ameaça do Fantástico (2014), em que questiona e problematiza as proposições de Todorov; para a abordagem da produção de Rosa será tomada também a crítica de Antonio Candido sobre o "super-regionalismo" em Guimarães Rosa (1987).
A Teoria e a Crítica da Literatura usualmente comparam a atividade dos textos poéticos àquela dos espelhos, considerando-os cópia ou refração de uma realidade dada. Desse modo, a fim de que se identifique como as representações se efetivam, parte-se de uma investigação da constituição do real e da dimensão que a linguagem ocupa em tal constituição. Este estudo visa a refletir sobre o conceito e o funcionamento da mímesis, a representação da realidade elaborada por textos literários, a partir de trechos e de obras em que o objeto espelho figura. Assim, especial referência se faz ao trabalho dos filósofos empiristas ingleses concretamente, a Locke, Berkeley e Hume; às investigações filológicas de Auerbach; às teorias da ficção de Bakhtin, Iser e Lima; e aos contos homônimos O Espelho de Machado de Assis e de Guimarães Rosa.
Esta dissertação propõe-se a analisar ressonâncias da filosofia de Søren Kierkegaard na literatura de João Guimarães Rosa, abordagem ainda carente na fortuna crítica do literato. A hipótese da plausibilidade de aproximação entre os dois autores pauta-se por registros de Rosa em cartas e entrevistas a respeito de seu interesse pessoal por Kierkegaard, também demonstrado pela presença de obras do filósofo e de um livro sobre a língua dinamarquesa em sua biblioteca pessoal. Somado a isso, são dois os pontos fulcrais para a aproximação de ambos: a preocupação com o Indivíduo e a importância que a religião possui tanto em suas vidas quanto para a elaboração de suas obras. A partir disso, optou-se pela análise de cinco narrativas de Primeiras estórias, a saber: As margens da alegria, Os cimos, A menina de lá, A terceira margem do rio e O espelho, nas quais foram analisados os protagonistas com o objetivo de demonstrar em que medida cada um representaria os estágios da existência teorizados pelo pensador dinamarquês: estético, ético e religioso. Após a análise, identificou-se o Menino de As margens da alegria e Os cimos, juntamente de Nhinhinha de A menina de lá, com o esteta kierkegaardiano. Ao estágio ético, pertence o narrador de A terceira margem do rio, e ao religioso pertencem tanto o pai de A terceira margem do rio quanto o narrador de O espelho. Sobre essa última personagem, vale a ressalva de que, dentre os elencados para esse trabalho, é o único que percorre os três estágios, de modo a completar seu movimento de subjetivação existencial.
A escritura rosiana, em geral, é marcada pela criação de um universo mágico e enigmático. Guimarães Rosa manipula a linguagem com tal intensidade que suas estórias causam um impacto intenso no leitor, tornando-se capazes de provocar nele o desejo de, também, percorrer esse espaço fantástico. A travessia desse universo pode ser feita por vários caminhos. Nesta pesquisa, em particular, escolhemos as bifurcações oferecidas pelo livro Primeiras estórias. Publicado em 1962, o livro reúne vinte e um contos, vistos aqui como relatos de experiências de vida. A pesquisa inicia-se por uma análise do conto O espelho, décimo primeiro conto do livro. A partir daí, ressalta-se a etimologia da palavra espelho e seu significado filosófico, a revelação de uma verdadeira identidade por meio da busca interior e das contradições sugeridas no confronto entre o homem e o menino. Da consciência dessas contradições, nasce uma terceira possibilidade de busca existencial. Em seguida, procura-se mostrar como alguns aspectos do conto central aparecem refletidos nas outras vinte estórias do livro: a insistência em usar o universo infantil, a convivência entre opostos, o surgimento de uma terceira dimensão, além da necessidade de dar o salto mortal para transcender e vislumbrar uma terceira parcela da realidade. Após a aproximação entre os contos, explora-se o conceito de palavra com função correspondente à do espelho. Assim, levantamos a hipótese de um trabalho feito com a linguagem que desencadeia especulações e especularidades sobre uma realidade que não é vista com os olhos do corpo, criando uma escritura que se transforma em espaço onde transcender é possível. Na conclusão, observamos como a tese defendida pelo narrador de O espelho aparece comprovada nas experiências individuais de personagens considerados excluídos. Na intersecção das situações narradas podemos compreender como os paradoxos podem levar à percepção de uma realidade que absorve questões espirituais.
A criança e a primeiridade das estórias rosianas é uma proposta de se traçar caminhos para o projeto po-ético-existencial de Guimarães Rosa, fazendo emergir a criança como imagem seminal e propulsora. As estórias têm a primeiridade como característica fundadora e fundante. São criadoras de mundos e, em mesma medida, apontam para o ver o mundo como a primeira vez, são convite à vivência demoníacointuitiva da vida. Essa chave de leitura estende-se a toda a obra rosiana, em seu compromisso com a metamorfose do homem, sua transcendência e a ruptura contida na primeira vez. O trabalho aponta para “O espelho” e “A hora e vez de Augusto Matraga” como mitos fundadores rosianos, representantes do magistério da busca pela hora e vez, pela vez primeira, pela criança original. Dessa forma, segue-se a abordagem de estórias que fazem emergir as crianças rosianas, crianças originais em proposta de metamorfose. No entanto, para explicitarmos que rosianamente a infância é a origem da vida, não como marco cronológico e sim como princípio ontológico, e que, portanto, pode presidir ao início, ao meio e ao fim de uma existência, também velhos-meninos participam desse trabalho. A importância da criança no universo rosiano é ponto de início e culminância do presente estudo. As estórias são propostas de Coragem e Alegria como autoafirmação existencial do homem e suscitam a questão seminal: “Você chegou a existir?” (ROSA, 1988: 72).