Seja Bem Vindo, Thiago!
DIVERSIDADES
Era manhã da primeira segunda-feira do mês de março. Esse não era um começo de ano normal para Thiago, que estava prestes a pisar na Universidade de São Paulo, a melhor do país, pela primeira vez depois de meses estudando para o vestibular. Os sentimentos se misturavam dentro dele, a felicidade e o orgulho de ser o primeiro integrante da família a entrar na faculdade se confundiam com a ansiedade e o medo por não saber o que esperar dessa nova fase de sua vida.
Entrar na universidade não foi uma tarefa nada fácil. Thiago cresceu em uma comunidade periférica de São Paulo, onde a possibilidade do estudo era atropelada pela urgência do trabalho. Assim, percebeu que sua realidade era totalmente diferente das pessoas com quem passou a conviver.
A rotina de preparação para o vestibular no ano anterior foi extremamente cansativa e desafiadora. Thiago só não sabia que, mais difícil do que entrar, seria conseguir sair formado da universidade.
O primeiro choque de realidade veio antes mesmo de chegar no primeiro dia de aula. A longa jornada até o campus fez Thiago se deparar que a rotina que enfrentaria pelos próximos anos seria extremamente difícil e exaustiva, mas a empolgação diante de uma nova vida e das experiências que poderia ter tomaram destaque em sua mente, esvaindo a realidade do trajeto.
Depois de passar horas no transporte público e alguns minutos procurando seu instituto dentro do imenso campus da USP, Thiago finalmente pôde respirar aliviado, ele havia chegado em sua sala de aula. Mas, ao olhar ao redor, observando seus colegas de classe, percebeu o abismo desigual em que estava inserido. Brancos e ricos, essas eram as características que todos os alunos tinham em comum naquela sala, com a exceção apenas dele mesmo. Além da cor e da classe social, Thiago também percebeu um ridículo padrão estético que a maioria dos alunos seguiam. O sentimento? de que tudo conspirava para que ele não se sentisse parte daquele universo.
Acostumado a ver a riqueza somente representada em novelas da televisão, Thiago agora iria conviver com ela diariamente, bem de perto, ao mesmo tempo que absolutamente distante. A diferente realidade daquelas pessoas mexeu com a cabeça de Thiago. Como elas poderiam estar séculos à sua frente simplesmente por ter dinheiro e uma cor diferente da sua? A sensação de revolta foi inevitável, o choque foi entristecedor. Thiago só conseguia lembrar de sua família, de seus amigos e das pessoas de sua comunidade.
“Cadê a diversidade nesse lugar?” e “Eu sou o único aqui?” eram algumas das perguntas que passavam por sua cabeça repetidas vezes enquanto o professor fazia a apresentação clichê da disciplina.
Apesar das faixas de boas vindas espalhadas pelo campus, Thiago não se sentia bem-vindo ali. Percebeu que, apesar de pública, a universidade tinha um público alvo bem específico, e ele não fazia parte. Revoltado, mas jamais intimidado, Thiago decidiu que não iria se encaixar nos padrões existentes naquele ambiente, mas que o ambiente se adaptaria à ele. Respirou fundo e se sentiu pronto o suficiente para encarar “os melhores anos de sua vida”.
Capa: Foto Marcos Santos/USP Imagens
Beatriz Haddad
Fernanda Zibordi
Júlia Freitas
Renan Affonso
Revisão: Gabriel Alves e Lara Soares