São Paulo (AUN - USP) - A literatura e as artes como um todo questionam o mundo que as cerca e pretendem mudar suas mazelas através de pequenos atos. A professora Viviana Bosi, do Departamento de Teoria Literária e Literatura Comparada da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH/USP), faz parte da linha de pesquisa “Literatura e Sociedade” e estuda as peculiaridades da poesia brasileira nos anos 1970 e os impasses da arte produzida na época, buscando resgatar uma parte um tanto quanto esquecida da nossa história.
Há vários grupos de estudo dentro da grande área de pesquisa de “Literatura e Sociedade”, cada um com seus orientandos trabalhando de modo individual e independente. São diferentes abordagens dentro dos temas escolhidos: as pesquisas procuram trazer as questões exclusivas de determinados escritores e do período em que escreviam. O bom autor tem peculiaridades que transcendem a sua época e é neste ponto que se foca a literatura: a busca pelo diferente, pelo exclusivo, os panoramas gerais são perigosos.
Quando começou as pesquisas sobre a poesia brasileira dos anos 1970, a professora queria conhecer poetas pouco lidos e pouco valorizados da época. Ela buscava compreender a virada dos anos 70: sua ampla produção cultural e a conseqüência disso para os dias de hoje. Percebeu que este grupo tinha impasses muito maiores e saiu do estudo geral daquele período para aprofundar-se em revistas produzidas por artistas como instrumento de resistência política.
Seus estudos buscam compreender os dilemas desse grupo e como os poetas tentavam exprimir a realidade daqueles tempos sombrios. As revistas de poesia e arte expressavam utopias políticas dos anos 1970: o sonho de liberdades democráticas que 1968 parecia ter enterrado. Nos anos 1980, somem as ideologias, característica que tornou a expressão “década perdida”, geralmente usada pela economia, perfeitamente cabível à produção cultural.
Viviana participa ainda do corpo editorial do periódico Literatura e Sociedade, uma revista do departamento do qual faz parte. Sua atuação consiste em ajudar na escolha do tema central de cada número, convidar colegas que queiram escrever e receber os artigos prontos. Há alguns desafios nesta área: um exemplo foi o número sobre Literatura Contemporânea. Os editores queriam uma imagem da artista Mira Schendel para a capa: era ideal para falar dos limites da arte e da experimentação que a desafia, mas tiveram problemas com os direitos autorais.
O último número foi da revista foi sobre literatura comparada: as relações que envolvem a literatura e as outras artes. É uma revista acadêmica, distribuída de forma interna, com artigos científicos de pesquisadores de várias universidades. O Centro de Aperfeiçoamento Profissional (CAPs), órgão que disponibiliza verba para a publicação, incentiva as revistas a uma interação, para que cada revista tenha artigos de professores de diferentes universidades.
A professora Viviana escreve mais artigos para revistas de fora da USP, devido a essa política dos órgãos financiadores. Seu objetivo é dar visibilidade a grandes talentos da poesia brasileira produzida durante o período do regime militar, que não obtiveram visibilidade ou reconhecimento e foram enterrados pelos anos 1980.