ISSN 2359-5191

20/06/2008 - Ano: 41 - Edição Nº: 58 - Saúde - Faculdade de Ciências Farmacêuticas
USP terá nanotecnologia no tratamento de câncer de pulmão

São Paulo (AUN - USP) - A professora Nádia Araci Bou-Chacra, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) da USP, viaja ao Canadá em julho para trazer para a USP a nanotecnologia de ponta no tratamento de câncer de pulmão. Além disso, a pesquisadora tem, em processo de patente, o projeto de uma nanopartícula que aumenta a eficácia dos colírios comuns. Seu próximo passo é desenvolver um colírio com nanoestruturas para pacientes de glaucoma.

O efeito desejado pela nanotecnologia é que, no caso dos medicamentos, eles sejam mais eficazes, agindo especificamente onde são necessários. Não será preciso, então, utilizar grandes quantidades de fármacos, já que eles serão otimizados em um alvo. “Esse medicamento é inteligente. No colírio comum, o princípio ativo não tem nenhum mecanismo que crie afinidade entre ele e a mucosa do olho; já no colírio com nanotecnologia, a nanocápsula carreia o fármaco até o problema”, explica Nádia.

A pesquisadora esclarece que as substâncias estudadas em nanotecnologia não são novas; elas já existem na natureza, mas têm comportamentos diferentes quando utilizadas em escala nanométrica – um nanômetro é a bilionésima parte do metro, ou seja, um milímetro é um milhão de vezes maior que o nanômetro. O trabalho dos pesquisadores é estudar esse comportamento para fazer combinações entre as substâncias e garantir resultados mais objetivos. “Não é inovação radical; é incremental, de desenvolvimento e melhoria do que já existe”, afirma a professora.

A nanopartícula desenvolvida na FCF-USP consiste em uma cápsula preenchida com um óleo (estrutura muito comum na criação de nanopartículas). Junto ao óleo está o princípio ativo, o antiinflamatório, e em torno da cápsula existe uma camada de quitosana e algumas substâncias antibióticas. A quitosana é uma fibra que traz inteligência à nanocápsula: por ter carga elétrica positiva, ela tem afinidade com a mucosa do olho, que é carregada negativamente. Assim, o medicamento se liga à mucosa, permitindo a atuação do antibiótico (que está em volta da cápsula) e do antiinflamatório, quando essa estrutura se rompe. Por suas propriedades antiinflamatórias e antibióticas, a nanoestrutura é indicada compor colírios que tratam a conjuntivite, por exemplo.

Como têm comportamento diferente, é necessário estudar com muito cuidado os efeitos colaterais das nanopartículas. Quando o medicamento é injetável, a cautela deve ser ainda maior, porque ele cai na corrente sangüínea e tem acesso a outros órgãos. A estrutura deve ser metabolizada, ou seja, transformada, aproveitada e eliminada pelo corpo. No caso do colírio, depois que a partícula perde seu efeito porque foi trabalhada pelo organismo, ela é eliminada pelo canal lacrimal. Os efeitos adversos dos medicamentos nanoestruturados, mesmo que ocorram, acontecem em proporções pequenas porque a quantidade de medicamento é menor. “Mas nunca é demais estudar segurança”, ressalva Nádia.

O projeto de pesquisa da professora está evoluindo para um colírio para glaucoma, doença caracterizada pelo aumento da pressão intra-ocular. Os pacientes dependem, para o resto da vida, de colírios que controlem a pressão do olho. No lugar de antiinflamatórios e antibióticos, a nanopartícula fixaria um anti-hipertensivo ao globo ocular. A proposta de Nádia é estudar por quanto tempo o medicamento permanece nos olhos e, a partir desse conhecimento, desenvolver um colírio que os pacientes não precisam aplicar tantas vezes por dia. “Para uma pessoa que faz isso a vida inteira, é um alívio significativo poder aplicá-lo uma vez por semana, por exemplo”, afirma a professora.

Esse projeto, no entanto, terá que esperar um semestre. Isso porque Nádia foi aceita em um estágio pós-doutoral de seis meses na Universidade de Alberta, Canadá. Com um professor alemão, a pesquisadora vai estudar como a nanotecnologia de ponta pode ajudar no tratamento do câncer de pulmão. Segundo ela, existem 30 000 novos casos desse tipo de câncer por ano no Brasil. A tecnologia desenvolvida lá é um exemplo a ser seguido pela USP a partir desse intercâmbio de pesquisadores.

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