São Paulo (AUN - USP) - Em um contexto de desconfiança mundial nos biocombustíveis, devido à alta no preço dos alimentos, a fabricação de biodiesel através de algas marinhas se mostra uma solução com alto potencial. Segundo o professor Eurico de Oliveira, do Instituto de Biociências da USP, a produção em grande escala é teoricamente viável e no futuro ela pode representar uma realidade.
As perspectivas de produção são boas, com vários fatores contando a favor. As algas não dependem, por exemplo, de terrenos de agricultura para serem cultivadas, podendo a produção ser feita, inclusive, em zonas áridas. Como plantas produtoras primárias, ou seja, que realizam fotossíntese e absorvem o gás carbônico da atmosfera, elas são uma cultura que ajuda no combate ao aquecimento global. Também levam vantagem quanto às plantas terrestres, já que as algas apresentam maior eficiência fotossintética do que os vegetais superiores.
Além disso, não concorrem com a produção alimentícia, já que são uma alternativa à soja, ao girassol e ao milho. Segundo Oliveira, esse processo é possível porque algumas microalgas produzem lipídios (moléculas orgânicas que armazenam energia), que podem ser usados na produção de biocombustível. Como toda biomassa, também podem ser fermentadas para a produção de metanol e algumas delas acumulam quantidades significativas de hidrocarbonetos podendo ser quimicamente transformadas em gasolina e querosene.
Mas há um problema que ainda impede a produção comercial: um gargalo tecnológico que torna a cultura de algas marinhas em larga escala muito custosa. Mesmo assim, há uma vantagem extraordinária na produtividade: em um hectare semeado com algas pode-se produzir 100.000 litros de óleo, enquanto que na mesma superfície de soja extraem-se apenas 400 litros.
Essas perspectivas não são novas. Já em 1950, cientistas descobriram que algumas linhagens de algas tinham um alto teor de óleo que poderiam ser facilmente convertidas em combustível. Hoje em dia, pesquisas genéticas prometem aumentar cada vez mais a produtividade dessas plantas. Modificando as algas será possível produzir um rendimento de 70% de óleo em comparação com o 20% das algas não alteradas geneticamente. São poucas as fontes que se aproximam desse potencial produtivo.