ISSN 2359-5191

13/11/2008 - Ano: 41 - Edição Nº: 124 - Meio Ambiente - Instituto Oceanográfico
Banho de Sangue na Dinamarca mata cerca de 2 mil baleias por ano

São Paulo (AUN - USP) -Um ritual conhecido como Faroese, realizado todos os anos nas Ilhas Faroe, Dinamarca, tem como cultura a caça de baleias-piloto. Ao avistarem um cardume de baleias, os habitantes das ilhas enviam uma mensagem de rádio para a comunidade costeira, para que a caça seja preparada. Barcos cercam o cardume, e, com remos e pedras batidos na água, encurralam as baleias para a praia, onde os animais encalham. Logo mais, as baleias são mortas com um corte no pescoço, que faz toda a água da costa ficar vermelha, tornando o ritual conhecido como Banho de Sangue pelos estrangeiros. Para os faroenses, matar baleias-piloto representa uma transição para a vida adulta: é quando os rapazes se tornam homens.

“É um espetáculo de horrores, eles abrem o pescoço dos animais de fora a fora e os deixam agonizando na beira da praia, onde as pessoas ficam aplaudindo”, diz o advogado da Sea Shepherd do Brasil, organização que se dedica na proteção da vida marinha. Marcos de Oliveira, do Laboratório de Biologia da Conservação dos Cetáceos e palestrante da Semana de Oceanografia da USP, coloca o costume das ilhas Faroe e a caça como uma das principais ameaças às baleias, juntamente com a captura acidental e a destruição dos habitats. Explica que as águas das Ilhas Faroe são jurisdicionais e a ciência não responde se a morte das baleias é considerável, fatores que impedem uma ação efetiva contra o ritual. As Ilhas Faroe são um território autônomo da Dinamarca desde 1948, não aderidos à União Européia. Por conta disso, as leis de regulamentação de caça às baleias estabelecidas na Europa não cabem às ilhas.

Imagens chocantes do ritual de caça, onde aparecia o mar de sangue, fotos de cortes abertos em centenas de baleias e ataques com facas e golpes de zarpão foram exibidas na televisão em maio de 1984, causando grande alvoroço entre os ecologistas da época. Autoridades internacionais foram pressionadas a tomarem providências e regulamentações. Foram estipuladas novas regras para que o abate fosse menos doloroso. Além disso, ficou proibida a caça nas ilhas que já tivessem carne estocada o suficiente.

Em 1986, o governo das Ilhas Faroe reagiu, criando um estudo especializado sobre as baleias-piloto que habitavam o Atlântico Norte, tendo como objetivo provar que a caça não trazia riscos de extinção à espécie. Biólogos de diversas nações, como escandinavos, franceses, ingleses e espanhóis participaram das pesquisas, feitas durante dois anos. O estudo mostrou que há cerca de 100 mil baleias-piloto nos mares faroenses, e a caçada abate dois mil indivíduos, ou seja, 2% do total. A análise também diz que um menor número de baleias está sendo morta: por volta da década de 40, 4325 baleias eram abatidas; nos últimos 10 anos o número abaixou para cerca de 1400 baleias por ano. Com esses dados, o governo defende-se alegando que os prejuízos à espécie são mínimos se comparados à matança de animais em outros países, e que, devido ao solo rochoso e pouco produtivo, a carne de baleia seria uma das únicas fontes de vitamina A e D da população. Outro argumento de defesa da caça liberal às baleias-piloto é o ritual ser parte da cultura dos habitantes: ossos encontrados em sítios arqueológicos mostram que desde a época em que os antigos vikings chegaram às ilhas, o ritual de matança de baleias-piloto era executado. A prova disso é o primeiro mapa das Ilhas, a Carta Marina, que mostra em suas ilustrações o corte de uma baleia.

Diversas petições inglesas, entre elas uma organização online chamada Petitionsite, vão contra esses argumentos. Alegam que a caça esportiva, cultural em diversos outros países, foi abandonada e é considerada ilegal na maioria da Europa. Também vão contra a afirmação de que os habitantes usam a carne de baleia para subsistência, pois alegam que grande parte da carne é jogada fora ou apodrece.

Apesar das críticas, os recursos naturais das Ilhas Faroe realmente são escassos, sendo as gramíneas utilizadas para pasto de ovelhas. Porém, a sustentabilidade é possível através do mar: a pesca é responsável por cerca de 98% das exportações e em seus mares são encontradas diversas espécies como arinza, bacalhau, argentina-dourada, faneca da Noruega, alabote, tamboril, peixe vermelho, pechelim e até salmão, que representa um setor considerável da balança comercial. Esses dados questionam a afirmação do governo de que a carne de baleia seria uma das únicas fontes de vitamina A e D.

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