São Paulo (AUN - USP) -O professor Valdemar W. Setzer defendeu uma postura que vai na contra-mão da euforia tecnológica que tem dominado a todos. Em sua palestra sobre televisão e educação, proferida recentemente no Instituto de Matemática e Estatística da USP (IME), durante a Semana de Licenciatura (Selic) promovida pelos alunos de graduação do IME. Setzer, professor do IME, defendeu o completo afastamento dos jovens das TV's, computadores e videogames, sob pena das crianças desperdiçarem a sua infância.
Estudos neurofisiológicos demonstraram que a quantidade de ondas cerebrais emitidas pelo cérebro de um indivíduo que assiste à televisão é semelhante à quantidade de ondas em um indivíduo em estado de semi-hipnose. Seu estado de consciência é de desatenção e sonolência – a tendência do telespectador é "afundar no sofá" indefinidamente.
Segundo o professor, esse estado é mais facilmente observável e mais danoso em crianças. Quando assistem TV, elas chegam tão facilmente a esse estágio que é possível observá-lo nos seus rostos. Os olhos vidrados. A boca semi-aberta. A respiração lenta. Para pais atarefados parece ótimo, mas essa calma que a TV provoca tem seu preço.
Quando assistimos TV, os únicos sentidos ativos são visão e audição e, mesmo assim, parcialmente ativos. O olho "desliga" ao ser inundado por inúmeras imagens e constantes alterações visuais e passa a um estado de desatenção. Na TV, para que prestemos atenção, é necessário um show de pirotecnia. Motivo pelo qual, as câmeras de uma gravação ao vivo ou de um programa de entrevistas nunca param de trocar de ângulo, mesmo que nada de novo aconteça de fato, é preciso manter as imagens em movimento.
O som, por sua vez, é de uma fonte única e estática. O ouvido nunca tem que se adaptar a alturas, timbres ou fontes diferentes. Com a TV, os sentidos estão tão excessivamente confortáveis que ficam mal acostumados.
Segundo Setzer, o resultado dessas horas confortáveis no sofá são alguns dos mais sérios problemas de saúde modernos. A inatividade física gera, em último momento, obesidade. E a inatividade mental, provocada pela sucessão de imagens por vezes incompreensíveis, gera um indivíduo acostumado a não compreender, a não contestar. Corpos e mentes passivos.
Participaram da Selic, professores da rede pública estadual, profissionais da área de educação e professores do próprio Instituto. Por uma semana, as atenções se voltaram para o aperfeiçoamento do ensino à Matemática, mas muito além de ficar restrito ao ensino dessa disciplina especifica, o evento debateu também a educação como um todo, refletindo sobre a sociedade na qual esta se insere, momento em que essa palestra se encaixa perfeitamente.