ISSN 2359-5191

05/06/2009 - Ano: 42 - Edição Nº: 26 - Sociedade - Instituto de Psicologia
Arte ajuda a superar trauma

São Paulo (AUN - USP) - A arte é uma forma de expurgar a memória ruim e livrar a testemunha de eventos traumáticos da eterna repetição do trauma vivido. Além disso, a duração da obra de arte faz dela uma forma de relembrar as atrocidades cometidas e evitar que esses atos sejam esquecidos. Ao contrário da arte convencional, que não consegue retratar a dor dos sobreviventes sem fazê-los reviver seu trauma, a arte da guerra e de outros eventos traumáticos foge do elemento representacional e busca novas formas de expressão que evitam transformar feitos terríveis em simples prazer estético.

O professor Paulo Endo, do Instituto de Psicologia da USP, compara a fixação do trauma com uma flecha que penetra parcialmente na carne: depois que uma parte do objeto entrou, a parte de fora da flecha se une ao corpo atingido e toda sua extensão dói. Uma pessoa que passa por um evento traumático, como ir a uma guerra ou sofrer tortura, agrega o trauma à sua vida e tem que conviver com a eternidade da repetição do momento traumático, que reaparece em sonhos e bloqueia o despertar do desejo e a vontade de viver.

Por outro lado, o testemunho é uma obrigação moral do sobrevivente, pois ele sabe que deve falar pelos que morreram. O professor Márcio Seligmann Silva, do Instituto de Estudos da Linguagem da Unicamp, usa como exemplo os testemunhos do Holocausto que apareceram no fim dos anos 90 quando as testemunhas estavam perto da morte e decidiram partilhar seu sofrimento e sua experiência com seus familiares. Essa atitude manteve a memória do Holocausto viva e trouxe as barbaridades cometidas nos campos de concentração à tona.

Os horrores da Segunda Guerra Mundial e a violência praticada em regimes militares na América do Sul são exemplos de eventos traumáticos representados pela arte. Na Alemanha, foram feitas obras de arte integradas à paisagem cotidiana para evitar que os crimes realizados na Segunda Guerra sejam esquecidos. Uma dessas obras é “The missing house”, de Christian Boltanski. Ela é apenas um espaço vazio em meio a construções em um bairro de Berlim, mas representa um prédio que lá havia e que foi atingido por uma bomba durante a guerra. Chistian fez uma placa com o nome das vítimas e a colocou no lugar onde havia estado a construção.

No cinema, o filme “Shoah”, dirigido por Claude Lanzmann apresenta depoimentos de sobreviventes, do Holocausto, de ex-nazistas e testemunhas e recria o horror da guerra em relatos que totalizam quase nove horas.

Os países da América Latina que viveram forte repressão durante regimes militares usam fotos de desaparecidos da época para relembrar o sofrimento das famílias que ficaram sem seus parentes. No Brasil, fotos de desaparecidos foram coletadas e expostas em galerias de arte pela artista plástica Rosangela Rennó. As figuras, que durante os governos repressivos representavam a luta por direitos políticos hoje são formas de manter viva a lembrança dos tempos de sofrimento e evitar que eles voltem a acontecer.

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