ISSN 2359-5191

16/04/2010 - Ano: 43 - Edição Nº: 06 - Sociedade - Museu de Arte Contemporânea
Exposição discute o papel do museu durante a ditadura militar

São Paulo (AUN - USP) - Discussões sobre a ditadura militar brasileira levantam diversas questões ainda não resolvidas. As incertezas sobre como lidar com este passado se manifestam, por exemplo, nos atuais questionamentos à Lei de Anistia de 1979 e na polêmica sobre a abertura dos arquivos do regime. É neste contexto que o Museu de Arte Contemporânea (MAC) da USP realiza, até 1º de agosto, a mostra “Entre Atos 1964-1968”, parte de uma série de três exposições que abarcam este período delicado de nossa história.

As mostras foram pensadas a partir do projeto desenvolvido pela Divisão de Pesquisa em Arte, Teoria e Crítica do Museu (da qual fazem parte as três curadoras, Ana Magalhães, Cristina Freire e Helouise Costa) sobre a constituição do acervo da instituição, fundada um ano antes do golpe militar. Mesmo num contexto de duras restrições à produção artística, o MAC teve liberdade para incentivar o livre pensamento: “o Museu representou um espaço de experimentação ativo, de troca, de intercâmbio entre os artistas. Nesse momento, o acervo do MAC cresceu na direção de constituir uma coleção importante de arte contemporânea”, explica Ana Magalhães.

O período abordado pela primeira mostra é delimitado por dois marcos fortes: o golpe militar, em 1964, e o AI-5, em 1968. Ainda que sob uma diversidade de formas e abordagens, o conjunto de obras exibidas é permeado por certa atmosfera comum: “fica muito evidente na exposição esse ambiente do período, que é diverso, às vezes contraditório, às vezes paradoxal”, ressalta Ana. Pelas características específicas do acervo, as curadoras sentiram que as categorias tradicionais da história da arte não seriam capazes de abarcá-lo de forma satisfatória. Assim, a exposição foi dividida em três módulos que possibilitam uma interpretação mais aberta: Figura, Gesto e Plano.

O primeiro módulo, Figura, é o de conteúdo mais explicitamente político. A recorrência das cores sombrias, da imagem do rosto magro e sofrido e das cenas de tortura remete diretamente ao momento conturbado presenciado pelos artistas. A “Série do Futebol” de José Roberto Aguilar, por exemplo, contrapõe a alegria típica de um ano de Copa do Mundo ao momento negro da política: jogadores sem rosto e bandeiras do Brasil, manchadas de preto e vermelho, fazem uma crítica social contundente.

Já o módulo Gesto lida com a chamada arte informal. Nesta série de obras abstratas, tons sombrios aparecem em camadas espessas e pinceladas fortes, indicando justamente o gesto intenso do artista. O caráter contestador ainda é explícito em obras como “Estático Semovente XIII”, de Waldemar da Costa, na qual faixas com as cores da bandeira brasileira parecem prestes a serem engolidas por uma grande mancha negra.

Por fim, o módulo Plano reflete os desdobramentos do abstracionismo geométrico no Brasil, com destaque para as séries de Arnaldo Ferrari e Mira Schendel. Ana explica que o fato de lidarem fortemente com a questão formal não os dissocia do contexto político: “esse tipo de linguagem artística foi associada à ideia de um campo totalmente autônomo da arte, que nada tem a ver com a vida. Mas o debate não é só estético. É um projeto maior, um projeto utópico, de transformação da vida”.

Mais do que um estudo histórico, a reflexão sobre os projetos destes artistas remete diretamente ao momento atual. “Me parece que nós vivemos, do ponto de vista social, político, econômico, uma situação que nos remete ao ambiente das décadas de 60 e 70”, destaca Ana. “Há uma tendência a estruturas mais conservadoras, a métodos cada vez mais rígidos de controle social. Ao mesmo tempo em que vivemos um processo de globalização, as fronteiras se erguem de forma mais evidente do que nunca”.

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