São Paulo (AUN - USP) - No Brasil são vendidas, anualmente, cerca de 200 mil lâmpadas fluorescentes. Seu descarte representa um verdadeiro desafio - caso quebrem, as lâmpadas liberam no ambiente pó fosfórico contendo mercúrio que, altamente contaminante, pode penetrar na cadeia alimentar. "Por isso elas não devem ser tratadas como lixo comum", defende Helaine Menegon, uma das sócias da Tramppo - gestão sustentável de lâmpadas. Presente no último seminário “Reciclagem e valorização de resíduos sólidos", promovido pela Escola Politécnica da USP (Poli-USP), a Tramppo faz a descontaminação desses materiais, permitindo que eles voltem à cadeia produtiva. Criada no Centro Incubador de Empresas Tecnológicas (CIETEC) da USP, a empresa recebe lâmpadas de diversas instituições, evitando que sejam enviadas para aterros sanitários.
Para que uma lâmpada fluorescente funcione, dois elementos são essenciais: o mercúrio, material condutor, e o pó fosfórico. Esse último se encarrega de tornar visível ao olho humano a energia liberada pelos elétrons de mercúrio. Com o tempo, no entanto, os dois materiais acabam se mesclando. O resultado é que, caso a lâmpada quebre, ambos são liberados no ambiente, podendo ser consumidos por animais ou contaminar lençóis freáticos. "O mercúrio vai direto para o sistema nervoso central, e por ser um elemento condutor, interfere nas sinapses do cérebro, causando demência ou mesmo a morte", esclarece Helaine.
Por isso, antes do descarte, é preciso que as lâmpadas sejam descontaminadas: o pó fosfórico com mercúrio passa por um processo de sublimação (mudança do estado sólido para o gasoso), que permite sua separação. Segundo Helaine, "é essa a grande sacada da Tramppo - nós poderíamos usar um processo químico, mas isso garante que a gente vai ter o elemento preservado no final, pronto para voltar para a cadeia produtiva". A cada mil lâmpadas são recuperados de 5 a 6 quilos de pó fosfórico, 8 mm de mercúrio e 270 Kg de vidro: " O bacana de tudo isso é que todos os produtos voltam para a indústria, diminuindo o volume de lixo", comemora.
Apesar da importância, esse processo ainda é bastante incipiente: no Brasil, apenas 3% das lâmpadas são descontaminadas, porcentagem pífia se comparada aos 83% da Holanda, ou aos 25% dos Estados Unidos.
Além disso, Helaine conta que, por serem muitas vezes descartadas junto com o lixo comum, as lâmpadas quebram, ou chegam à Tramppo acompanhadas por surpresas desagradáveis: "Eu já encontrei no meio das lâmpadas, quando as recebo, escorpiões, aranhas... já peguei lâmpadas de hospital que vieram com um saco de agulhas. E isso pode contaminar nossos funcionários. Já encontramos até mesmo cobras". Para evitar que isso ocorra, a empresa criou, recentemente, um container de armazenagem, com capacidade para oitenta lâmpadas: "Se a empresa que nos contrata quer fazer uma gestão sustentável, tem de armazenar com muito cuidado", sentencia.