ISSN 2359-5191

01/12/2010 - Ano: 43 - Edição Nº: 110 - Saúde - Universidade de São Paulo
Estudo mostra vulnerabilidade da mulher ao HIV

São Paulo (AUN - USP) - Observa-se mundialmente uma feminização da epidemia da aids. No Brasil, a razão entre homens e mulheres com a doença diminuiu consideravelmente. Enquanto em 1986 a cada 15 casos de aids em homens havia um caso em mulheres, hoje a cada 15 casos em homens há 10 em mulheres. A incidência entre mulheres acima de 50 anos triplicou na última década. Assim, com o intuito de tratar da questão da vulnerabilidade feminina ao HIV, Maria Helena Franco desenvolveu sua dissertação de Mestrado sobre o tema Mulheres e HIV : Um estudo de recepção Radiofônica.

A mídia durante um bom tempo se ausentou sobre a disseminação do vírus nas mulheres e negligenciou a existência da transmissão por via heterossexual. Enquanto se falava apenas em “grupos de risco”, as mulheres não se viram na possibilidade de se infectar pelo HIV, pois acreditavam que a epidemia atingia apenas o “outro” (homossexuias, drogados, prostitutas). Uma das indagações da pesquisadora era saber que sentidos os programas e ações de enfrentamento da expansão da epidemia do HIV produzem entre as mulheres.

Para isso durante um mês, foram transmitidos episódios do programa radiofônico “Silvia e Você” na rádio comunitária de Heliópolis. O programa trazia temas relacionados a sexualidade, recusa masculina ao uso da camisinha, suposta segurança que o casamento oferece frente a epidemia , a falta de conversa sobre o tema. Além disso, a radialista Silvia dava o seu testemunho de como havia sido infectada pelo HIV. A pesquisadora, portanto, entrevistou mulheres que ouviram o programa radiofônico para analisar a questão da vulnerabilidade feminina.

As entrevistadas contaram que tinham dificuldade em conversar sobre o tema com o parceiro. Não apenas por vergonha, mas principalmente porque as conversas abririam espaço para o questionamento da fidelidade e confiança. Segundo elas, a argumentação masculina para não conversar sobre o HIV se sustenta basicamente na alegação de não terem o vírus ( mesmo que desconheçam sua situação sorológica) e de que não são infiéis.

No Brasil, é bom ressaltar que a infecção pelo HIV entre mulheres decorre prioritariamente de relações sexuais desprotegidas com parceiro do sexo masculino,envolvido com a mulher em uma relação estável. A confiança, portanto, que supostamente afastariam qualquer ameaça de contaminação pelo HIV, funciona como uma ilusória garantia, pois constitui um dos fatores que contribuem para o aumento da possibilidade de infecção pelo HIV entre mulheres. Frases como “ não sou do grupo de risco”, “não é meu caso”, “não tenho necessidade de me prevenir” ainda aparecem nos discursos.

Algumas mulheres, no entanto , contaram que impõem o preservativo mesmo sob resistência como norma para manter a relação com seus parceiros, pressupondo que a infidelidade é uma possibilidade real.

Helena retrata que transformações relacionadas a sexualidade e prevenção ao HIV são anda muito permeáveis ao desejo dos homens. Entretanto, observa que o programa radiofônico fez com que as entrevistadas conversassem sobre as questões trazidas nos episódios e tivessem a percepção da possibilidade real do HIV “adentrar” ou “estar dentro de casa”.

Assim, há ainda muitos tabus a serem quebrados, para que o assunto esteja em todo lugar, mas o enfoque na comunicação com temas do cotidiano sem cair no modelo linear do “faça isso, não faça aquilo” possibilitam deslocamentos, aberturas de sentidos, assim como ocorreu no programa, e tem muito a contribuir com o campo da prevenção ao HIV.

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