ISSN 2359-5191

21/09/2011 - Ano: 44 - Edição Nº: 87 - Educação - Faculdade de Educação
Chile pode ser exemplo para o Brasil, segundo ativistas e intelectuais
Seminário na FE discute a transformação social em curso no Chile

São Paulo (AUN - USP) - O Chile vive agora uma época de efervescência social, com o povo nas ruas pedindo reformas no sistema educacional do país. O tema tem tudo a ver com o que a rede Emancipa de cursinhos populares acredita, e não por acaso foi escolhido para ser debatido em uma das últimas mesas da série de seminários Emancipa "Às portas da universidade - alternativas de acesso". A vereadora de Porto Alegre Fernanda Melanionha, o professor de filosofia da FFLCH-USP Vladimir Safatle e a coordenadora da rede Emancipa Bianca Boggiani Cruz compuseram a mesa, que discutiu a importância dos eventos no país e fez comparações com a realidade brasileira.

Fernanda Melanionha esteve no Chile durante o período das manifestações, que segundo ela, ainda estão acontecendo. A vereadora considera que vivemos em um momento de agitação popular no mundo inteiro: “O ano de 2011 começou com outros ares, vivenciamos a primeira revolução democrática de nossa geração (no Egito). As manifestações se seguiram na Tunísia e em outros países árabes, e as manifestações chilenas estão nesse contexto”. Fernanda conta que no Chile, devido a manifestações anteriores, os estudantes já têm consciência de seu poder de mudança, se reconhecendo como sujeitos históricos e enxergando a necessidade de ir para as ruas conquistar seus direitos, “e mais repressão gera mais revolta. Neste ano, por exemplo, foram mais de mil escolas e universidades ocupadas pelos estudantes reivindicando educação pública e gratuita para todos”. Bianca Boggiani, do Emancipa, concorda e acrescenta: “No Brasil, os jovens estão começando a protestar. Embora nos encontremos num momento diferente do do Chile, as pessoas estão indignadas com o que estão vendo”.

O Chile foi e ainda é uma espécie de laboratório na América Latina (para o bem e para o mal, como enfatizou o professor Vladimir Safatle), e várias medidas privatizantes na educação foram aplicadas durante e após a ditadura Pinochet. Lá, o salário mínimo é menor do que a mensalidade das universidades. Tal fato gera indignação em todos os setores da sociedade, pois como explica Safatle, a educação é uma demanda que dificilmente é rechaçada pela população, é um discurso ao qual ninguém se opõe, e por isso mesmo é interessante para todos. Ao mesmo tempo, ela não é um problema pequeno e não há comum acordo sobre o que deve ser feito, ou mesmo sobre o que é educação. Para o professor, é interessante o fato das manifestações não serem organizadas por um partido político, mas virem de forma espontânea e com uma demanda muito clara.

Safatle destacou ainda que a defesa pela educação pública tem a particularidade de ser um dos procesos econômicos mais libertários, pois o dinheiro anteriormente usado para o pagamento da mensalidade é “livrado” e destinado a outro setor, movimentando a economia do país. “E quando é o Estado que toma conta da educação, fica mais fácil para o povo protestar. O sistema privado é imune às pressões”, o que legitima ainda mais as manifestações chilenas.

Para Bianca Boggiani Cruz, a rede Emancipa se relaciona intrinsicamente com as manifestações, mas na realidade brasileira. A rede de cursinhos populares é um movimento social pela democratização da educação, que atende uma grande demanda de jovens que lutam pelo seu acesso à universidade, direito fundamental que garante um futuro melhor nos mais diversos aspectos. E tanto o Emancipa quanto os estudantes do Chile concordam que lutam por uma causa maior: “não é uma luta por educação, é uma luta por um novo projeto de sociedade”.

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