ISSN 2359-5191

20/12/2011 - Ano: 44 - Edição Nº: 119 - Sociedade - Instituto de Psicologia
Palavras de ordem não substituem diálogo, afirma docente do IP

São Paulo (AUN - USP) - José Leon Crochík, do Departamento da Aprendizagem, do Desenvolvimento e da Personalidade do Instituto de Psicologia (IP) da USP, tem ressalvas na hora de emitir sua opinião sobre a atual polêmica envolvendo o convênio firmado entre a reitoria e a Polícia Militar. Docente e pesquisador que toma a Teoria Crítica da Sociedade como referência, afirma que a questão não se resume a ter ou não a polícia militar na Cidade Universitária, da mesma forma que julga que a questão não envolve unicamente esses policiais, mas o pensamento social sobre a segurança. O sistema judiciário, do qual a polícia faz parte, também não pode ser pensado isoladamente.

Para ele, para que o debate seja oxigenado, é preciso haver diálogo sobre quais são as possibilidades de atuação da PM e qual é a sua atuação efetiva em nossa sociedade e não somente no campus universitário. A polícia é tão violenta quanto a sociedade permite que ela seja, de acordo com seus interesses.

Para compreender melhor o ponto de vista de Crochík, é preciso compreender mais profundamente sua referência teórica. A Teoria Crítica da Sociedade recusa a dicotomia entre sujeito e objeto, evidenciando sua mútua determinação, o que não quer dizer que não exista determinação objetiva dos fenômenos. Assim, a compreensão do que significa a presença ou não da PM no campus não pode ocorrer sem uma Teoria da Sociedade.

O contexto de nascimento da Teoria Crítica fez com que ela se voltasse para as questões da sua época: por que a música, antes libertadora, estava se tornando gradualmente mais massificada? Por que alguns países são mais propensos a aceitarem um regime autoritário do que outros? O que os dados estatísticos não revelam quando procuram reduzir fenômenos a fatos empíricos? Em meio a esses questionamentos, os pesquisadores dessa área do conhecimento na atualidade se debruçam sobre fenômenos atuais utilizando métodos de análise similares aos desenvolvidos por pensadores como Theodor Adorno, Walter Benjamin e Max Horkheimer. O professor Crochík, por exemplo, pesquisa temas como preconceito, educação inclusiva e tecnologia educacional sob a perspectiva da Teoria Crítica da Sociedade.

Para o professor, a presença ou ausência da PM não pode ser debatida por meio de palavras de ordem como “fora PM!” ou “segurança já!”. Ele defende que não se pode tomar uma posição sem o devido esclarecimento do porquê defendemos um determinado ponto de vista em detrimento do outro: só se pode ter clareza de sua opinião se se tiver também clareza daquilo que a determinou.

Além disso, para Crochík, as pessoas tendem a desenvolver um “pensamento em bloco”. Este conceito é fundamental para a Teoria Crítica, que diz respeito à cadeia de pensamentos que ligaria certos conceitos automaticamente a outros, sendo que essa ligação nem sempre é natural, mas frequentemente é tornada natural. Um exemplo típico de pensamento em bloco seria afirmar que todo estudante contrário à presença da PM no campus faz uso de substâncias controladas pelo Estado e os favoráveis a essa presença não o fazem.

Para os autores da Teoria Crítica, não foi apenas no stalinismo e no nazi-fascismo que o autoritarismo se manifestou: também na democracia, tal como ela é realizada hoje em dia, ele encontra seu espaço. Compreender o homem como um ser dotado de liberdade e como um ser cuja força de vontade é soberana sobre seu destino pode ser uma forma de alienação, que é produto do autoritarismo que impede o homem de se reconhecer naquilo que todos produzem, produção essa que deveria possibilitar, numa sociedade justa, a liberdade de todos.

Segundo Crochík, na atual sociedade, não é tão simples observar os limites sociais à liberdade possível de cada um. Essa tendência é acentuada, inclusive, por determinadas compreensões do psiquismo humano, que o enxergam por meio do chamado “psicologismo”: forma de compreender o indivíduo que o absolutiza, deixando de levar em conta a sociedade na qual está inserido. A personalização de processos sociais é decorrência disso: o indivíduo é compreendido como o que passa a determinar unilateralmente a sociedade, fazendo com que a crítica se reduza a ações individuais pontuais (o que pode ser observado nas palavras de ordem “fora Rodas”). Não se deve, entretanto, desconsiderar o indivíduo: isso seria cair em um extremo igualmente perigoso, o “sociologismo”, que seria compreender o homem apenas como um autômato determinado pelas condições ambientais, sendo que a subjetividade também existe, apesar de ter determinação objetiva.

Para o professor, o grande entrave nos debates sobre a Polícia Militar é o fato de as pessoas reduzirem-na ao que ela é, tirando-a do contexto histórico no qual ela está inserida e, portanto, impossibilitando a compreensão daquilo que ela poderia ser ou deixar de ser. Essa compreensão do mundo e do psiquismo é ideologia, pois trabalha a favor da ordem vigente, uma vez que os comportamentos tomados como “anormais” são aqueles que justificam a dominação por meio da violência. Pode-se dizer, portanto, que a produção de conhecimento na universidade não é despida de ideologia, mesmo que o pesquisador não tenha consciência disso.

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