ISSN 2359-5191

09/05/2012 - Ano: 45 - Edição Nº: 26 - Saúde - Instituto de Biociências
Extratos vegetais apresentam ação contra o vírus da aids

São Paulo (AUN - USP) - Estudos sobre as principais funções químicas de plantas nativas do Brasil revelaram algumas espécies que poderão atuar contra a aids. A pesquisa começou com um estudo de funções farmacológicas de extratos vegetais que já eram usados popularmente, mas aos poucos ela se encaminhou para a busca de extratos com ação anti-HIV.

“A etapa inicial é avaliar se o extrato bruto tem alguma atividade, depois tentamos isolar as substâncias desse extrato”, explica Lucimar Barbosa Motta, pós-doutoranda do Laboratório de Fitoquímica do Instituto de Biociências da USP. Nesse processo, são usados diferentes solventes, a reação do extrato com cada um deles já é uma pré-seleção. A etapa posterior são os testes in vitro, em que o extrato isolado é colocado em contato com enzimas do vírus HIV. “São estudadas várias etapas do ciclo do vírus, a primeira testada é sempre a fusão do vírus na célula humana”, explica Lucimar. “Então se testam extratos que tenham atividade antifusão”. A segunda etapa é a da transcriptase reversa, enzima que consegue transformar o material genético do vírus, composto de RNA, em material genético humano, de DNA. “Aqui no nosso laboratório, trabalhamos com os inibidores da transcriptase reserva”, esclarece.

Atualmente, os extratos mais promissores encontrados são do gênero Croton, da mesma família que a mandioca. No Brasil, temos cerca de 1,3 mil espécies desse gênero, muitas delas ainda não estudadas. Dentre as já conhecidas, encontram-se espécies que podem ser usadas em tratamentos de câncer de pulmão e de mama, além da atuação anti-HIV. Algumas delas, infelizmente, encontram-se em processo de extinção.

Alguns extratos estudados, principalmente de plantas do gênero Calophyllum, além da ação anti-HIV, poderiam ser usados também no tratamento contra a tuberculose. Relatórios da Organização Mundial da Saúde já chegaram a apontar que uma a cada quatro mortes por tuberculose estavam vinculadas ao vírus da aids. Extratos com dupla ação, então, ajudariam a diminuir a mortalidade causada pelo vírus.

O tratamento para a aids com base em antirretrovirais já existe, mas mutações no vírus HIV acabam tornando-o resistente aos medicamentos. “Como o vírus tem uma multiplicação muito rápida, ele também evolui”, explica Lucimar. Estudos revelam que essa resistência acontece mais facilmente quando o antirretroviral é sintético, ou seja, não derivado de produtos naturais. Outra desvantagem desses tratamentos é o preço, bem elevado para o nível de vida das populações mais atingidas. “Essas populações buscam sempre produtos naturais por não ter acesso a esses medicamentos.” A descoberta de extratos naturais com ação antirretroviral, além de tornar o tratamento mais eficaz, diminuindo o risco da criação de resistência por parte do vírus, o tornaria mais barato também.

Mas o caminho ainda é longo. “Estamos na etapa de padronizar a quantidade dos extratos e isolar as substâncias”, o que é só o começo, segundo Lucimar. Antes de se tornar mais um medicamento nos coquetéis, precisam passar por diversos testes clínicos, para avaliar uma possível toxicidade e a melhor combinação possível com outros medicamentos. Perto de todo o potencial desses extratos, o que é possível fazer no Laboratório de Fitoquímica é muito pouco. Mesmo assim, de acordo com a doutoranda, a pesquisa tem mostrado resultados muito promissores.

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