São Paulo (AUN - USP) - Entre abril de 2011 e agosto de 2012, a aluna de quarto ano de graduação em Letras na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, Júlia Maria Andrade de Melo Ignácio, idealizou e desenvolveu uma pesquisa de Iniciação Científica abordando as chamadas fan fictions, que são histórias de ficção escritas por fãs, utilizando como base as obras das quais são fãs. O trabalho, ligado à área de linguística, foi apresentado no final de outubro, no Simpósio Internacional de Iniciação Científica da USP (Siicusp).

A pesquisadora coletou, principalmente, best Sellers infanto-juvenis dos anos 2000 e verificou que muitas vezes davam origens a novas histórias, escritas pelos leitores, que tinham lugar no mesmo universo. “Notei, por exemplo, como os fãs centram as histórias em personagens específicos, e fazem com que estes tomem atitudes que, segundo os próprios aficionados, estariam mais de acordo com suas personalidades, atenderiam suas próprias expectativas”, informa. O estudo foi intitulado de A apreensão do caráter discursivo das personagens para a construção da Fan Fiction, pois, segundo Júlia, “o objetivo era analisar como se dá a transposição, no âmbito da personagem, da obra matriz, ou obra-mãe, para a fan fiction”. Procurando atingir este objetivo, a graduanda pesquisou diversos autores da área de semiótica, método no qual focou seu trabalho. “Li muitos textos do [José Luiz] Fiorin, da Diana Luz e do Julius Greimas, e acabou sendo no método deste último que me concentrei, na semiótica francesa.”

Esta teoria acabou se provando bastante produtiva, relata a aluna. “Não esperava encontrar uma relação entre a obra-mãe e a fan fiction da maneira como se deu, acredito que tenha sido graças aos textos teóricos, eles foram muito, muito úteis, por exemplo, na minha análise de histórias baseadas nos livros da série Harry Potter. A teoria com a qual trabalhei indica que o sentido do texto está presente nele como um todo, sendo imanente a ele e não transcendente, mas, na fan fiction, cheguei a encontrar um 'menu' com comentários da autora. Quer dizer, estes são parte do texto? Se não são, por que são importantes para a leitura?”, questiona.

Com as orientações do professor Waldir Beividas, do Departamento de Linguística da FFLCH, Júlia prosseguiu os estudos sem maiores problemas de ordem técnica. “Sinceramente, minhas maiores dificuldades foram de organização, com o tempo mesmo de fazer as leituras, as análises, e, ainda por cima, continuar levando a graduação”, conta. Apesar disto, o objetivo da pesquisa acabou, de certa forma, atravancando o próprio desenvolvimento. “O corpus mesmo foi sendo montado durante a pesquisa, mas na hora de cumprir o objetivo, houve um certo problema, pois queríamos investigar a estrutura da fan fiction”, diz. “E só então como se dava a apreensão do caráter discursivo da personagem, mas a definição desse tipo de obra como referencial teórico se mostrou insuficiente. Mas no geral, minhas expectativas foram satisfeitas.”

Em relação ao futuro, Júlia prefere não definir se continua na linha das fan fictions, ou se encerrou seu ciclo com este tipo de trabalho. “Não fiz a renovação da bolsa para a pesquisa pois não tinha como saber se precisaria de outro ano para esta conclusão. Então, achei pouco prático”, conta. “Mas de qualquer maneira não me decidi se volto nela no próximo ano ou talvez em um futuro mestrado.”