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17/11/2012 - Ano: 45 - Edição Nº: 113 - Sociedade - Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade
A questão da segurança na Cidade Universitária é complexa
Dois professores e um coronel da PM debatem policiamento na USP

São Paulo (AUN - USP) - Os alunos da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP derrubaram, no dia 9 de novembro, o muro de protestos que haviam construído em frente ao prédio principal da FEA. A data marca os 23 anos da queda do muro de Berlim. Na intervenção, feita principalmente contra a instalação de catracas na entrada da Faculdade, encontravam-se frases como “Free São Remo” e “Fora PM”, essa frequentemente utilizada pelo movimento estudantil.

A tensão entre parte dos alunos da USP e a Polícia Militar de São Paulo pode ser explicada “por uma tradição de liberdade que USP tem”, segundo o coronel Glauco Carvalho, da PM. Na opinião do professor Sérgio Adorno, “vem de um trauma histórico difícil de superar”, fazendo referência à ditadura militar brasileira.

Ambos foram debatedores na mesa-redonda Segurança e Privacidade, da qual também paticipou Leandro Piquet Carneiro, professor no Instituto de Relações Internacionais (IRI). O evento aconteceu no dia 8 de novembro, e é parte da série Ética e Universidade, promovida pelo Instituto de Estudos Avançados (IEA) da USP.

“A PM tem uma preocupação diferente em relação à USP por causa da autonomia que ela tem”, disse o coronel, mas deixa seu posicionamento claro ao declarar que “o campus é um espaço público, portanto passível de policiamento”, que, ele ressalva, deve ser apenas de vigilância.

Adorno, que coordena o Núcleo de Estudos da Violência (NEV) da Universidade, falou da crise de confiança que observa atualmente entre o cidadão e a polícia. “O Brasil nos últimos anos tem presenciado uma escala da violência. Da década 1970 para cá, quatro modalidades violentas ganharam repercursão”, declarou. São estas: delinquência (furtos e roubos), crime organizado, tráfico de drogas e conflitos interpessoais (briga entre vizinhos, cônjuges). Segundo ele, isso gera um impacto muito grande na insegurança geral.

O acadêmico incentiva um olhar mais amplo em torno do problema. “Centralizamos a questão da segurança em policiamento e esquecemos do sistema de justiça como um todo” aponta. “Os conflitos cresceram, ficaram mais violentos, mas o sistema de justiça é o mesmo que operava há 40 anos”, afirmou.

A mediadora do debate, Maria Hermínia Tavares de Almeida, diretora do IRI, lembra que houve um momento em que a USP era uma espécie de ilha, onde se podia andar à noite, deixar a bolsa na sala destrancada e ela não era roubada. “Pouco a pouco a cidade e seus problemas foram invadindo a Cidade Universitária”, contou.

Um problema externo gritante é a comunidade São Remo, que não conta com instituições públicas básicas como escola e centro de saúde. A presença maior do governo veio em forma de invasão policial, na recente operação de ocupação da Rota. Para Adorno, “enquanto tratarmos a questão como policial, vamos continuar tendo problemas” protestou. “A USP, como universidade de ponta, tem que tratar a São Remo como um projeto”, sugeriu. “Temos que ter soluções para a vida naquela comunidade”, completou o também professor do IRI.

A mesa ainda discutiu a instalação de câmeras de segurança em vias públicas. Glauco Carvalho, para defender seu uso, mostrou dois vídeos, de policiais sendo mortos, que possibilitaram a identificação dos assassinos. “É claro que nós gostaríamos de ter nossa privacidade absoluta, mas em espaços públicos isso nem sempre é contemplado”, afirmou.

Pouco se falou das catracas na FEA. Quando questionado, Sérgio Adorno respondeu “gostaria que a gente não precisasse de nenhum constrangimento físico, mas isso hoje fica impossível porque temos coisas de valor que precisam ser protegidas”.

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