ISSN 2359-5191

13/12/2012 - Ano: 45 - Edição Nº: 130 - Economia e Política - Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas
Debate na FFLCH discute Revolução Russa

São Paulo (AUN - USP) - Dando destaque ao 95º aniversário da Revolução Russa, a Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas da USP (FFLCH) ofereceu, no fim de novembro, um debate organizado pelo Laboratório de Estudos da Ásia, pelo Instituto Caio Prado Jr. e pelo Grupo de Pesquisa GMarx.

A mesa foi composta por Angelo Segrillo, autor de Historiografia da Revolução Russa: antigas e novas abordagens, Milton Pinheiro, autor de Outubro e as Experiências Socialistas do Século XX e Oswaldo Coggiola, autor de Outubro de 1917: a revolução russa. Segrillo abriu as apresentações diferenciando as produções historiográficas soviéticas e anglo-saxãs, desde a década de 1920. O autor ressaltou o imediatismo bastante raro com que se deu o estudo do fenômeno na URSS. “Normalmente discute-se muito a necessidade de um tempo histórico antes do início dos estudos de um acontecimento histórico”, afirmou. “No entanto, já no começo da revolução, os bolcheviques criaram uma comissão com historiadores profissionais para documentá-la.” Segundo ele, o Ocidente distinguiu-se por uma produção mais jornalística, apresentando como seu maior expoente o clássico Dez dias que abalaram o mundo, de John Reed.

Na década de 1930, o material historiográfico teria sido controlado por Stálin no Oriente e produzido por exilados no Ocidente, resultando em duas abordagens bastante contrastantes. Após a Segunda Guerra Mundial, já na década de 1940, ganham força no ocidente os chamados historiadores ortodoxos da Guerra Fria. Segundo Segrillo, suas obras moralistas seriam condenadas pelos chamados historiadores revisionistas da década de 1960, críticos do elitismo e favoráveis a um caráter mais social à literatura.

“Com o fim da Guerra Fria, há um boom de estudos soviéticos”, aponta o autor. “Isso ocorre porque vem à luz vários documentos aos quais pouco tínhamos acesso.” Segrillo encerrou sua fala ressaltando que a literatura soviética não é tão padronizada quanto muitos pensam. “Havia uma série de escolas de pensamento dentro da própria URSS.”

O segundo debatedor, Milton Pinheiro, propôs um viés mais político ao debate. O autor defendeu que o mundo contemporâneo muito deve ao que foi a Revolução Russa. “Considero que a União Soviética desempenhou um papel extraordinário para a condição humana”, afirmou. “Muito do que entendemos de trabalhismo hoje vem dos soviéticos.”

Pinheiro ainda traçou um paralelo entre o tema do debate e a atual questão árabe-judaica, alegando que os soviéticos estariam para os palestinos, assim como os contrarrevolucionários estariam para Israel. “A contra revolução acabou com o humanismo soviético.” O autor ainda criticou aqueles que resumem a Revolução Russa ao totalitarismo stalinista. Por último, afirmou que “o mundo de contradições em que vivemos tem a ver com a queda da URSS”.

Oswaldo Coggiola criticou a falta de diálogo entre os dois discursos anteriores, tratando-se de um debate. Tentando aproximar-se primeiramente do discurso de Segrillo, questionou por que ainda se escreve tanto sobre Revolução Russa, principalmente fora do próprio país. Para ele, um motivo plausível para tantos estudos 95 anos depois do ocorrido, é o fato da revolução não ter acabado em sua totalidade.

Entremeando o discurso de Milton Pinheiro, Coggiola afirmou ser impossível discutir Revolução Russa sem falar de stalinismo. “Uma coisa não pode ser dissociada da outra.” Para o autor, a ascensão de Stálin, deve-se em parte, porque a Revolução já nascera fadada ao fracasso. “A URSS era o país mais avançado e atrasado ao mesmo tempo. Seus antecedentes de analfabetismo e miséria são os tipos de contradições que o próprio Marx apontava como barreiras ao socialismo.”

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