ISSN 2359-5191

25/04/2013 - Ano: 46 - Edição Nº: 10 - Arte e Cultura - Instituto de Estudos Brasileiros
Dissertação mostra a análise social presente em “O Coruja”
Folhetim de Aluísio Azevedo publicado no rodapé do jornal “O Paiz” durante o ano de 1885 é tema de mestrado.

Em dissertação de mestrado apresentada no Instituto de Estudos Brasileiros na Universidade de São Paulo, Maria Viana defende que existem méritos na obra folhetinesca “O Coruja”, de Aluísio Azevedo. Como romances de folhetim eram feitos especialmente para cair no gosto do público, os títulos de Azevedo que se encaixam nessa categoria, como “O Coruja”, que foi publicado no rodapé do jornal “O Paiz” em 1885, são considerados menores pela crítica. Por isso mesmo, acabaram sendo menos estudados do que romances consagrados do autor, como “O Cortiço” (1890) e “O Mulato” (1881).

Os romances de folhetim surgiram na Inglaterra e ganharam notoriedade na França. Eram populares, tanto na Europa, quanto no Brasil, que publicava, além de produções de autores nacionais, histórias traduzidas do velho continente. Aluísio Azevedo foi um dos escritores pioneiros em acreditar que se podia viver apenas de sua própria pena. Ele não se incomodava em publicar romances de folhetim. E em um país de analfabetos, ele usava os meios que lhe estavam disponíveis para conseguir se sustentar com seu trabalho de escritor, como quando, por exemplo, às vésperas da publicação de “O Mulato” (1881), ele anunciou em uma crônica publicada no jornal “Pacotilha”, a chegada do dr. Raimundo, personagem protagonista do romance.

Em “O Coruja”, acompanhamos a história de André, de quem o apelido dá título ao livro, e Teobaldo, amigos que se conheceram no colégio interno e que são a antítese perfeita um do outro. Enquanto Teobaldo é rico, bonito, de boas maneiras e mal caráter, André tem uma aparência que causa repulsa às outras pessoas, mas não renuncia ao trabalho e à bondade. Esse dualismo entre o bem e o mal entremeia toda a história da literatura, contudo, é a partir do Romantismo, com obras como “O Médico e o Monstro” de Robert Louis Stevenson, que ele ganha relevância.

Como explicitado no título de sua dissertação, Maria defendeu a ideia de que “O Coruja” é um romance de formação “às avessas”. Esse tipo de literatura, no termo original do alemão Bildungsroman,  “pressupõe uma reconciliação do herói problemático com o entorno social”, como diz Maria em seu trabalho, e a personagem, na conclusão, se auto-afirma em seu meio. Entretanto, essa auto-afirmação nunca acontece na obra estudada. O romance de formação desenvolvido por Aluísio Azevedo culmina, nos momentos finais de Teobaldo, com o pessimismo influenciado por Arthur Schopenhauer, que defendia que a felicidade era um momento fugaz entre a realização de um desejo e a substituição deste por uma nova vontade, sendo todo o resto momentos de tédio, angústia e sofrimento.

O grotesco do título da dissertação, por sua vez, fica claro na análise da personagem André. O apelido de Coruja, que ele ganhou enquanto ainda estava no colégio interno, relaciona-o com esse animal que frequentemente é associado ao grotesco, ainda que também possa ser observada a contradição desse estranhamento causado pela ave com o seu simbolismo de sabedoria, característica também presente em André. A animalização da personagem é clara: ao longo do livro, ela é comparada a um macaco, por seus membros longos e despreporcionais; com um cachorro pela sua lealdade a Teobaldo; com um corvo pela proteção, principalmente financeira, dada à Inezinha, que por um período foi sua noiva, e à família dela. A comparação com animais, na verdade, ocorre com todas as personagens. Contudo, os de classe social alta são referidos como animais com menos frequência, e quando isso acontece, eles são vinculados a seres com características mais admiráveis, como quando Teobaldo é comparado a um leão.

Além da clara deformação física de André, que se acentua com o tempo graças à vida de sacrifícios que ele levava, a sua atitude também acaba sendo grotesca. A sua bondade é inflexível, mesmo sendo não reconhecida e até mesmo ridicularizada.

Maria Viana teve como orientador o profº drº Fernando Paixão e a defesa aconteceu na manhã do dia 2 de abril. Ela é formada em Letras pela Universidade de São Paulo. Participaram da banca os professores Marcos Antonio de Moraes e Marcus Vinicius Mazzari.

Leia também...
Agência Universitária de Notícias

ISSN 2359-5191

Universidade de São Paulo
Vice-Reitor: Vahan Agopyan
Escola de Comunicações e Artes
Departamento de Jornalismo e Editoração
Chefe Suplente: Ciro Marcondes Filho
Professores Responsáveis
Repórteres
Alunos do curso de Jornalismo da ECA/USP
Editora de Conteúdo
Web Designer
Contato: aun@usp.br