ISSN 2359-5191

25/04/2013 - Ano: 46 - Edição Nº: 10 - Arte e Cultura - Instituto de Estudos Brasileiros
Referências clássicas de Monteiro Lobato são analisadas em mestrado
Dissertação defendida no IEB-USP fala sobre a influência do helenismo na obra e na vida do escritor brasileiro

A presença constante de referências à Antiguidade Clássica e ao ideal grego chamou a atenção de Raquel Nunes Endalécio, mestranda do Instituto de Estudos Brasileiros. Na introdução de sua dissertação, ela diz: “Tendo lido  ‘O Minotauro’ [livro de Lobato publicado em 1939], fiquei pensando, como teria sido possível um homem conhecer tanta coisa, com riqueza de detalhes, de uma época tão longínqua?”.  

O trabalho de Raquel avalia tanto as obras infantis como as adultas de Lobato, assim como também a sua correspondência. Na sua pesquisa, Raquel, que estuda Lobato há sete anos, desde os tempos de sua Iniciação Científica, comenta que o contato com a cultura helenística do autor vinha desde a juventude. seu profundo conhecimento sobre o Mundo Clássico foi iniciado durante os estudos, com livros didáticos e por meio das aulas de Latim, e continuaram mesmo depois de Lobato se formar na Faculdade de Direito do Largo São Francisco. Em cartas analisadas pela mestranda, nota-se que deuses mitológicos são presenças constantes como ícones comparativos. Seu ideal de beleza, por exemplo, era Diana, deusa da lua e da caça, como fica claro em carta escrita a seu amigo Lino Moreira, em 1902.

Diana, deusa mitológica, era uma referência de beleza para Lobato (Fonte: alessandra-amato.blogspot.com)

Dona Benta (Zilka Salaberry) e Tia Anastácia (Jacyra Sampaio), na primeira versão do Sítio do Pica-Pau Amarelo da TV Globo.  (Fonte: Veja.com)


Aos que acusam Lobato de racismo, uma carta presente na dissertação de Raquel pode lhes dar ótima argumentação. Ao seu amigo Godofredo Rangel, Lobato diz: “Os negros da África, caçados a tiro, trazidos à força para a escravidão, vingaram-se do português da maneira mais terrível  –  amulatando-o e liquefazendo-o, dando aquela coisa residual que vem dos subúrbios pela manhã e reflui para os subúrbios à tarde”. Para o escritor paulista, a miscigenação corromperia a beleza – que, de acordo com ele, deveria ser um reflexo dos ideais clássicos.

Todo o repertório do mundo helênico de Lobato não era expresso apenas em suas correspondências. Na sua obra infantil ele também aparecia. Nos livros que tem como cenário “O Sítio do Pica-pau Amarelo”, a voz de Dona Benta é a principal transmissora das histórias que Lobato queria contar a seus leitores. Por meio da simpática velhinha, Lobato traduz a cultura grega de forma que ela possa ser plenamente apreciada pelo seu público-alvo, as crianças.

Dona Benta (Leonor Pacheco) e Tia Anastácia (Isaura Bruno), na versão do Sítio do Pica-Pau Amarelo da TV Tupi.  (Fonte: Veja.com)

Diana, deusa mitológica, era uma referência de beleza para Lobato (Fonte: Diretório de Arte)


Para chegar com mais eficiência aos seus leitores, Lobato se inspirou no escritor norte-americano William Durant. Ele, doutor em filosofia, dava aula para adultos e jovens. Em um dos prefácios da sua série de livros The Story Of Civilization, que Lobato traduziu para o português, Durant diz querer fazer a ponte entre o leitor comum e os grandes clássicos. É o que o escritor mineiro faz com as crianças. “Há vários livros como o ‘História do Mundo para as Crianças’ em que Dona Benta ‘conta’ a história para os picapauzinhos”, esclarece Raquel. “E não apenas conta, conversa com elas sobre as histórias, discute os principais temas como liberdade, política, beleza, arte, educação. Então essa "ponte" que o Durant faz com seus leitores, Lobato faz com as crianças de várias formas, inclusive usando a figura da Dona Benta. Ela é uma intermediadora entre o narrador e os leitores”.

Raquel Nunes Endalécio é formada em Letras pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Em seu trabalho, foi orientada pelo professor Marcos de Moraes. Avaliaram o seu mestrado a profª drª Marisa Lajolo,  e a profª drª Telê Lopez. Essa última, no final de seu comentário sobre a dissertação de Raquel, desejou que a mestranda continuasse “lobatiando”.

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