ISSN 2359-5191

06/12/2002 - Ano: 35 - Edição Nº: 25 - Saúde - Instituto de Ciências Biomédicas
Aumento de linfócitos não significa eficácia do coquetel anti-HIV

São Paulo (AUN - USP) - Diferentemente do que se pensava, o sucesso da administração do coquetel anti-HIV e a recuperação do sistema imune de soropositivos não está relacionado apenas ao aumento da quantidade de linfócitos T CD4+ no sangue. A revelação é resultado de estudo desenvolvido pelo grupo do pesquisador Luiz Vicente Rizzo, do Departamento de Imunologia do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP.

“Demonstramos pela primeira vez que a recuperação imune que se dá após o uso dos coquetéis de medicação disponíveis, pode não resultar no re-estabelecimento completo do repertório imune do indivíduo”, ressalta Rizzo.

O HIV infecta células do sistema imune, primariamente as chamadas células TCD4+ (linfócitos T que expressam moléculas CD4 em sua superfície). Ao se ligar à molécula CD4 e a um outro co-receptor, o vírus entra na célula, onde utilizará a maquinaria bioquímica para sua replicação. Em infecções virais crônicas, as células T CD4+ são utilizadas pelo sistema imune para manter os níveis do vírus sob controle (viremia).

Em pessoas infectadas com o HIV, no entanto, poucas células T CD4+anti-HIV proliferam quando expostas a proteínas virais. O vírus bloqueia a síntese de proteínas essenciais ao metabolismo celular e suprime ainda genes que reparam alterações no DNA. Assim, danos causados pelo HIV não são consertados e as células TCD4+ são induzidas ao 'suicídio'. A população de células TCD4+ fica muito reduzida, tornando os pacientes vulneráveis a infecções por uma série de outros microorganismos.

Uma pessoa sem HIV normalmente tem um número de linfócitos CD4 que varia de 650 a 1500 células/mm3 de sangue. Já uma com AIDS, ou seja, já com manifestações de doença pela falta de defesa imunológica, geralmente possui aproximadamente 200 células/mm3, podendo mesmo chegar a 10 ou menos. Hoje todo o esforço no tratamento dos infectados pelo HIV é impedir a destruição do sistema imunológico, ou seja, barrar a destruição e diminuição do número de linfócitos CD4. Assim, são administrados os coquetéis inibidores de protease, que além de combater o vírus, visam a restaurar as células do sistema imune, já que o timo e a medula óssea, responsáveis pela formação desses anticorpos, voltam a funcionar.

O estudo de Rizzo revelou que a contagem do número desses linfócitos, depois da administração do medicamento, nem sempre significa restabelecimento completo e melhora do sistema imune e do potencial do indivíduo em combater as outras doenças. Isso porque a recuperação do sistema imunológico pode se dar de duas formas, de acordo com cada paciente. A maioria tem o número de linfócitos TCD4+ totalmente rejuvenescidos, novos, originados na medula óssea, enquanto outros têm apenas cópias dos linfócitos “sobreviventes” a invasão viral.

No primeiro caso, “é como se todo o sistema imune tivesse renascido e o timo e medula passassem a funcionar como o de um recém-nascido, sempre produzindo novas células”, explica Rizzo. Esses vão manifestar uma melhor resposta imune às doenças oportunistas. Isso porque, além dos velhos anticorpos contarão também com novos, com a capacidade de responder para outros novos antígenos e combater de forma eficaz as infecções oportunistas.

Já, no sistema imune de outro indivíduo, ao invés de 200 novas células TCD4+, por exemplo, o que ocorre é somente a multiplicação dos velhos. Ambos os pacientes terão a mesma quantidade de linfócitos, mas nesse caso continuam respondendo apenas para os antígenos já detectados pelos anticorpos remanescentes. Apesar da melhora, o indivíduo estará mais vulnerável às doenças do que aqueles que tiveram suas células renovadas.

“Nossa descoberta alerta a comunidade científica para a importância de os pacientes portadores do vírus HIV serem acompanhados de forma individualizada, devido a essas diferenças de resposta do sistema imune. Porém, isso infelizmente não acontece”, ressalta Rizzo. O próximo passo da pesquisa é determinar porque há essa diferenciação no comportamento das defesas imunológicas dos soropositivos.

Leia também...
Agência Universitária de Notícias

ISSN 2359-5191

Universidade de São Paulo
Vice-Reitor: Vahan Agopyan
Escola de Comunicações e Artes
Departamento de Jornalismo e Editoração
Chefe Suplente: Ciro Marcondes Filho
Professores Responsáveis
Repórteres
Alunos do curso de Jornalismo da ECA/USP
Editora de Conteúdo
Web Designer
Contato: aun@usp.br