ISSN 2359-5191

13/06/2013 - Ano: 46 - Edição Nº: 36 - Sociedade - Instituto de Relações Internacionais
Sarará Crioulo promove as diversas cores do negro
Evento é organizado pelo Centro Acadêmico Guimarães Rosa, do Instituto de Relações Internacionais

“Mas a verdade é que você, como todo brasileiro, tem sangue crioulo, tem cabelo duro, Sarará Crioulo”. A música, imortalizada na voz da cantora Sandra de Sá, coexiste com o Hip hop na Ágora, apresentação de dança que surpreendeu quem passava pelo Bandejão Central da Universidade de São Paulo no dia 21 de maio. A mistura entre o intelectual e o popularesco é uma metáfora para a própria miscigenação de raças, que deu origem à população do Brasil. A mensagem é a de que, não importando a cor da pele, todos são brasileiros. Esse é o Sarará Crioulo, recorte temático para o Maio Cultural, que é organizado todos os anos pelo Centro Acadêmico Guimarães Rosa, do Instituto de Relações Internacionais.

Segundo Lucas Rossi, integrante do Guima (apelido do centro acadêmico), o Maio Cultural é um evento que já acontece há alguns anos. “Quando ele começou, tratava do Maio de 1968, e, por causa disso, convencionou-se começar sempre em maio. Antigamente, ele só acontecia nesse mês, mas o evento cresceu de tamanho e agora estendemos também para junho, mas o nome continua em homenagem. Cada ano é um tema diferente, que não seja discutido no curso de Relações Internacionais e na universidade como um todo. Também escolhemos algo que não seja meramente acadêmico, com uma pegada mais cultural”.

A origem do tema

A decisão pelo tema é feita em uma reunião aberta que o centro acadêmico realiza. Para Rossi, um dos motivos para o assunto desse ano ser sobre a cultura negra e sua diversidade foi o de que havia uma falta de conhecimento sobre o tópico, e o que se sabia era parte de uma visão estereotipada. “Por mais que você tenha a discussão de cotas por causa do Pimesp na Universidade, a cultura negra é um tema que pouco se escuta. A ideia é trazer algo pouco discutido e também se informar enquanto fazemos o evento”.

Diferentes expressões

O evento se iniciou no dia 17 de maio e se estenderá até 21 de junho, e promete agradar vários tipos de espectadores. Para quem se interessa por mesas-redondas, alguns dos temas discutidos foram “O Papel Sociocultural do Negro na Contemporaneidade”, “Quem Pensa o Negro - Produção Literária” e “Arte e Resistência”. Ainda ocorrerá uma mesa de tema “Nova Migração Negra no Brasil”, no dia 14 de junho. O integrante do Guima considera que “as mesas são muito importantes, porque fazem pensar. Elas são muito dinâmicas, trazem temas diferentes, mas que se correlacionam”. Todos os debates contam com especialistas sobre literatura ou sociedade, além de representantes do Núcleo de Consciência Negra em algumas das discussões (a própria proximidade deste com o IRI ajudou na elaboração da programação).

Na área de cultura e arte, o evento conta com a exibição de filmes icônicos, cujas temáticas casam com o assunto discutido na semana. A ideia do Centro Acadêmico, segundo Lucas Rossi, era justamente a de que “quando você vê um filme, às vezes você se sensibiliza mais e permite que você fique mais aberto a uma discussão. Para chamar públicos diferentes, pessoas que não estão tão inseridas nesse debate, achamos que pode-se tratar de coisas importantes por diferentes formas de expressão”.

Os filmes “Os Deuses Devem Estar Loucos”, “O Grande Desafio” e “Terra Deu, Terra Come” foram exibidos respectivamente nos dias 22 e 29 de maio e 7 de junho, respectivamente. Os filmes “Do The Right Thing” é exibido no dia 13, enquanto “Raça Humana” será no dia 18 de junho, sendo que este será acompanhado por um debate sobre políticas afirmativas, um dos temas mais polêmicos envolvendo os afrodescendentes atualmente. Em 6 de junho, houve a “Apresentação e Oficina de Maracatu: Cangarussu”, atividade que se insere no âmbito de formas alternativas de explorar o assunto. Durante todo o evento, haverá exposição de fotos e livros sobre o tema “África em foco”.

A programação completa pode ser conferida no cartaz reproduzido abaixo ou então pela página do Facebook do evento. Na rede social, todo dia é postada uma personalidade negra que tenha destacado-se nas mais diversas áreas, justamente para evidenciar a presença da etnia na sociedade.


Programação do Maio Cultural 2013

O Sarará Crioulo terá sua última apresentação no dia 21 de junho, com o “Sararau” de encerramento. Rossi já adianta que há a intenção de trazer grupos musicais (de jazz, hip hop, reggae) para o evento, corroborando com a ideia de trazer o próprio negro que, às vezes, não tem acesso à universidade. “Uma grande preocupação era essa: abrir e dialogar como movimentos sociais e artísticos tratam essa questão, fazendo com que o debate fique mais qualificado, ao misturar essas coisas [o debate acadêmico e os movimentos culturais]”.

Mensagem

Para definir qual a pretensão do Sarará Crioulo, é preciso voltar às origens, não só linguísticas, mas também históricas. “Sarará é aquela pessoa que é branca, mas que têm traços afrodescentes. A ideia é mostrar que o negro está presente em todo mundo, que todo mundo tem um pouco de cultura negra. Mesmo que ela não esteja presente em uma herança direta, está na forma de se expressar, gostos e comportamentos. É, além de mostrar toda a riqueza da cultura negra, o quão pouco sabemos sobre. É mostrar também que ela está em todo lugar e que é importante trazer esse debate para a Universidade, porque ela é, hoje em dia, um espaço que tem poucos negros”. Mas vários Sararás.

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