ISSN 2359-5191

19/09/2013 - Ano: 46 - Edição Nº: 66 - Sociedade - Escola de Comunicações e Artes
Mídias sociais trouxeram mudanças para o modo de noticiar manifestações
As manifestações do Movimento Passe Livre culminaram nas grandes mobilizações do fim de junho e influenciaram o comportamento das mídias (foto: Reprodução)

“A internet se mostra como um meio no qual o material produzido nem sempre passa por um editor, ou por um setor de publicidade, e isso deixa a mídia conservadora perdida”. Foi o que a fotógrafa Cláudia Ferreira disse durante a Sétima Semana de Fotojornalismo – evento promovido em agosto pela Jornalismo Júnior, empresa júnior da Escola de Comunicações e Artes (ECA), da USP.

As manifestações do Movimento Passe Livre, ocorridas em junho deste ano, evidenciaram a autonomia que os movimentos sociais possuem para produzir e contar as suas próprias histórias – principalmente através das mídias sociais, como o Twitter e o Facebook. Com isso, passou-se a se cobrar da mídia um fazer jornalístico mais engajado do que meramente informativo.

Por engajamento, entende-se que o jornalista, o fotógrafo e o editor, precisam estar mais envolvidos com os temas que publicam. Afinal, o leitor de hoje não tem como única fonte de informação os grandes meios de comunicação jornalísticos. E como os próprios movimentos sociais passaram a registrar e veicular suas produções midiáticas em grande escala, criou-se, então, uma cobrança sobre as mídias já consolidadas no mercado, para que elas reconhecessem a voz dos movimentos sociais, e produzissem notícias diferentes dos textos e imagens que já haviam sido publicados pelos próprios participantes das manifestações.

Assim, devido à grande facilidade atual do acesso à informação na internet, Cláudia comentou ser impossível, hoje, que os movimentos não sejam vistos. Houve, inclusive, na época das manifestações, momentos em que as mídias sociais informaram a população de maneira mais efetiva do que os grandes meios tradicionais de comunicação. Como no caso de uma foto produzida pela fotógrafa, e veiculada pelo Facebook em 16 de agosto, que teve 146 curtidas, 1381 compartilhamentos, e atingiu – de acordo com os números disponíveis apenas ao gestor da página, mas que Cláudia disponibilizou no evento – a mais de 53 mil pessoas da rede social. Tudo isso em menos de uma semana.
 

Manifestantes produzem e divulgam imagens de protesto ocorrido no dia 7 de setembro, em Brasília.


Como observa o professor Wagner Souza e Silva, do Departamento de Jornalismo e Editoração (CJE): “Antes [a mídia] era: ‘em terra de cego quem tem olho é rei”. Hoje, com essa proliferação de conteúdos independentes, se cobra mais do jornalista”.


A internet moldou o comportamento de todos

Não é só o modo de agir dos meios de comunicação que sofreu mudanças com a popularização das mídias sociais da internet. O próprio modo de se protestar também sofreu suas influências. É o que comentou o jornalista Leonardo Sakamoto durante o seminário Comunicação e os Movimentos Sociais em Rede no Brasil, realizado em agosto na ECA. “O Facebook e o Twitter foram para a rua: alguns cartazes eram de 140 toques”, disse.

Por outro lado, Cláudia Ferreira também realizou suas observações sobre essas mudanças, mas se referiu ao modo de agir dos policiais. Cláudia contou sobre como a polícia passou a desenvolver diferentes métodos para fugir das câmeras e dos fotógrafos: “Na última manifestação em que estive, quando apontei a câmera para um integrante da Tropa de Choque, ele, então, sacou uma lanterna e a apontou acesa para mim. Ou seja, eles aprenderam que assim eu não conseguiria tirar a foto”.

Sendo assim, percebe-se que não apenas os meios de comunicação foram influenciados pela internet, mas também vários outros setores da sociedade brasileira ainda estão se adaptando e aprendendo a utilizar as ferramentas da web e a aplicá-las na vida cotidiana. Só que, como comentou a professora do CJE, Elizabeth Saad, “o Jornalismo foi o segmento que mais mostrou resistência em relação à inovação”.

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