Estudo realizado no Instituto de Psicologia (IP) da USP revela que as narrativas literárias são meios de grande importância para que as crianças possam se auto-compreender. A pesquisa, intitulada O uso de histórias no encontro clínico: uma experiência em oficina terapêutica com crianças psicóticas, é de autoria de Jéssica de Sousa e aponta fatos curiosos a respeito da interação entre os pequenos e as histórias infantis.

A partir da análise do uso de narrativas literárias infantis na prática psicanalítica com crianças, por meio da experiência no projeto Giramundo - Oficinas Terapêuticas e Inclusão, da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo, Jéssica desenvolveu o estudo que traz, entre os seus principais resultados, o fato de que o relacionamento das crianças com as histórias infantis estimula o desenvolvimento do sentimento sobre si mesmas, em um processo que se desdobra da seguinte maneira: se, a princípio, as crianças exercem apenas o papel de narradoras, contando aquilo que está escrito nos livros, em um momento posterior passam a se colocar como personagens dessas histórias. Muitas vezes, há uma transferência para a realidade, quando os meninos e meninas desenvolvem ideais de vida que apresentam elementos dessas narrativas, como a vontade de salvar vidas, por exemplo. Além disso, as crianças acrescentam novos elementos às narrativas pré-existentes e criam relatos originais, indicando, assim, o grande estímulo criativo ao qual são submetidas no convívio com essas narrativas literárias.  

A atuação no dispositivo clínico Giramundo permitiu que Jéssica se interessasse sobre o relacionamento desenvolvido pelas crianças com as narrativas que lhes são contadas, entre as quais se destacam as fábulas e os contos infantis. A curiosidade sobre o assunto deu início à pesquisa elaborada no IP, que teve como principal objeto de análise a obra O Livro da Oficina de História, registro das atividades do projeto da PUC.  

Além do estudo das dinâmicas da oficina terapêutica, outra importante referência no processo de elaboração da dissertação foi a teoria do psicanalista inglês Donald Winnicott sobre o desenvolvimento emocional primitivo, que analisa o progresso psicológico das crianças, e a leitura de várias obras literárias. Entre os nomes citados, estão autores que passaram por diversas gerações, como os Irmãos Grimm, Hans Christian Andersen, Adélia Prado e Monteiro Lobato.