ISSN 2359-5191

11/04/2014 - Ano: 47 - Edição Nº: 3 - Saúde - Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto - USP
Medo marca trajetória de mães portadoras do HIV
Pesquisa investiga sensibilidades psíquicas reveladas pela maternidade de soropositivas

O discurso de mães portadoras da aids é marcado por inseguranças. Quer tenham passado a aceitar seu próprio diagnóstico, quer ainda sofram com isso, a gravidez é acompanhada de dúvidas e culpa pela possibilidade de adoecimento do filho.

Analisar tais sentimentos foi o objetivo da pesquisa de Ana Cristina Bragheto, da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP) da USP, que buscou compreender o sentido da experiência de maternidade na vida de dez mulheres pertencentes a esse grupo. Segundo a pesquisadora, que há anos estuda as implicações do HIV no desenvolvimento infantil, a narrativa das mães se destaca pela ambivalência de sentimentos. “Muitas delas se descobriram soropositivas no mesmo momento em que se descobriram grávidas. A descoberta mortal e a descoberta de uma nova vida coexistem”.

Ela nota que a trajetória dessas mães encontra uma linha ascendente comum: da desestabilidade emocional, elas passam a um estágio de enfrentamento da doença, vivendo a maternidade da melhor maneira possível. “Trazem o cuidado intenso com a saúde dos filhos, o viver cada dia como sendo único e especial, a clareza da responsabilidade do cuidado e a experiência da maternidade como mantenedora de suas vidas”, conta.

Baixa imunidade física e diminuição da imunidade psíquica

Quanto mais cedo a gravidez é descoberta, maiores as chances de evitar a transmissão vertical (de mãe para filho) do HIV. Quando o pré-natal é feito de maneira adequada, a mulher é medicada com anti-retrovirais durante a gravidez. Também é preciso que ela faça parto cesária e não amamente seu filho. Ana Cristina afirma que muitas se apegam a isso para seguirem a gravidez de forma tranquila.

No entanto, a maior parte das entrevistadas pela pesquisa possuía ao menos um filho infectado pelo vírus. “Perceber a criança também soropositiva, ao mesmo tempo em que traz uma aproximação com a criança, traz consigo um pesar e sentimento de medo intenso, medo da finitude de duas vidas”, conta a pesquisadora. Mesmo as preocupações comuns a mães de recém-nascidos, como as infecções corriqueiras da infância, tomam dimensões muito maiores dentro dessas famílias, que têm de conviver com o HIV e suas doenças oportunistas. “Nesta invasão de sentimentos tão pesados, é como se a baixa imunidade física trouxesse uma diminuição na imunidade psíquica”.

Nesse contexto, a pesquisa mostra também a dificuldade de evitar que a criança seja criada em um ambiente contaminado pelo medo. “A contaminação nesse sentindo vai além da física, se dá no nível psíquico. A relação [entre mãe e filho] passa a ser de pavor”, diz Ana Cristina.

Outros medos comuns percebidos no estudo envolvem a difícil tarefa de contar sobre o diagnóstico para os filhos e identificar a melhor forma e o melhor momento de fazê-lo; teme-se também o medo da discriminação social e escolar, em decorrência do preconceito que ainda hoje cerca os soropositivos.

Apoio familiar e espiritual

Apesar de todas as angústias, as narrativas revelam o amor e a dedicação profunda dessas mães às crianças. Para enfrentar as dificuldades, muitas buscam suportes nas crenças religiosas, na família ou mesmo na ciência. “São histórias de batalhas, lutas relativamente bem sucedidas. Elas encontram apoio nas relações familiares e nos próprios filhos para seguir a vida. Se apegam à religião e à ciência acreditando na cura da Aids e em um futuro melhor para suas famílias”, diz a pesquisadora.

Enquanto 1980 foram registrados 6.309 casos transmissão vertical do HIV, em 2012 foram apenas 135. Com maior apoio e mais informação, os números podem diminuir ainda mais. Para Ana Cristina Bragheto, pesquisas como a dela podem contribuir para o aperfeiçoamento do trabalho de profissionais da área de saúde que lidam com esta situação. 

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