Perto de completar cinco anos de existência, o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Fluidos Complexos (INCT-FCx) desenvolveu uma nova forma de análise da qualidade do colesterol no sangue. A entidade, com base no Instituto de Física (IF), conta, além de pesquisadores do próprio instituto, com químicos, biólogos, imunologistas, médicos, odontólogos e matemáticos.
Trabalhando conjuntamente, esses especialistas buscam dar conta do estudo do funcionamento de alguns dos fluidos complexos, como os fluidos de interesse biológico presentes no organismo, os cristais líquidos, utilizados na maioria dos televisores e telefones celulares, e os ferrofluidos, utilizados em fones de ouvido e sistemas de som.
Para ser considerado complexo, o fluido precisa ter propriedades particulares que diferem daquelas considerados convencionais. “Os cristais liquidos são um exemplo disso porque são fluidos à temperatura ambiente, como um líquido comum, mas têm propriedades ópticas totalmente diferentes”, afirmou Antonio Martins Figueiredo Neto, professor do IF e coordenador do instituto desde a sua fundação, em 2009, como continuação do então Instituto do Milênio de Fluidos Complexos.
Para Neto, o maior avanço do INCT-FCx foi alcançado na pesquisa das lipoproteínas humanas, responsáveis pelo transporte do colesterol no organismo. Várias doenças clínicas e fatores externos como estresse geram condições para que a lipoproteína de baixa densidade (LDL), conhecida como “mau colesterol” seja submetida a processos oxidativos, gerando partículas modificadas. “Uma vez que essas partículas são modificadas elas se tornam irreconhecíveis ao sistema imunológico, que passa a lutar contra essas partículas. Os macrófagos, células do sistema imune, cheios de colesterol são os precursores da placa de colesterol nas artérias”, explicou.
Com a colaboração de grupos de imunologia e química, pesquisadores de física foram capazes de medir uma das propriedades físicas dessas substâncias, o índice de refração não-linear. “Assim como um corpo tem peso”, disse Neto, “tem índice de refração não-linear. E o que a gente mostrou é que as partículas modificadas tem essa assinatura totalmente diferente das partículas que não foram modificadas”.
De acordo com o professor Antonio Martins Figueiredo Neto, o grupo, que aguarda do Ministério da Ciência e Tecnologia a decisão sobre a continuidade dos INCTs, espera agora que tal avanço chegue ao mercado e, consequentemente, à população. “Esperamos que não se meça apenas a quantidade de lipoproteínas, que é o que se faz atualmente, mas quanto dessas partículas estão modificadas e quantas estão intactas”, concluiu.