ISSN 2359-5191

07/07/2014 - Ano: 47 - Edição Nº: 37 - Economia e Política - Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas
Relações comerciais geram independência diplomática entre os países
Pesquisa indica que proximidade comercial gera distanciamento nas decisões das nações dentro da Assembleia Geral da ONU
Pesquisador coletou informações das Assembleias Gerais da ONU desde 1946

Quando um país estabelece um acordo comercial com outro pode-se imaginar que esse alinhamento extrapole para outros campos, como o diplomático. Porém, a tese de doutorado do pesquisador Umberto Guarnier Mignozzetti prova justamente o contrário. Quanto maior as relações entre os países maior é a distância nos posicionamentos em arenas políticas internacionais, no caso da pesquisa Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU).

A pesquisa intitulada “Relações comerciais e alinhamento nas decisões em organizações multilaterais: um estudo dos padrões de votação na Assembléia Geral da ONU” analisou um banco de dados de deliberações da ONU entre 1946 e 2012 e apresentou um resultado inesperado. “Esses resultados são contra-intuitivos, pois a maior parte dos trabalhos em economia política internacional demonstra que comércio está mais relacionado à cooperação do que a conflito”, explicou o pesquisador.

Segundo Mignozzetti, esse resultado de certa forma inesperado pode ser explicado com um pouco de lógica. Ele conta que “a discussão dos resultados enfatiza que os ganhos advindos do comércio internacional fortalecem os países na arena internacional”, ou seja, fortalecendo suas relações comerciais, os países passam, portanto, a fazer valer seus interesses no cenário geopolítico e as relações comerciais, por sua vez, deixam de ser uma moeda de troca. “Os países maximizam poder na arena internacional. Essa força se reverte no distanciamento dos mesmos na Assembleia Geral: países mais fortes são também aqueles que conseguem fazer valer suas opiniões com mais facilidade”, relatou o doutor em ciência política.

Além disso, o pesquisador afirma que devemos pensar com cuidado quais instâncias são controladas pelos países e quais estão menos sujeitas ao controle político direto. Segundo ele, “alinhamento nas votações da Assembleia Geral é completamente dependente das decisões políticas internas dos países, enquanto o comércio depende mais das decisões de agentes privados nos países, do que de decisões políticas.” Sem alardes, Mignozzetti pondera dizendo que o país tem mecanismos para limitar quantidades de importações, aumentar barreiras alfandegárias, subsidiar a produção de determinados bens internamente, entre outros. Contudo, é impossível eliminar completamente a dependência mútua sem que seja sentido um grande impacto nesse países, o que não faz sentido do ponto de vista econômico.

Para obter essa conclusão, o pesquisador, usando a abordagem de váriaveis instrumentais, contrapôs a posição da Paz Liberal aplicada ao comércio com a concepção já antes defendida de que o comércio aumenta o conflito. Os resultados ilustraram como “uma motivação puramente econômica pode gerar desalinhamento político e, portanto, mais conflito. Esses resultados contribuem para colocarmos a idéia de paz liberal em perspectiva e entendermos que em ciência política as relações são mais intrincadas do que parecem”, resumiu Mignozzetti.


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