ISSN 2359-5191

07/07/2014 - Ano: 47 - Edição Nº: 37 - Sociedade - Instituto de Psicologia
Reencontro da mulher negra com sua afrodescendência é discutido por mestrado

O estudo do processo de conhecimento de si mesmo foi o caminho tomado por Miriam Rosa dos Santos para a realização de sua dissertação de mestrado, defendida no Instituto de Psicologia da USP (IP). Miriam optou por ter como foco a experiência de negação e reencontro da mulher negra com sua afrodescendência. Segundo ela, a população afro-brasileira sempre sofreu com representações negativas e mentirosas. Além disso, "a condição de mulher, no caso da mulher negra, é uma condição duplamente discriminada", afirma, pois soma-se ao racismo o preconceito de gênero.

São muitos os legados históricos que pesam sobre os negros no Brasil. Dentre eles, o escravismo, sistema tardiamente abolido do país, o racismo e o ideal da brancura. "Em geral, a população negra vive estimulada a perseguir o ideal branco", diz Miriam, que acrescenta: "na verdade, a posição de cura, de fortalecimento só acontece se for para o lado contrário".

Tendo isso em vista, Miriam conheceu três mulheres de distintas faixas etárias e realidades culturais que nasceram e moram em diferentes estados do Brasil. No entanto, apesar de todas essas diferenças, as depoentes tinham em comum uma mesma experiência: a de reencontro com suas raízes negras.

Miriam conta que o depoimento de cada uma delas contribuiu para mostrar que a negritude não é dada apenas pelo corpo, pois deve haver também um encontro com a ancestralidade e com a herança cultural. "A mentalidade racista atribui que o negro é naturalmente inferior", afirma. Para ela, isso implica em ter uma compreensão histórica do legado do escravismo, do racismo e da ideologia do embranquecimento. "Lidar com esse histórico é essencial, porque se nós conseguimos compreender que isso foi uma construção perversa, e desnaturaliza a questão da inferioridade", conclui.

Para Miriam, "não se sentir enraizado traz um tipo específico de solidão no mundo". Ela explica que estar privado desse vínculo com suas tradições e culturas acaba por enfraquecer o indivíduo, que não consegue encontrar seus pares, "seus companheiros de caminhada e de destino". Em concordância com isso, ela afirma ter percebido que o reencontro dessas mulheres com suas raízes acabou por fortalecer também suas comunidades.

A pesquisadora levanta, por fim, a dualidade existente no olhar do outro: "assim como se entra na experiência da humilhação pelo olhar do outro, também se sai dela por ele". Miriam cita a questão dos cabelos, que para as mulheres negras, especialmente, tem uma conotação muito forte na sociedade. São recorrentes os casos em que, de tanto ouvir que "cabelo de negro é ruim", essas mulheres resolvem alisá-los. No entanto, há quem chame a atenção para esse processo, apontando que se trata apenas de um padrão estético. Assim, apesar de muitas vezes causar o sofrer, é também o olhar do outro que leva ao caminho para a identificação de si mesmo.

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