Um estudo da neuropsicóloga especialista em dependência química, Carmen Silvia Miguel, verificou a relação entre o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade, com a dependência de cocaína e/ou crack e se há diferenças significativas em cognição e em impulsividade entre um grupo com transtorno e dependência, e um grupo somente com transtorno. Estudos mostram que cerca de 21% dos adultos que buscam tratamento para dependência química apresentam TDAH, e que entre as drogas ilícitas, a cocaína apresenta um risco duas vezes maior para o desenvolvimento de abuso ou dependência, quando há a presença do transtorno.
Essa relação muitas vezes é subdiagnosticada, pois os sintomas como impulsividade, desatenção, entre outros sintomas cognitivos que se sobrepõem, podem estar presentes nos dois casos, dificultando o reconhecimento de quais são associados ao TDAH e quais são associados a dependência.
O estudo da psicóloga comparou dois grupos: pessoas somente com transtorno de déficit de atenção e hiperatividade sem abuso ou dependência de quaisquer drogas e um grupo pacientes adultos com o transtorno e com dependência de cocaína e/ou crack. A partir dessa análise, foi possível perceber algumas diferenças significativas nos sintomas cognitivos e comportamentais. “O primeiro grupo apresentou déficit em atenção seletiva visual, problemas na busca visual e velocidade de processamento da informação lentificado. Já o segundo grupo apresentou déficits em vigilância, alteração nos processos de tomada de decisão e impulsividade motora. Esses resultados somados à presença do transtorno, sugerem a hipótese de que estes fatores podem estar influenciando, o uso de cocaína e/ou crack por este grupo”, relata a psicóloga.
Sobre os sintomas do transtorno, Carmen afirma: “Os sintomas – desatenção, hiperatividade, impusividade – começam antes dos 12 anos e são muito característicos, trazendo prejuízos reais a vida da pessoa. Porém, até pouco tempo atrás, se achava equivocadamente que era um transtorno que só ocorria na infância. Hoje se sabe que ele persiste na vida adulta.”
A pesquisadora alerta sobre a importância de olhar o paciente como um todo e sobre a necessidade da realização de mais pesquisas sobre os aspectos cognitivos e emocionais. Também se deve ter o cuidado na qualidade do diagnóstico – este deve ser feito por profissionais com conhecimentos tanto em transtorno de déficit de atenção, quanto em dependência química, para assim, identificar e tratar os dependentes de drogas que apresentem o transtorno, e que não foram diagnosticados na infância. “É importante ressaltar que não são todas as pessoas com déficit de atenção que estão sob o risco da dependência química. Mas é preciso olhar para duas vertentes visando a melhoria da saúde e qualidade de vida destes pacientes: a criança, pensando nos aspectos preventivos, já que existe um risco associado, e o adulto, que não foi diagnosticado, e pode ter o transtorno”, alerta Carmen.