Produzidos sem o uso de aditivos químicos, os alimentos orgânicos industrializados ganharam a atenção do consumidor e as prateleiras dos supermercados brasileiros nos últimos anos. As embalagens, no entanto, não refletem o discurso das empresas produtoras em relação ao uso de recursos naturais e pouco esclarecem o consumidor quanto às características do produto.
Estas foram algumas das conclusões de Elisa Quartim Barbosa, mestranda da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, na dissertação “Design de embalagens de alimentos orgânicos industrializados: análise da percepção dos aspectos ambientais e suas especificidades”. Consumidora de alimentos orgânicos, Elisa já mantinha o blog Embalagem Sustentável quando decidiu explorar a construção visual desse tipo de produto academicamente.
Para isso, a pesquisadora visitou três produtoras, as empresas Mãe Terra, Via Pax Bio e Monama, entrevistou diversos consumidores e compilou grande quantidade de literatura especializada sobre produção orgânica. Observou que “quanto mais conhecimento a pessoa tem do que é um alimento orgânico, maior é a tendência em consumi-lo”, mas, por outro lado, marcas mais conhecidas deixam em consumidores a impressão de terem produtos mais saudáveis mesmo sem o selo de certificação de orgânicos - apenas pelo branding e pela composição visual.
Baixa divulgação e alto custo
Parte do problema, segundo Quartim, é uma “falha de comunicação geral” na conscientização sobre o consumo de alimentos orgânicos. O uso de propaganda em meios de comunicação em massa é uma solução muito cara para empresas de pequeno e médio porte, como as visitadas pela pesquisadora. Da mesma forma, o uso de materiais de fontes renováveis na produção da embalagem - coerente ao discurso proposto pelo diferencial orgânico no mercado - foge ao orçamento das companhias menores.
Mas ainda que o alimento orgânico de qualidade chegue às prateleiras, há uma barreira entre ele e o carrinho do consumidor. O alto preço é a principal motivação, segundo os entrevistados pela pesquisadora, para o não consumo desse tipo de produto, embora seja reconhecido como “natural, puro, verdadeiro” e que “preserva o meio ambiente.”
Por sua vez, o interesse corporativo na produção orgânica, com algumas empresas estudando modelos de cultivo bem sucedidos no exterior, surpreendeu Quartim positivamente. Mas a concorrência com os alimentos não orgânicos, admite a pesquisadora, é desproporcional. “O orgânico tem mais custo, mais mão-de-obra. E as grandes empresas [de alimentos não orgânicos] tem grandes poderes”, resume.