ISSN 2359-5191

25/06/2015 - Ano: 48 - Edição Nº: 57 - Ciência e Tecnologia - Faculdade de Ciências Farmacêuticas
Drogas facilitadoras de crime ganham novo método de análise
Método desenvolvido por um pesquisador da USP pode ajudar a polícia a resolver casos do golpe ‘Boa Noite, Cinderela’
O gama-hidroxibutirato é uma das DFCs Foto: erowid.org

Um novo método de análise para identificação de drogas facilitadoras de crime foi desenvolvido por um pesquisador da USP. Baseado em um sistema desenvolvido na Suécia chamado microextração em fase líquida, o processo economiza tempo, dinheiro e insumos, além de aumentar a sensibilidade e a seletividade do processo.

A pesquisa se baseou nas substâncias mais disponíveis no Brasil segundo o Guia de Análise Forense para Drogas Facilitadoras de Crime: benzodiazepínicos (sedativo-hipnóticos), cetamina (anestésico) e gama-hidroxibutirato (sedativo).  

As Drogas Facilitadoras de Crimes (DFC) podem ser quaisquer drogas que permitam uma vantagem de uma pessoa sobre outra, diante de uma submissão química. Essas drogas também podem matar, principalmente quando administradas junto com álcool ou outras substâncias sedativas. No Brasil, o uso de DFC também é popularmente conhecido como golpe do “Boa noite, Cinderela”.

O novo método de análise tem alta aplicabilidade e pode ajudar a polícia a solucionar casos, como conta o autor da pesquisa, André Valle de Bairros, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP. Em um trabalho realizado junto com o Hospital de Clínicas da Unicamp, o pesquisador recebeu uma amostra de urina retirada de uma mulher salva por boias-frias, após ser encontrada sozinha em um canavial com sinais de queimaduras. Nas análises toxicológicas realizadas no hospital, nenhuma droga foi detectada. Porém, os toxicologistas ainda desconfiavam que a paciente estivesse sob influência de alguma substância.

A amostra foi enviada para Bairros, que a analisou pelo método de microextração em fase líquida. Por ele, foi possível identificar a presença de cetamina. “Chegou para mim a amostra de urina dessa mulher. Fiz a análise toxicológica e descobri que, realmente, ela teve contato. Só que em valores muito baixos, que a metodologia que eles usavam lá [no hospital] não identificava", constatou o pesquisador.

As dificuldades de se identificar uma DFC

Quando uma droga é ingerida, o corpo, por meio de seu metabolismo, a transforma em outras moléculas com características físico-químicas diferentes de suas precursoras. Isso dificulta bastante a análise toxicológica, pois se faz necessário saber em que tipo de composto aquela droga será transformada pelo organismo para que se possa identificá-la. O método desenvolvido consegue identificar e quantificar tanto a droga ingerida como as moléculas formadas a partir da metabolização, conhecidas como produtos de biotransformação.

“Se eu ingerir Diazepam [um sedativo-hipnótico], dificilmente vou encontrar valores significativos de Diazepam na minha urina. Neste caso, vou encontrar concentrações bem maiores de um produto de biotransformação chamado Oxazepam. Essas noções de biotransformação de drogas é necessário ter”, comenta Bairros, demonstrando a dificuldade da análise toxicológica.

O processo baseado na LPME (microextração em fase líquida, do inglês lyquid-phase microextraction) utiliza membranas finas, aproximadamente da grossura de um grafite de lapiseira de 1mm. É uma fibra oca por dentro, onde se insere um líquido que pode ser um solvente ou uma solução aquosa de característica ácida ou básica. Posteriormente, a fibra é fechada com um alicate e colocada diretamente na urina ou sangue a serem analisados, chamados de matrizes biológicas.


Etapas da extração dos benzodiazepínicos e produtos de biotransformação por LPME
Etapas da extração dos benzodiazepínicos e produtos de biotransformação por LPME
Imagem:André Valle de Bairros/Tese de doutorado

 

"Toda a extração é feita em uma escala muito pequena, onde você tem uma diminuição de custo, reagente, solvente e tempo. Isso maximiza a análise toxicológica”, afirma Bairros, sobre as vantagens da LPME. Além disso, ela proporciona um benefício ecológico, devido ao uso de solventes pouco tóxicos e em baixas quantidades. Também possibilita a utilização de compostos naturais como o óleo de eucalipto e pode ser considerada ‘Green Chemistry Technique’, ou Técnica de Química Verde.


Nas análises toxicológicas dessa pesquisa, apenas a urina foi utilizada como matriz biológica, entre todas as outras disponíveis. Ela possui uma janela de detecção maior se comparada ao sangue, ou seja, as drogas e os produtos de biotransformação estarão presentes por mais tempo nas amostras urinárias. Outra vantagem é que a coleta de urina não é invasiva, apresentando ainda significativa concentração de moléculas para serem analisadas.

Além da inovação no método, o trabalho também conseguiu outras descobertas. Ele foi o primeiro em LPME a analisar uma grande gama de moléculas de benzodiazepínicos, entre drogas percursoras e seus produtos de biotransformação. Foi pioneiro, ainda, na utilização da dupla derivatização, processo que aumentou a seletividade e a sensibilidade da detecção dessas substâncias sem a necessidade de diferentes metodologias extrativas para uma análise toxicológica, diminuindo o tempo para identificação dessas moléculas.

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