ISSN 2359-5191

07/08/2015 - Ano: 48 - Edição Nº: 71 - Educação - Faculdade de Educação
Jovens de meios populares sofrem com modelo de educação elitizado
Estudantes pouco ouvidos, escolas pouco democráticas e processos pedagógicos distantes de sua realidade são alguns dos principais problemas

A educação é um direito, não um privilégio. No entanto, conforme mostra a pesquisa feita em 2014 por Sueli de Lima Moreira para seu doutorado em Educação pela USP, além de restrito o acesso ao ensino formal, os métodos utilizados para promover o aprendizado se mostram ineficientes e inadequados aos jovens de meios populares, ao ignorarem suas realidades.

A pesquisadora explica: “A educação, como nos ensinou Paulo Freire, é um lugar de conflito, onde o diálogo precisa ser conquistado, principalmente entre as experiências populares, geralmente expressas nas vozes de estudantes, e o saber escolar, expressos nos currículos e nas práticas docentes.”

O problema é que na maioria dos casos, isso não acontece. Pelo contrário. É bastante comum que o educador tente impor o saber escolar, por meio de uma dinâmica unilateral, em que se considera o sujeito da ação de transferir conhecimento para seu objeto, o aluno, totalmente passivo nessa concepção de ensino.

Sueli explica como ocorre esse processo: o estudante é rotulado como “sem saber”. Assim sendo, os “outros saberes” que possui (não instituídos, do cotidiano, suas experiências e vivências), são deixados de lado, e não há diálogo. Como consequência, os alunos não se inserem de fato no ambiente escolar e não aprendem.

Por isso, é comum achar que os alunos são “carentes”. “Eu me pergunto sempre, carentes de quê? Quando tenho a oportunidade de questionar o interlocutor, respondem ‘de cultura (porque entendem cultura como sinônimo da cultura letrada, escolar), de valores’ diz a educadora. “Nunca escuto que seriam carentes de direitos ou de condições materiais. A escola não pode se tornar um espaço público enquanto for incapaz de superar esses estereótipos que habitam suas práticas.”

A doutora cita a proposição do pesquisador francês Bernard Charlot de que os professores adotem a “leitura positiva”. Ou seja, que prestem atenção no que os alunos “fazem, conseguem, têm e são”. Que enxerguem em seus estudantes, mais do que suas dificuldades acadêmicas, sua complexidade. Que vejam um sujeito que possui uma história, que interpreta, resiste e busca interferir no mundo no qual vive.

Fundadora e coordenadora da Casa da Arte de Educar (CAE) uma organização social que atua com educação há 16 anos em favelas cariocas e do restante do Brasil  Sueli conta que desenvolveu uma metodologia a que chama “Mandala de Saberes” – cujo objetivo principal é reconhecer os saberes populares e incluí-los nas práticas pedagógicas, assim promovendo interação entre eles e os conhecimentos acadêmicos –, que tem apresentado resultados significativos no desempenho dos estudantes.

A educadora afirma que, embora os fatores de contexto (nível de renda e origem social, por exemplo) tenham influência na aprendizagem, eles não são determinantes: “As variáveis implicadas diretamente na vida escolar (como os projetos e práticas pedagógicas) impactam mais as condições de aprendizagem de estudantes do que sua origem social”. Deixa, então, claro que um ensino melhor estruturado, além de necessário em si e por si, é um poderoso agente de transformação social.

Os jovens de meios populares relatam que sentem falta de mais espaço para reflexões. Reclamam que na escola há pouco espaço para experimentarem as diversas manifestações dos mundos que os cercam. Afirmam que os professores ensinam, mas que na maioria das vezes só conseguem aprender com familiares ou colegas. ”Isso torna patentes as marcas de um processo educativo constituído pelo avesso, uma não-educação que interpela nossa compreensão dos processos pedagógicos.”

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