ISSN 2359-5191

07/08/2015 - Ano: 48 - Edição Nº: 71 - Saúde - Instituto de Física
Método aumenta eficácia do tratamento de câncer cerebral
Pesquisa demonstra como utilização de carreadores, somada a hipertermia localizada, melhora resultados do combate ao principal tipo de tumor no cérebro
Métodos convencionais, como a quimioterapia, possuem baixa resposta terapêutica no tratamento de câncer de cérebro / Fonte: tegum.com.br

Foi demonstrada pela primeira vez, de forma controlada e segura, a eficiência da combinação da hipertermia, ou aumento localizado de temperatura, a transportadores de droga no tratamento de câncer. O glioblastoma, forma mais recorrente de tumor cerebral, foi combatido mais efetivamente por meio da utilização de lipossomos termossensíveis, estruturas de liberação seletiva, monitoradas a partir de microscopia confocal de fluorescência.

A grande variedade de tumores que se manifestam em tecidos humanos demanda um espectro igualmente amplo de técnicas de combate às células cancerígenas, o que inviabiliza a proposição de soluções padronizadas. Tumores cerebrais por exemplo, como é o caso do glioblastoma, costumam ser bastante severos, possuindo baixa resposta terapêutica. O trabalho de doutorado de Tiago Ribeiro de Oliveira, desenvolvido no Instituto de Física da USP, mediante a isto, buscou a otimização das técnicas utilizadas para o tratamento deste tipo de câncer.

A eficácia das formas convencionais de terapia para tumores cerebrais esbarra em dificuldades relacionadas à estrutura do cérebro. O principal órgão do corpo possui um sistema de proteção, a barreira hematoencefálica, que dificulta a atuação de quimioterápicos. Tal mecanismo, uma espécie de membrana com permeabilidade seletiva que reveste os vasos que irrigam o cérebro, é responsável por impedir a circulação de substâncias indesejáveis, como microorganismos ou drogas, mas bloqueia também a ação da quimioterapia convencional. Além disso, a região cerebral não é altamente vascularizada, o que também prejudica o transporte dos medicamentos até as áreas afetadas.

No caso da radioterapia, outra forma comum de tratamento, o que traduz a baixa eficiência é o baixo poder de penetração da radiação ionizante. Revestido pela caixa craniana, que absorve grande dessa radiação, o cérebro teria que ser exposto a doses muito maiores de radiação que a ideal, o que, indo na contramão do esperado, poderia causar o surgimento de novas células tumorais. Uma alternativa seria a remoção cirúrgica de um pedaço de crânio, para um melhor alcance da radiação. No entanto o procedimento é evitado, por ser considerado muito invasivo.

Tanto no caso da intervenção cirúrgica como em técnicas de cauterização, que visam promover a eliminação do câncer por meio da exposição a temperaturas bastante elevadas (até cerca de 55 graus), há grande dificuldade em se determinar a extensão da área efetivamente prejudicada pelo câncer. Devido a isso, pode-se, em ambos os procedimentos, comprometer células sadias. “A eliminação de células fora dessa fronteira (benignas) poderia, se tratando de cérebro, resultar na perda de um sentido ou do movimento de membros, por exemplo. Não se quer correr esse risco”, diz Oliveira.

Essa “precaução” pode fazer com que seja eliminada apenas a parte mais externa do tecido tumoral, deixando as células remanescentes ainda viáveis, ou seja, capazes de se reproduzir, causando a reincidência do tumor.

A hipertermia, técnica já utilizada no tratamento do câncer, surge com a possibilidade de melhora desse panorama. É sabido que a elevação da temperatura local melhora a resposta à tratamentos realizados com quimioterápicos, por aumentar a permeabilidade da barreira hematoencefálica. Apesar do aquecimento - feito mediante temperaturas similares as encontradas em estado de febre alta (42 graus) - não ser suficiente para causar a morte do câncer, este consegue berturbar a biologia de todo o tecido tumoral, viabilizando o método proposto por Oliveira.

Para a eliminação das células cancerígenas que sobreviveram à esse aquecimento localizado, o pesquisador propõe a utilização de lipossomos termossensíveis. Esses “carregadores de drogas” interpretam a temperatura das células e liberam o fármaco apenas nas regiões com temperaturas próximas a 42 graus.

Para monitorar a atuação desses “carreadores”, a fim de garantir a concentração quimioterápica ideal, utilizou-se uma droga fluorescente. A doxorrubicina pôde ser facilmente identificada no organismo por meio de microscopia confocal de fluorescência. O seu monitoramento no organismo em tempo real, indicou uma melhora significativa no aproveitamento do processo de transferência e distribuição da droga, da região do vaso sanguíneo até o tumor, o que justifica a morte de um maior número de células.

Análises posteriores indicaram que, com o método, o acúmulo de medicamentos em regiões expostas à hipertermia foi cinco vezes maior que o convencional. “Demos justificativas para se utilizar a hipertermia no cérebro”, pontua Oliveira.

O desafio é agora aplicar a tecnologia à medicina tradicional. Para tal, o dispositivo de aquecimento ainda é o maior entrave. Para o estudo, o pesquisador teve de desenvolver uma antena de microondas para a promoção do aumento de temperatura localizado no cérebro das cobaias, devido às dimensões físicas do órgão dos roedores. No entanto, para aplicações em humanos, técnicas de aquecimento focalizado por ultrassom se mostram como potencialmente mais eficazes.


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