ISSN 2359-5191

11/11/2015 - Ano: 48 - Edição Nº: 108 - Meio Ambiente - Instituto de Biociências
Consumo de carne de caça pode estar ligado à preservação da floresta
Estudo sobre valor da Floresta Amazônica aponta que a preservação vegetal influencia na alimentação dos moradores
Área de Estudo/ fonte: Patrícia Torres

A interação entre moradores e floresta diz muito a respeito de a sua conservação e exploração de recursos naturais. O alimento retirado da floresta, por exemplo, está diretamente ligado à abundância de cobertura vegetal que ainda existe na região. Na Floresta Amazônica, por exemplo, ainda é intensa a atividade de caça e seu comércio entre os moradores de diferentes regiões, próximas aos centros urbanos, ou em lugares mais afastados.

Essas e outras afirmações são os resultados da tese de Patrícia Torres, realizada no Instituto de Biociências da USP (IB), que investigou durante 6 meses os fatores que influenciam o consumo e a caça de animais da floresta amazônica oriental.

O estudo abarcou três municípios do estado do Pará: Santarém, Belterra e Mojuí dos Campos. No total, um milhão de hectares foi analisado; e dentro desta área, 240 famílias foram entrevistadas. As entrevistas eram realizadas com os chefes da família, que normalmente eram os responsáveis pela caça e coleta de outros produtos florestais. Perguntas a respeito do consumo de carne, e da renda da família são exemplos da análise que determinou os resultados da tese.  

De acordo com ela, três são os fatores importantes para determinar a relação entre habitantes e floresta: a cobertura vegetal presente em uma área grande no entorno do domicílio, as condições econômicas dos moradores, e as atividades de subsistência, como uso da floresta e roça.

O consumo de carne de caça (como as da paca e do tatu) estão diretamente relacionados à condição econômica do habitante.  Quanto maior a renda da família, maior o consumo de caça. Mas quanto mais remota a área, maior o consumo também. Isso ocorre porque, de acordo com Patrícia, nas áreas mais longes do centro urbano há pouca oferta de outros tipos de proteína. “O consumo desses animais tem uma importância maior para os moradores que tem menos disponibilidade de outras fontes de proteína”, completa.

Patrícia afirmou que foi difícil descobrir com precisão informações sobre o comércio de carne de caça. Por ser proibido por lei caçar e vender carne de caça, muitos moradores não quiseram contar se compravam a carne de caça.

Uma segunda parte da pesquisa tratou da valorização que os moradores dão para a floresta. Valorização essa que levou em conta seu uso econômico (consumo dos recursos naturais) e as atividades lá realizadas (como lazer). E o resultado mostrou que as pessoas que se alimentavam de carne de caça tinham uma visão mais positiva sobre elas. Além disso, os habitantes que mais consomem carne também têm uma percepção mais positiva sobre estas.

E aqueles que habitavam em regiões já desmatadas tinham uma valoração menos positiva a respeito da mata. Isso mostra que a aproximação e a relação direta com a floresta pode ser a chave para sua preservação. “Entender porque os moradores valorizam a floresta é uma oportunidade para a sua conservação. A valorização da mata deve ser mais conscientizada e incentivada, para as pessoas terem menos incentivo de desmatar” comenta a bióloga. “Então quanto maior for o desmatamento, menos elas vão ter contato com a mata, e menor será o valor que elas dão para a floresta”, complementa. Desta forma, a percepção que os moradores têm sobre a floresta pode ser a chave para criar novas oportunidades para a conservação, como investir em manejo da caça em comunidades rurais.

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