ISSN 2359-5191

01/03/2016 - Ano: 49 - Edição Nº: 23 - Saúde - Departamento de Fonoaudiologia, Fisioterapia e Terapia Ocupacional
Ultrassonografia em Fonoaudiologia começa a ser usada no Brasil
Ultrassom especial para fonoaudiologia ganha espaço no Brasil através de pesquisa da USP
Software gera as imagens que as crianças devem enunciar / Fonte: LIF Fonologia da FOFITO USP

Já utilizado internacionalmente, o ultrassom na fonoaudiologia começa a ganhar espaço no Brasil através de pesquisa do Departamento de Fisioterapia, Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional da USP. Por meio de sua dissertação de mestrado, Contorno de língua na produção do /s/ e /∫/ (ch) na fala de adultos e crianças com e sem transtorno fonológico, Danira Tavares expõe o conhecimento da ferramenta adquirido ainda em sua graduação e tenta incentivar seu uso no diagnóstico e tratamento de crianças com transtorno fonológico.

O aparelho é semelhante ao utilizado normalmente em clínicas médicas, com a diferença de contar com um equipamento importado que permite que o ultrassom seja conectado a um computador, sincronizando a imagem gerada por ele e o áudio gravado em um microfone. O objetivo da sincronização é analisar o funcionamento oral — mais especificamente o controle da língua — na produção de sons. Para isso, o transdutor do ultrassom é posicionado abaixo do maxilar enquanto gravam-se crianças dizendo o nome de imagens geradas por um software. Após coletar os dois arquivos, através do mesmo software, analisa-se os movimentos da língua produzidos a cada palavra enunciada. Esta análise é bastante utilizada no diagnóstico desse transtorno, onde há alterações de fala, mas a ultrassonografia também pode ser utilizada por dentistas para auxiliar pessoas que passaram por cirurgias de língua.

Por ser uma das primeiras pesquisas do tipo realizadas em solo brasileiro, Danira teve de começar com o básico, no caso, a verificação do padrão de contorno de língua no português brasileiro. O padrão é estabelecido através da análise dos movimentos linguais de pessoas falantes da língua portuguesa brasileira que nunca tiveram queixa de alteração de fala ou linguagem. Com esta primeira análise, é possível verificar qual é o contorno correto para cada som específico e perceber o que uma criança com alteração de fala e linguagem está fazendo de errado.

Para verificar este padrão, a pesquisadora analisou 20 adultos e 13 crianças sem alterações de fala — a escolha de também analisar crianças deu-se para realizar uma comparação melhor com crianças de mesma idade com transtorno fonológico. Por fim, também foi analisado um grupo de 36 crianças com transtorno fonológico, que acabou sendo reduzido a sete por conta de um critério estipulado: a troca específica do som /∫/ (som de ‘ch’) pelo som /s/. “Nós pesquisamos em adultos porque, como não temos estudos no Brasil, não sabemos como é o padrão de contorno da língua em nosso idioma. Mas como a articulação de um adulto para o de uma criança em desenvolvimento é diferente, também pegamos um grupo de crianças sem queixas de alteração de fala e linguagem”, explica Danira.

Dentre as sete crianças analisadas, seis reproduziam exatamente o movimento do som ‘s’ ao tentarem dizer palavras que têm som de ‘ch’, enquanto uma apresentava alguma diferença. Um exemplo é que ao tentar dizer a palavra ‘chave’, as crianças acabavam dizendo ‘save’ em vez da pronuncia correta. A substituição mostra que estas crianças não conseguem diferenciar os sons, ou seja, o problema não é apenas motor. “Elas estão fazendo o mesmo som, o que chamamos de uma substituição de um fonema pelo outro e não uma distorção, é realmente uma substituição do movimento”, diz a pesquisadora.

A ultrassonografia só não é utilizada em clínicas de fonoaudiologia devido ao preço do equipamento. Por se tratar de uma tecnologia importada, nem todas as instituições, principalmente as do sistema público de saúde, têm a condição de adquirir o aparelho. Se não fosse por seu preço, o ultrassom já seria uma ferramenta frequente no tratamento de transtornos fonológicos. O grande diferencial que seu uso traz é a possibilidade de realizar um diagnóstico detalhado do transtorno, o qual facilitaria muito na compreensão do problema pela criança e de seu tratamento. “Este diagnóstico detalhado pode ajudar a mostrar qual destas áreas — cognitiva, auditiva e motora — têm mais alteração”, fala Danira. “Se você mostrar para uma criança com transtorno como está o posicionamento da língua no ultrassom, ela vai perceber aonde e o que ela tem movimentar para produzir o som corretamente. A grande ajuda seria mostrar o que poderia ser feito àquela criança que tem muita dificuldade de entender o padrão”, conclui.


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