ISSN 2359-5191

17/06/2016 - Ano: 49 - Edição Nº: 78 - Meio Ambiente - Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz
Sustentabilidade é rentável para o agronegócio, revelam estudos
Pesquisa comprova que programas sustentáveis do campo são vantajosos independentemente de benefícios do mercado
Mesmo com crise econômica, o agronegócio representou cerca de 23% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional em 2015. Foto: Cristiano Mariz/Exame

Produtores rurais que adotam programas de sustentabilidade têm melhor desempenho e resultado econômico, segundo estudos realizados pela Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (Esalq) da USP. Até então, muitos líderes do setor consideravam a adequação das propriedades aos novos critérios socioambientais como geradora de novos custos e de uma possível ampliação de receita.

A pesquisa, realizada em conjunto com a Universidade de Oxford, mostra que boas práticas de gestão, produção, conservação de recursos naturais e condições de trabalho aumentam a produtividade e diminuem gastos, tornando o produtor mais competitivo e resistente à crises. Desta forma, o desenvolvimento não estaria atrelado apenas a mercados exigentes — que tendem a pagar mais por produtos sustentáveis —, mas às próprias transformações, ocorridas diretamente no interior das unidades produtivas.

Os maiores índices de saúde financeira foram observados em indivíduos com melhores notas socioambientais, o que sinaliza uma relação de causalidade. Entretanto, importantes indutores sustentáveis — como crédito rural e certificação ambiental — ainda necessitam de estímulos públicos e privados.


Com cerca de 30% do território brasileiro destinado à agropecuária, preocupação socioambiental aumenta. Foto: Jonas Oliveira/Folha Imagem

Para um dos responsáveis pela pesquisa, Luis Fernando Guedes, a sustentabilidade também é interesse do trabalhador. Segundo ele, crises ambientais afetam diretamente o campo (e o bolso) do trabalhador rural. “Um meio ambiente sustentável é importante para ter água para a agricultura, evitar secas, inundações”, diz. “A sustentabilidade é tanto uma oportunidade quanto uma necessidade para o agronegócio. Não é possível virar as costas.”

Desempenho socioambiental e risco de falhas

O crédito rural, política pública responsável por financiar o custeio, os investimentos e a comercialização da produção, não tem incorporado a sustentabilidade como fator central de sua aplicação. Segundo dados levantados pela pesquisa, o acompanhamento e os incentivos do banco induzem em seus clientes uma melhoria socioambiental contínua, mas deixa para outras iniciativas a maior parte da autorregulação.

De acordo com os estudos, caso o crédito rural fosse utilizado como indutor ativo da sustentabilidade, tanto o produtor rural quanto o setor financeiro seriam beneficiados. Isso porque produtores que adaptam suas propriedades à responsabilidades socioambientais se inserem em nichos privilegiados, além do ganho de reputação na empresa e no produto. Assim, um produtor com melhor desempenho socioambiental tende a ser um cliente bancário com menor risco de falhas e melhor capacidade de pagamento.

Para chegar aos resultados, os estudos relacionaram indicadores de saúde financeira com a nota de desempenho socioambiental dos clientes do Rabobank no Brasil — uma multinacional holandesa. Mais de mil avaliações foram feitas entre 596 produtores, no período de 2009 a 2013. O objetivo foi analisar o efeito da política de concessão de crédito de uma instituição financeira sobre o desempenho socioambiental de seus clientes.

O crédito rural é responsável por um terço do financiamento da atividade agropecuária no Brasil, de acordo com dados do Sistema Nacional de Crédito Rural. Foto: Divulgação/MDA

O crédito rural alcança as agriculturas empresariais e familiares de todo o país. Exemplos de financiamento no campo, o Plano Safra e o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) alocaram, só entre 2015 e 2016, cerca de R$ 216,6 bilhões, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento Agrário.

Ainda não existem muitas políticas financeiras que visam a expansão da sustentabilidade. Atualmente, diversas iniciativas socioambientais orientam o setor financeiro, como o Protocolo Verde, os Princípios do Equador e o Banking Enviroment Initiative, mas limitam-se a regular a concessão de crédito excluindo produtores que não cumprem a legislação socioambiental. “Faltam programas mais agressivos de financiamento que estimulem a agricultura sustentável”, diz o pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Eduardo Assad, em seu livro intitulado “Sustentabilidade no agronegócio brasileiro”.

Assad cita o Plano ABC como uma das exceções. Responsável por mitigar a emissão de carbono por fazendas desde 2011, o plano visa auxiliar a redução das emissões de gases do efeito estufa em cerca de 37% até 2020. Contudo, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento Agrário, ainda representa uma pequena parcela do montante de crédito destinado ao setor — menos de 2% do total do Plano Safra 2015/16.

Certificação e aumento da produtividade

A pesquisa também verificou que fazendas com certificação socioambiental têm melhor desempenho econômico que as não certificadas. Ao contrário do que se imaginava, o preço do produto certificado não difere dos demais, mas a certificação traz para o produtor maior produtividade, maior receita e eficiência de gestão.

O levantamento, feito em parceria com o Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora), mostrou que a principal vantagem vem do interior das fazendas. Com a melhoria da gestão e da eficiência produtiva, o desempenho econômico aumenta, sem necessariamente precisar de preços diferenciados — que são esperados de início, mas tendem naturalmente a diminuir ao longo do tempo. Cerca de 78 fazendas produtoras de café do cerrado mineiro foram analisadas com o apoio do Sebrae/MG, entre 2011 e 2013.

Segundo a pesquisa, houve um aumento de R$ 2.412 por hectare do café após o ganho do “selo verde”. A mudança esteve associada ao aumento na produção, de 2,5 para 9,4 sacas/ha, além da redução nos custos de administração, adubação e controle de pragas e doenças.

Segundo a Federação dos Cafeicultores da região, o cerrado mineiro é responsável pela produção de 12,7% do café nacional. Foto: Paulo Fridman/Bloomberg

Os resultados são convergentes com uma série de estudos realizados pela Fundação Espaço Eco em duas regiões mineiras — Cerrado e sul de Minas. O grupo, responsável por medir a sustentabilidade por meio de metodologias científicas, avaliou impactos sustentáveis da produção de café na safra de 2012/2013. Cerca de 90% dos impactos ambientais decorreram da fase agrícola, com relação direta entre a melhoria da sustentabilidade e o aumento de produtividade nas lavouras.

Além de estimular melhorias ambientais e sociais no setor agropecuário, a certificação ambiental é buscada por produtores que querem se inserir em mercados mais exigentes. “A reputação é um valor que vem cada vez mais sendo gerenciado pelas empresas agrícolas, e um componente da busca pela sustentabilidade do setor”, explica a gerente da Fundação, Sara Sales.

Atualmente, o Brasil é líder e pioneiro na sua implementação, principalmente nos setores de produção de commodities para exportação, como a soja, o açúcar e o próprio café. “Se a certificação ambiental é um bom negócio para a sociedade e para o produtor, devemos ter mais estímulos para que produtores se certifiquem”, conclui Fernando Guedes.

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