A identificação de domínios tecnológicos: o caso da Engenharia de Biossistemas

Keylla Guiguer – Bolsista do Programa Aprender com Cultura e Extensão (2013/14). Orientada pelo Prof. Dr. Fabrício Rossi.

SOCIOTECH

A equipe do Portal Biossistemas traz nesta publicação uma entrevista com os professores Carlos Viegas e Rubens Nunes, do SOCIOTECH (Laboratório de Sociologia e Economia da Ciência e Tecnologia nos Sistemas Agroindustriais). O laboratório foi criado junto ao departamento de Engenharia de Biossistemas da FZEA/USP com o objetivo de aprofundar e estimular as pesquisas e análises econômicas e sociológicas da tecnologia na área de Sistemas Agroindustriais, atividade esta desenvolvida em apenas alguns centros acadêmicos no país, como a Unicamp e a USP.

A primeira atividade do SOCIOTECH foi a organização do seminário “A identificação de domínios tecnológicos: o caso da Engenharia de Biossistemas”, em que forma apresentadas e discutidas as informações de um artigo sobre esse tema elaborado pelos professores. Durante a apresentação foram discutidos diferentes aspectos e conceitos de tecnologia e inovação, seja para a Engenharia de Biossistemas, como para outras áreas do conhecimento. Segundo o prof. Rubens, a definição correta de inovação é muito importante, principalmente em um âmbito político – “Fazer política com uma ideia intuitiva, ou senso comum de inovação, pode acarretar em uma má alocação de recursos a serem investidos”. O docente ainda destacou que a atividade do Engenheiro por si só já é inovadora e que a inovação não deve ser ensinada separada do próprio ensino da Engenharia. Ela será naturalmente fruto da atividade do Engenheiro que possuir uma base sólida de ensino. “Ensine engenharia, que implicitamente você estará ensinando inovação. O estudante deve estar preocupado em aprender à fundo as coisas, para que seja capaz de inovar” afirma.

Pensando na Engenharia de Biossistemas como um domínio tecnológico emergente, os profs. Rubens e Carlos acreditam que ainda é cedo para trata-la como um domínio tecnológico único. Segundo as pesquisas realizadas durante a confecção do artigo, existe uma tendência de unificação das Engenharias Agrícola, Florestal e até certo ponto da Engenharia Ambiental, porém a Biotecnologia e uma parte da Engenharia Ambiental não “falam” a mesma linguagem, o que gera três concepções diferentes de Engenharia de Biossistemas. A 1ª é a unificação das Engenharias Agropecuárias tradicionais, propiciada pela tecnologia da informação. A 2° concepção é definida pelo uso das ferramentas de tecnologia da informação para intervir no sistema de produção agropecuária e ecológica, enquanto a 3° está ligada a Biotecnologia, Engenharia genética e parte da Engenharia Ambiental, que define o sistema sobre o qual ela irá atuar como algo vivo e que possui uma dinâmica interna própria.

Para o prof. Rubens, estas etapas são normais no processo de consolidação de um domínio tecnológico. “Normalmente um domínio tecnológico surge de um outro domínio pré-existente, como foi o caso da Engenharia Elétrica e a Engenharia Eletrônica. Em um determinado momento da história, não era possível definir se o Engenheiro era Elétrico ou Eletrônico.”

Engenharia de Biossistemas
Engenharia de Biossistemas

A Engenharia de Biossistemas ainda se encontra nesse processo e ainda necessita de algumas ações e tempo para se consolidar como domínio tecnológico. O prof. Carlos acredita que um passo importante para consolidação acontecerá assim que os primeiros produtos e tecnologias advindas da Engenharia de Biossistemas forem colocados no mercado, servindo como exemplo do que o Engenheiro de Biossistemas é capaz de fazer.  Além disso, essa consolidação também passa pela melhoria do ensino, padronização dos currículos, criação de uma comunidade tecnológica e artigos científicos da área. O docente também destacou a necessidade de criação de grupos e comunidades na área que intensifiquem a interação entre professores, alunos e futuros profissionais, principalmente uma comunidade com autonomia em relação ao mercado e indústria da área, como acontece com a comunidade dos médicos, já consolidada e autônoma em relação à indústria farmacêutica. 

O prof. Carlos acredita que outros seminários serão organizados, pois estando a Engenharia de Biossistemas em processo de construção como domínio tecnológico ainda existem diferentes visões e definições sobre o tema, que precisam ser discutidas e analisadas em busca de um consenso. O docente também acredita que este seminário e os que estão por vir devem contribuir para um maior entendimento e discussão de assuntos referentes à Engenharia de Biossistemas entre alunos, professores e futuros profissionais da área.

A Engenharia de Biossistemas depende, acima de tudo, de todos nós, estudantes (futuros profissionais), professores e profissionais da área e afins. A identificação do domínio tecnológico da Engenharia de Biossistemas se consolidará pelas nossas ações!

2 Comentário

  1. Prezada Keylla , parabéns pelo artigo !

    Gostaria de saber se o curso na FZEA se preocupa em ensinar aos alunos linguagem de programação e quais linguagens são ensinadas ( C#, C++, C , DELPHI, COBOL, Java etc. ) ?

  2. Olá Alberto, obrigada pelo comentário.
    Na Engenharia de Biossistemas da Universidade de São Paulo, são ensinados os conceitos de algoritmo/português estruturado, seguido de C++ e também MATLAB, para realizar cálculos e operações mais complexas.