Intercâmbio durante a graduação

Texto escrito por Mariana Zanarotti Shimako, aluna de graduação de Engenharia de Biossistemas em FZEA-USP, orientada pelo Prof. Dr. Fabrício Rossi no Programa Unificado de Bolsas da USP.

O intercâmbio é uma experiência inesquecível e enriquecedora entre os universitários que desejam conhecer outra cultura e metodologia de ensino.  Universidades públicas como a Universidade de São Paulo (USP) possuem programas institucionais a fim de proporcionar essa oportunidade aos seus alunos, através de bolsas como a de mérito acadêmico, ou seja, que privilegiam os alunos com maiores rendimentos acadêmicos durante a graduação, além de acordos de mobilidade entre Universidades de diversos países.

O Portal Biossistemas Brasil conversou com dois alunos da Engenharia de Biossistemas da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos da Universidade de São Paulo, sobre os intercâmbios acadêmicos realizados por eles. Confira abaixo as experiências vividas por eles em uma Universidade no exterior.

O primeiro entrevistado é Caio Augusto de Campos Moraes, atualmente Coordenador de Projetos na Biossistec Jr., Empresa Júnior da Engenharia de Biossistemas na FZEA (Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos da Universidade de São Paulo), em seu segundo ano de curso realizou intercâmbio através do programa Ciências sem Fronteiras para a Wayne State University por 4 meses, Universidade de Kentucky por 9 meses e na Universidade de Illinois Urbana-Champaign por 3 meses durante as férias de verão, todas nos Estado Unidos.

Caio em um jogo do Kentucky Wildcats.
William T. Young Library – University of Kentucky

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Portal Biossistemas: Você sempre teve vontade de fazer um intercâmbio no exterior ou seu ingresso na faculdade te chamou atenção para essa vivência?

Caio: Eu sempre tive a curiosidade de saber como era morar em outro país, mas nunca foi algo concreto ou planejado. Após meu ingresso na faculdade isso começou a fazer mais sentido, ter um propósito e se tornou também mais acessível. Alguns colegas de sala estavam tentando e resolvi tentar junto, foi a melhor escolha da minha vida.

Portal Biossistemas: A oportunidade de estudar em outro país traz novas experiências e consequentemente outros conhecimentos tanto para a vida social como a acadêmica, você acha que isso faz com que a pessoa seja mais independente?

Caio: Com certeza. Posso dizer que existia um Caio antes do intercâmbio e outro depois. Aquela frase clichê em que se diz que sua vida começa aonde sua zona de conforto termina é muito real. Cresci muito como pessoa e me tornei muito mais independente e humano. Foi uma experiência que mudou minha vida.

Portal Biossistemas: Qual foi a maior dificuldade que você encontrou quando chegou na outra Universidade? Como tentou resolvê-lo?

Caio: Sair de casa e ir para um lugar totalmente desconhecido, com outra língua, outra cultura, outras pessoas é algo desafiador e que gera um pouco de medo. Porém minha animação era tão grande por estar vivendo tudo aquilo que a adaptação foi muito fácil. Eu não tinha medo de errar, o que me ajudou muito a aprender. A maior dificuldade que encontrei foi a Universidade em si. Fiz meu intercâmbio pelo extinto Ciência sem Fronteiras e foi alocado em uma Universidade que não tinha o curso de Engenharia de Biossistemas. Fui mesmo assim, mas foi algo bastante chato, pois não queria passar 1 ano da minha vida sem estudar o que havia escolhido como carreira. Entrei em contato com professores do Brasil para pedir ajuda, conversei muito com os responsáveis na Universidade de lá (ainda arranhando o inglês naquela época) e depois de 4 meses consegui ser transferido para uma universidade que oferecia o curso: Biosystems Engineering. Essa foi a segunda melhor escolha da minha vida.

Portal Biossistemas: Qual a maior diferença entre o ensino do exterior e do brasileiro? Há algo que você presenciou, que sob seu ponto de vista pudesse ajudar o Brasil a melhorar seu ensino?

Caio: Carga horária, grade curricular, comprometimento dos alunos, forma de avaliação, esportes e custo de ensino são os pontos mais diferentes. Tem bastante coisa diferente, algumas que sob o meu ponto de vista são melhores lá do que aqui, e outras nem tanto. Para começar a pontuar, o que eu vivenciei e achei muito válido no sistema de ensino norte-americano é carga horária das matérias, as aulas não são cansativas; pois dificilmente tem mais de 1 hora de aula expositiva, em contrapartida isso demanda um enorme engajamento dos alunos para estudar em casa, fazer os deveres e atividades extra-classe. Além disso, na grade curricular os próprios alunos decidem as matérias que vão cursar, e definem isso no decorrer do curso visando sua área de especialização e interesse. Sua nota final não é baseada apenas em 2 ou 3 provas, na verdade, pouquíssimo da sua nota final é dependente das avaliações; deveres de casa, presença, participação e trabalhos contam muito. A infraestrutura e humanização da universidade para com os alunos é admirável, o bem-estar físico e mental é sempre resguardado e isso motiva muito os alunos a darem seu melhor. O incentivo ao esporte é ABSURDO, e isso gera um sentimento de pertencimento enorme nos alunos. Porém, as universidades públicas lá fora não são gratuitas como no Brasil, isso causa certa elitização do corpo discente, pois a educação superior para os norte-americanos é algo extremamente caro.

Portal Biossistemas: O que o intercâmbio mudou no seu olhar sobre a Engenharia de Biossistemas? Ampliou o campo de visão do curso?

Caio: Eu saí para intercâmbio no meio do meu segundo ano, e pouco sabia sobre o curso ou a profissão. Essa vivência internacional me ajudou a construir um conceito forte do que fazemos e a importância do nosso curso para o Brasil. Era muito legal dizer para alguém que eu fazia Engenharia de Biossistemas, ser reconhecido por isso e não precisar explicar o que isso significava. Tive a oportunidade de participar da Conferência Anual Mundial da Engenharia de Biossistemas, organizada pela ASABE (organização da qual me tornei membro) e naquele momento vi a importância do curso para o mercado de trabalho, e a necessidade de outros mais antigos e conceituados como a Engenharia Agrícola da UNICAMP e UFLA (que estavam presentes na conferência) em se inovar, reinventar, para atender a todas essas demandas, e isso nosso curso já traz na essência.

Portal Biossistemas: No Brasil essa carreira é muito nova, porém em países como os Estados Unidos (EUA) já está estabelecida há um bom tempo, isso ajuda na formação e na empregabilidade dos Engenheiros de Biossistemas?

Caio: Com certeza essa ainda é uma barreira a ser quebrada tanto pelos Engenheiros de Biossistemas já formados quanto por nós, que ainda iremos nos formar. O reconhecimento do curso é sim algo que ajuda na empregabilidade nos EUA, e consequentemente essa falta de reconhecimento pode nos atrapalhar aqui no Brasil. Acredito que mostrar nosso valor e potencial no mercado de trabalho, sendo profissionais éticos e comprometidos irá consequentemente trazer tal reconhecimento.

Portal Biossistemas: A partir da sua experiência, você recomendaria os estudantes a fazerem um intercâmbio?

Caio: Sem dúvida nenhuma. Essa foi uma das melhores experiências da minha vida, tanto acadêmica quanto pessoal. A vivência internacional é enriquecedora, ajuda a formar caráter e abrir não só os olhos, mas também a mente.

Wildcat – mascote da University of Kentucky
Formatura na University of Kentucky

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O segundo entrevistado é Lucas Herker, atualmente presidente da Empresa Júnior da Engenharia de Biossistemas, a Biossistec Jr., na FZEA (Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos da Universidade de São Paulo), realizou o intercâmbio pelo período de um semestre pela Bolsa Mérito na Universidade de Illinois Urbana-Champaign , nos Estados Unidos; no ano passado quando cursava o 4º ano do curso.

University of Illinois Urbana-Champaign

Portal Biossistemas: Você sempre teve vontade de fazer um intercâmbio no exterior ou seu ingresso na faculdade te chamou atenção para essa vivência ?

Lucas: Sempre tive vontade. Na verdade, era um dos meus maiores planos.

Portal Biossistemas: A oportunidade de estudar em outro país traz novas experiências e consequentemente outros conhecimentos tanto para a vida social como a acadêmica, você acha que isso faz com que a pessoa seja mais independente?

Lucas: Com certeza, ter que cuidar de todas as minhas coisas, inclusive gestão financeira e a experiência de estar “sozinho” em um mundo novo, me fez crescer muito como pessoa e me deu muita independência.

Portal Biossistemas: Qual foi a maior dificuldade que você encontrou quando chegou na outra Universidade? Como tentou resolvê-lo ?

Lucas: Tive dificuldade em superar a barreira da vergonha para me comunicar na lingua local. Mas como era necessário, fui conseguindo me soltar mais e expressar aquilo que era necessário.

Portal Biossistemas: Qual a maior diferença entre o ensino do exterior e do brasileiro ? Há algo que você presenciou, que sob seu ponto de vista pudesse ajudar o Brasil a melhorar seu ensino ?

Lucas: O ensino nos EUA é composto por aulas curtas e frequentes ao longo da semana com trabalhos e testes diários, que te faz aprender durante todo o semestre. As provas são mais longas porém mais fáceis. Tal sistema, ao meu ponto de vista, é mais acertivo na aprendizagem, porém para implementá-lo no Brasil, seria necessário realizá-lo em partes, para que os alunos acostumem com a quantidade de tarefas a fazer. Além disso, seria necessária uma conscientização de que cada aluno deve fazer sua parte e não “um faz e os outros copiam” senão não atinge as expectativas.

Portal Biossistemas: Como a Engenharia de Biossistemas é vista lá fora ? E como esses engenheiros e a sociedade veem essa profissão ?

Lucas: Na faculdade onde fiquei, o curso não tem este nome, mas o conceito é o mesmo. Porém, o curso é altamente valorizado, todos o conhecem e dizem ser uma área forte da Universidade.

Portal Biossistemas: O que o intercâmbio mudou no seu olhar sobre a Engenharia de Biossistemas? Ampliou o campo de visão do curso?

Lucas: Pude entender que o Brasil é um país muito rico em recursos naturais, e que as vezes nos acomodamos por termos este “benefício”. Porém, os outros países já sentem o impacto da população e não podem contar com alguns recursos do qual temos em abundância (por exemplo o sol).

Tudo isso me faz acreditar cada vez mais, que nosso curso é a formação chave para a resolução dos problemas que podemos enfrentar.

Portal Biossistemas: No Brasil essa carreira é muito nova, porém em países como os Estados Unidos (EUA) já está estabelecida há um bom tempo, isso ajuda na formação e na empregabilidade dos Engenheiros de Biossistemas?

Lucas: Poucas empresas conhecem nosso curso no Brasil. Mas ao conhecerem e saberem que já é algo consolidado exteriormente, eles se encantam. Então, pode ser que encontremos pontos positivos e negativos nesta situação. Acredito que em alguns anos todos conheçam o curso e a empregabilidade melhore ainda mais.

Portal Biossistemas: A partir da sua experiência, você recomendaria os estudantes a fazerem um intercâmbio?

Lucas: Sim, com certeza. Recomendo a todos que tiverem a oportunidade. E que mesmo sem vontade, façam.