CARROÇA

Autor(es): Alice Alonso; Bárbara Iamauchi; Eloísa Ikeda; Larissa Azevedo; Marília de Castro; Renata Satie.

Categoria: carroça, abrigo

Descrição: Carroça não é somente um instrumento de trabalho. A carroça é um símbolo representativo dos catadores, um item da memória e de luta e, muitas vezes, estabelece relações funcionais com o morar e o guardar. É através da carroça que se dá a relação entre o catador e o ambiente urbano: não há ser humano, mas um modal que disputa o leito carroçável num sistema predominantemente rodoviário. Constatando-se isso, é pelo levantamento da carroça existente e das soluções propostas que se obtém o panorama dos catadores de resíduos sólidos: dificuldades, conflitos sociais e, principalmente, abordagens.

Primeiro, tem-se uma semelhança formal e funcional entre a carroça de boi e a carroça urbana. Aquela, estudada por Luis Antonio Jorge em “Guimarães Rosa: lugares – em busca do quem das coisas”. É no êxodo rural que o indivíduo vai pra cidade e adapta seus conhecimentos. Torna-se a própria tração animal da carroça, na falta de condições e de possibilidades. Diante de novas funções, altera dimensões, escala e alturas para criar uma ergonomia experimental que, ao mesmo tempo em que é forjada conscientemente, também molda inconscientemente corpos.

Com o fortalecimento do Movimento Nacional dos Catadores entre 1990 e 2000, consolida-se o grupo de trabalho que, desde sempre, se espelhou na carroça para desenvolver suas atividades. Ganham força para, entre outros aspectos, refletir sobre suas condições de trabalho e buscar direitos e reconhecimento. Ganham, inclusive, autonomia para organizarem-se coletivamente e “superar” a carroça com automóveis adaptados. A carroça resiste: ainda é símbolo de autonomia para muitos catadores. Assim como em todas as esferas, é notado o embate entre coletivo e indivíduo. Sendo assim, estudar a carroça tornou-se essencial para a compreensão da figura “catador” no espaço.

É sua representatividade num lugar que o tornou invisível. Através da arte, procura-se reestabelecer este contato perdido: Pimp My Carroça, por exemplo, promove a intervenção artística em carroças. Através da legislação, sua invisibilidade é reforçada: em Porto Alegre (2006), proibiu-se a circulação de carroças de catadores.

As propostas apresentadas são extremamente insensíveis no que tange o cotidiano dos catadores. Ignoram a dificuldade econômica dos indivíduos e da própria organização das Cooperativas, que arduamente tentam se inserir num processo ainda pouco expressivo de repensar resíduos e sua reinserção na lógica de consumo. Ignoram, também, questões chaves como ergonomia e adaptabilidade. E, por último, ignoram que a carroça não interage apenas com a cidade, mas são feitas para pessoas. [Texto fornecido pelos estudantes]

 

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