Análise da noção de regionalismo na obra de Antonio Candido, tomando como ponto de partida a leitura do livro Formação da literatura brasileira, onde o autor apreende o surgimento da
tradição regionalista como uma das tendências do movimento romântico e como um instrumento de descoberta do país novo. A perspectiva regionalista é apresentada nas suas várias fases
ao longo da história do sistema literário brasileiro, de forma não homogênea e sempre reagindo de forma problemática aos processos unificadores nacionais. No debate sobre a
permanência do regionalismo na literatura brasileira, destaca-se a leitura da obra de Guimarães Rosa como um modo de transcendência do regional “graças à incorporação em valores
universais de humanidade e tensão criadora”. Esta análise propõe, enfim, o estabelecimento de uma relação entre a "tendência genealógica" que inventou o indianismo e as tentativas programáticas de dar visibilidade ao regionalismo no Brasil.
Em sua vasta obra, Antonio Candido defende de maneira consistente a compreensão da literatura como um fator de humanização. Essa noção parte de um pressuposto evolucionista que associa humanização a civilização e segundo o qual diferentes grupos de pessoas estariam em diferentes estágios de desenvolvimento, sendo mais civilizados aqueles que superaram um estado de simbiose com a natureza. De acordo com essa perspectiva, a literatura desempenharia um papel fundamental no processo de distanciamento entre o homem e o mundo natural. O objetivo deste ensaio é confrontar a visão de Candido a duas narrativas de Guimarães Rosa: Meu tio o iauaretê (1961) e A terceira margem do rio (1962), para problematizar a função humanizadora da literatura advogada pelo crítico.
No conto de Tutaméia “Reminisção”, Romão demonstra amor incondicional por sua mulher. No final, ela transfigura-se abraçada ao marido que “morre”. O conto oferece uma alegoria parodística da função de Rosa, o autor que supera a sobredeterminação da literatura brasileira ao regionalismo e às cópias falsas de modas estrangeiras. O índice de Tutaméia assinala alguns contos que metaforizam o ponto de vista de João Guimarães Rosa sobre a ordem na qual participa e intervém. Parece-me que o conto “Reminisção” oferece o ponto de vista de Rosa a respeito da função de seu nome de autor regional-universal, na evolução da história da literatura brasileira. Para estudar o modo como essa função se constituiu, considero a contribuição decisiva de Antonio Candido, a partir da estreia do ficcionista nos anos de 1940 e também no ensaio dos anos de 1970 que o consagra escritor superregionalista latino-americano. Para analisar “Reminisção” como alegoria parodística da função de autor regional-universal, separo o conto em três partes correspondentes a três fases de evolução da história do regionalismo; depois analiso o modo como o vocabulário exótico do conto contribui na indeterminação de seu sentido, e proporciona ao leitor a materialidade dos contornos da metafísica da superação pressuposta na função transfiguradora parodiada.
Desde a década de 1990, os estudos sobre Grande sertão: veredas que levam em conta a história social e política brasileira partem eminentemente da análise de personagens e cenas do romance como alegorias de processos vividos no país. Este artigo retoma as formulações de Antonio Candido sobre o livro para ressaltar a potência crítica de um viés interpretativo que, trazendo para o centro da reflexão a expressão do narrador, põe em discussão leis mentais e sociais que tiveram e ainda têm vigor no Brasil.
O artigo procura assinalar duas das principais contribuições de Antonio Candido para uma discussão que recaia, ao mesmo tempo, sobre a forma do romance Grande sertão: veredas e sobre formas políticas e sociais marcantes na história do país.
À guisa de homenagem pelo centenário de Antonio Candido e o 110º. aniversário de Guimarães Rosa, este artigo, por meio de uma pesquisa bibliográfica busca examinar o romance Grande sertão: veredas (1956) baseado na leitura forjada pelo professor e ensaísta Antonio Candido, o qual adentra o complexo e universalizante regionalismo rosiano, demandando compreendê-lo por meio de um método de análise complexo e composto por diversas matrizes teóricas: a saber, o autointitulado redução estrutural.
Explicitando, em linhas gerais, o projeto de pesquisa que tentaremos realizar, diremos que este se desdobra em duas partes: 1) Discussão de um dada corrente de crítica: a Estética da Recepção; contribuição à historia recepcional de João Guimarães Rosa. Percebe-se inclusive pelas palavras utilizadas, que as duas partes se unificam em torno de um objetivo comum: ressaltar o papel, simultaneamente do leitor e da história na análise e interpretação críticas.
Propomos demonstrar que as principais possibilidades de abordagem da obra de Guimarães Rosa foram, pioneiramente, traçadas ou levantadas por Antonio Candido. Para tanto, tomamos como base dois textos seminais sobre Grande sertão: veredas: “O homem dos avessos” e “Jagunços mineiros de Cláudio a Guimarães Rosa”. Nesses e em outros ensaios e resenhas, o crítico traz as ideias que têm balizado os estudos sobre Guimarães Rosa. Embora Antonio Candido seja considerado como o fundador da vertente crítica sócio-histórica da obra do escritor mineiro, consideramos que outras abordagens como a metafísica, a mítica, a linguística, a psicanalítica têm também seu nascedouro nos seus textos.
O presente texto trata, a partir de uma analise comparativa entre o pensamento crítico de Antonio Gramsci e Antonio Candido, das relações de tensão dialética entre o Regional e o Universal no processo de Formação de uma Literatura Moderna Nacional Italiana, na obra de Luigi Pirandello, e os paralelos deste mesmo processo de Formação na Literatura Brasileira, na obra de Guimarães Rosa.
Superando o otimismo patriótico da condição de “país novo” que produziu uma “consciência amena do atraso”, o romance social das décadas de 1930 e 1940, com destaque para as obras de cunho regional, assumiu um tom de denúncia que, segundo Antonio Candido, precedeu “a tomada de consciência dos economistas e políticos”. Ainda segundo o crítico, não obstante os melhores produtos da ficção brasileira tenham sido urbanos – pois que desprovidos da atitude pitoresca e da ênfase na cor local –, a realidade econômica do subdesenvolvimento “manteria a dimensão regional como objeto vivo”. O realismo social que se esboça em particular no assim chamado “romance do nordeste”, é momento importante que assinala as transformações no tratamento da matéria social brasileira na literatura. Nesse artigo, em diálogo com o texto “Literatura e subdesenvolvimento” de Antonio Candido apresentamos alguns apontamentos acerca do modo como a literatura de cunho regional, em particular de autores como Graciliano Ramos e Guimarães Rosa expõem a relação contraditória entre atrasado e moderno de modo a oferecer uma perspectiva crítica em relação ao progresso e à formação nacional.
A partir do ensaio “O homem dos avessos”, em que Antonio Candido analisa a obra Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa, pretendo mostrar o que chamo de dupla navegação do ensaísta no modo de compor a análise. Trata-se de desentranhar do caminho analítico justamente o movimento duplo e ambíguo que Candido surpreende no autor mineiro, qual seja, a oscilação entre os passos enraizados no realismo, herdeiro da vertente crítica dos anos 30, e o voo inventivo e criativo que singulariza escritor e crítico. Selecionando passagens notáveis do ensaio, busco examinar essa dupla flutuação como procedimento crítico analógico à temática estudada por Candido.
As leituras feitas por Antonio Candido da obra de Guimarães Rosa, valiosas tanto pela complexidade de sua visão analítica como pelo seu poder de disseminação de uma linha de entendimento a ser expandida pelos seus discípulos, têm ainda o mérito de deixar entrever, no caso específico da obra
do ficcionista mineiro, a necessidade de uma multiplicidade de interpretações, capazes de melhor dar conta da riqueza e da complexidade dos textos. O trabalho pioneiro do autor de "O homem dos avessos" abriu caminho para leituras de cunho sociológico e metafísico. Em seu tempo, estas foram complementadas por estudos que vincularam a obra de Guimarães Rosa a contextos de modernidade não necessariamente brasileiros. O presente ensaio lança um olhar crítico sobre essas vertentes e reflete sobre possíveis desdobramentos críticos e teóricos no futuro.
Propõe-se um exame da ficção de Guimarães Rosa por meio das contribuições teórico-metodológicas legadas por sua recepção crítica. Com a sua formulação do conceito de supra-regionalismo, Antonio Candido denota a simultânea ruptura que faz a criação rosiana, primeiro com o sertão factual, depois com a temática regional da Literatura Brasileira, tendência estética historicamente marcada pelo exótico e pictórico. Por fim, o artigo ressaltará, sob a ótica da Estética da Recepção, a importância do leitor para a (res)significação da narrativa ficcional.