Num poema intitulado “Desterro”, que está presente na, aparentemente, única obra poemática escrita pelo literato João Guimarães Rosa, datada de 1936, é possível observar-mos, conquanto sucintamente, dois notáveis caracteres constantes das Primeiras Estórias, do já mencionado autor, e das Vidas Secas, do escritor Graciliano Ramos, de modo geral, e no conto “Sorôco, sua mãe, sua filha”, daquele primeiro livro, e no capítulo “Festa”, deste último, de modo particular, visto que os referidos caracteres podem, respectivamente, ser representados pela tristeza e pela viagem – estúltima, permeada por amplas e tortuosas lou-curas – que as personagens de ambas as estórias devem realizar para cumprir as incumbên-cias às quais, por vezes, creem haverem sido predestinadas.
Este artigo objetiva discutir o percurso do modo como o sertanejo é apresentado em obras literárias brasileiras a partir do Romantismo, primeiro estilo em que aparece como personagem, até a intensa liberdade das Tendências Contemporâneas. Fundamentado em discussões sobre sertanismo e regionalismo com Albuquerque Júnior (2011), Almeida (1999), Castro (1984) e Freyre (1976), este trabalho se direciona para um olhar de como o sertão/sertanejo se insere numa “caminho” trilhado dentro da produção literária no trajeto das épocas mencionadas. Deste modo, com o estudo empreendido, entende-se que o sertanejo mítico e depois realista dos oitocentos, modifica-se no forte lutador diante da seca e das injustiças sociais no século XX, utilizando-se da sua força, resistência e bom-humor que lhe são característicos, encarando as árduas sagas com seus únicos recursos, os impalpáveis.
Em um país continental como o Brasil, o território contribui na formação de variadas identidades ligadas aos diferentes espaços que compõem a realidade nacional. A tradição literária, ao conferir tratamento estético a tais formações identitárias, elaboram mitos que estruturam o imaginário social referente à noção de brasilidade. Dentre os mitos assim produzidos, o do sertanejo é central tanto para questão da identidade nacional como para o desenvolvimento da tradição literária. Este trabalho aborda a evolução desse signo a partir da análise de obras características de diferentes momentos do sistema literário brasileiro: Os Sertões, de Euclides da Cunha; Vidas Secas, de Graciliano Ramos; Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa; O rio e Morte e Vida Severina, de João Cabral de Melo Neto e Essa Terra, de Antônio Torres. A pesquisa revelou que a representação literária fratura a categoria sertanejo em dois gêneros segundo os diferentes roteiros migratórios que eles realizam: o “sertanejo errante” e o “sertanejo retirante”.
Os manuscritos atestam um modo de memória e um processo criativo que dizem muito de um momento cultural. Simultaneamente memória social e mecanismo mental aqui se conjugam. O geneticista busca o fio complexo que liga a memória social à individual, no arranjo peculiar de que o manuscrito dá indícios; e os elementos esparsos que compõem a imprevisível lógica do manuscrito. Assim, os manuscritos permitem acompanham a lógica de composição; o ato de criar, concernindo o texto literário; do silêncio inicial ao ritmo que a escritura persegue, entre rasuras, hesitações, variantes e retomadas, A aposta do geneticista é a recolha de elementos que permitam ver o texto em ação -- o manuscrito -- a partir da detecção das descontinuidades do processo de escritura. Este processo criativo pode bem ser explicitado nos manuscritos de Graciliano Ramos, de Gustave Flaubert ou de Guimarães Rosa. O presente artigo busca mostrar o quanto o estudo dos manuscritos acrescentam à compreensão do texto final.
Neste estudo, propõe-se uma discussão sobre a Literatura, enquanto disciplina, sua aplicabilidade nas práticas pedagógicas de professores em sala de aula de Ensino Médio. A título de ilustração, recorre-se aos recortes das leituras das obras: ‘Os sertões’, de Euclides da Cunha; ‘Vidas Secas’, de Graciliano Ramos; e ‘Grande Sertão: veredas’, de João Guimarães Rosa, uma vez que nestes textos, através do “poder da palavra” (GONÇALVES FILHO, 1988/2000), os autores evocam realidades que retratam o cenário de um Brasil marcado pela plurinealidade de formas de linguagem, comportamentos, valores e expressões dos sujeitos frente às adversidades de seu meio. Assim, a literatura possibilita o desenvolvimento da auto-reflexão, a criticidade; o questionamento e elucidação de princípios e regras sociais.
Este artigo busca reconhecer alguns pontos de tangência entre os romances Vidas secas, de Graciliano Ramos, As cidades invisíveis, de Italo Calvino, e Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa, sobretudo no que respeita às relações modalizantes entre literatura e meio ambiente. Em meio à diversidade temática das obras indicadas, subjaz o tema da consciência ambiental, que, nas últimas décadas, vem recebendo a crescente adesão não apenas de ambientalistas, mas também de intelectuais, políticos, escritores. O foco na degradação ambiental, no alerta implícito acerca das precárias condições de vida futura em nosso planeta revela um dos nucleares e contundentes problemas a desafiar a agenda contemporânea. Nesse sentido, revela-se paradigmático o “lugar-sertão” rosiano, que, ao difundir seu território, seus valores e denúncias, patenteia uma concepção ambiental inovadora e reticular, em estreito diálogo com as atuais pesquisas interdisciplinares sobre o tema, as quais deveriam doravante guardar, em seu horizonte de expectativa, os paradigmas, as perspectivas e os equacionamentos que alicerçam as artes em geral e a literatura em particular.