Este artigo enfoca um episódio de Grande sertão: veredas, de Guimarães Rosa, no qual o protagonista Riobaldo, então denominado Urutu-Branco, encontra um leproso e sofre a tentação de matá-lo afim de, como ele próprio afirma, "emendar o defeituoso". Esse episódio é exemplar quanto à tematização da culpa relacionada ao corpo; sua análise possibilita inserir esse tema na questão central de Grande sertão: veredas, a da existência (ou não) de Deus e do Diabo.
Este ensaio busca verificar como Guimarães Rosa, em Grande sertão: veredas, um dos mais importantes romances da literatura brasileira, elabora sua narrativa utilizando-se da tradição regional e da moderna.
NESTE ENSAIO, A AUTORA ANALISA PROVÉRBIOS E AFORISMOS PRESENTES EM GRANDE SERTÃO: VEREDAS, DE GUIMARÃES ROSA, E EM JOÃO VÊNCIO: OS SEUS AMORES E NÓS, OS DO MAKULUSU, DE LUANDINO VIEIRA, ENQUANTO FORMAS TIPICAMENTE ORAIS APROPRIADAS PELO GÊNERO ROMANCE, REVELANDO SUA FUNÇÃO ESTRUTURAL NOS TEXTOS E OS MODOS DE SUA APROPRIAÇÃO PELA ESCRITA.
“Na terceira margem do rio”, de Primeiras estórias, o ato radical de um homem que se muda para o meio do rio interroga a normalidade e incita o filho a seguir o mesmo percurso, lançando-se ao mesmo paradoxo: partida e permanência num não-lugar. O mito, inillo tempore, revém mediado nessa narrativa sob uma tônica trágica, quan do o homem não é dono de seu destino. O trânsito para essa terceira margem suspende a História, sem reverter, entretanto, uma situação sem saídas: a revelação mítica de uma outra esfera do real surge com o reposição de impasses e paralisia. Simultaneamente, para além das angústias pessoais daquele que não consegue seguir um caminho que se lhe a presenta obscuro e terrificante, o desenho de gestos análogos a ritos que não se completam parece apontar, no conto, para um contexto mais amplo.
O presente trabalho, resultado parcial da pesquisa que desenvolvo em meu Mestrado, vem abordar alguns questionamentos sobre a leitura que acredito serem intrínsecos a Grande sertão:veredas. Através de uma analogia entre o narratário, ou seja o visitante para quem Riobaldo conta sua história, e o leitor empírico da obra, abordo o romance rosiano como uma narrativa que reflete metalinguisticamente sobre a problemática da leitura. A partir dessa idéia, passo a a nalisar que tipo de leitura nos propõe o protagonista do romance.